sábado, 30 de janeiro de 2010

A esquina mágica



Exibir mapa ampliado

Respondendo à Roberta que me perguntou porque eu escolhi esta região para morar, estou aproveitando e postando aqui para os interessados.
O bairro se chama Montcalm. É um bairro residencial e é estratégico do ponto de vista de locomoção e serviços. Não posso generalizar muito para o bairro. Falo mesmo da região onde estou morando agora temporariamente e que fica a 600 metros de onde vou morar.
Vou morar a 1 quarteirão de uma esquina que tem um supermercado, uma farmácia, uma loja de conveniência de um posto de gasolina que é um mercadinho e tem um ATM (caixa eletrônico) do Banque National (conveniado ao HSBC e não pagamos taxas para sacar) e tem a parada dos metrobus. Os metrobus #800 e #801 vêm da ponta oeste da cidade até o centro e um continua para leste, enquanto o outro vai para o norte. A frequência deles é absurda. Chegam a passar a cada 3 minutos. Eles voltam pelo mesmo caminho e em 10 a 15 minutos estamos na Universidade Laval, nos 3 grandes shoppings que ficam vizinhos um do outro, na Canadian Tire que fica a 2 quarteirões deles e no HSBC que fica enfrente a eles. Indo para o centro, chego a 1 quarteirão do trabalho também em uns 15 minutos. Ainda não vi engarrafamento e olhe que trabalho no centro!
Além desta artéria importante que é a boulevard René-Levesque, também tem linhas de ônibus interessantes nas outras artérias oeste-leste que são a rue Grande Allee que fica a 300 metros dessa esquina, e na chemin Sainte-Foy, que fica a 400 metros de lá, mas na direção oposta. Também podemos pegar lá quase na chemin Sainte-Foy o metrobus #802 que segue outro trajeto diferente.
O MICC (ministere de l'immigration et communautes culturelles) fica a 400 metros dessa esquina mágica, na chemin Sainte-Foy e, apesar de ainda não ter ido lá, o Régie de l'assurance maladie fica a uma distância que dá para ir à pé também. Tem uma escola com uma garderie/creche vizinha a 1 quilômetro do meu apartamento e outra um pouco mais longe, mas me disseram que o ônibus escolar leva e trás as crianças de casa para a escola de graça, assim como a escola que é pública. Basta avisarmos.
Enfim: Para o dia a dia, não preciso nem de carro e não vou ficar esperando muito tempo no frio. Normalmente ando sentado nos ônibus e nunca fiquei apertado nos horários de pico.
    Québec é uma cidade maravilhosa e que não tem os problemas de cidades grandes, mas tem de tudo. Até porque aqui é a capital da província. Montréal é interior :) O ponto que talvez alguns não gostem é que neva mais, tem mais vento e, por isso, sente-se mais frio, apesar da mesma temperatura nominal de Montréal e de Toronto.
    Segue o link do Google Maps mostrando a esquina mágica.
http://maps.google.com/maps?f=q&source=s_q&hl=pt-BR&geocode=&q=1000+belvedere+quebec+qc&sll=46.796975,-71.239085&sspn=0.00758,0.013797&ie=UTF8&hq=&hnear=1000+Avenue+Belvedere,+Sillery,+Communaut%C3%A9-Urbaine-de-Qu%C3%A9bec,+Qu%C3%A9bec,+Canad%C3%A1&ll=46.795946,-71.239343&spn=0.014367,0.027595&z=15
    E a visão da escola vizinha à garderie:
http://maps.google.com/maps?f=d&source=s_d&saddr=Avenue+Belvedere&daddr=Avenue+Brown&hl=pt-BR&geocode=FQ8LygIdhADB-w%3BFREkygId3QTB-w&mra=cc&dirflg=w&sll=46.797415,-71.236596&sspn=0.01516,0.027595&ie=UTF8&z=15&layer=c&cbll=46.80227,-71.236414&panoid=XmsagW7PenABwZfKiDV1ww&cbp=12,118.92,,0,8.92

Frente fria do Ceará


Frette

Chegou por essas bandas uma frente fria que veio do sul. Acho que veio do Ceará. A temperatura agora caiu... caiu não. Despencou. Vai passar uns dias assim, mas me disseram que não fica muito tempo nesse patamar.
A noite de anteontem para ontem teve muito vento e neve. Os monstrinhos (caminhões) de déneigement/remoção de neve passaram a noite e madrugada raspando a neve do asfalto para a lateral da pista e soltando sal e areia. O sal baixa o ponto de fusão da água e faz com que a neve da pista derreta. E a areia aumenta o atrito e diminui a patinação dos carros. É por isso que a neve e o gelo ficam marrons, dando um aspecto de sujeira.
Pois bem. A manhã de ontem foi diferente. Fui fazer uma tarefa doméstica que não fazia desde quando saí do Ceará: déneigement da escada de entrada e da varanda de trás do apartamento. A pá é imensa, mas a neve não pesa muito. Moleza! Fiquei com dúvidas em relação a onde derrubar aquela montanha de neve porque tinha uns carros perto das varandas. É porque sempre a relacionamos com a areia, que é o mais próximo que conhecemos. Mas quando a neve caia, o vento a espalhava muito. Matuto é matuto.
Fazia -16 graus com sensação térmica de -24 graus, mas como diz o leitor César: ... e a vida continua.
O porém é que como eu tinha feito algum esforço físico, meus pés suaram e ficaram frios.
Ao fim do trabalho, criei coragem e fui conhecer a Canadian Tire e comprar umas roupas nos 3 shoppings de Sainte-Foy que ficam a uns 200 metros de lá. A diferença para se viver com esse patamar de frio é que temos que turbinar o kit de inverno e/ou passar menos tempo na rua.
No meu caso, o máximo do kit de inverno foi o seguinte: Secar bem os pés e entupi-los de talco. Usar as meias de lã de esportes de inverno e as sintéticas por cima (lembrando: Algodão não!); Sous-vêtement/ceroulas por baixo da calça jeans, camiseta de mangas curtas são suficientes, suéter ou blusão grosso por cima e o super manteau/casaco como terceira camada; Gans/luvas de tecido (opcionais) com luvas grossas impermeáveis por cima; Cachecol no pescoço e gorro de malandro na cabeça (aqui todo mundo é malandro) com o capuz do super casaco, de preferência ajustado para ficar mais fechado.
Com esse aparato, pude enfrentar além do frio extremo, as rafales/rajadas de vento de 55Km/h. O magro véio aqui só não saiu voando porque tinha colocado umas pedras de calçamento na mochila!
A Canadian Tire, apesar do nome, tem de tudo. É imenso e tão variado que não vale nem a pena eu tentar descrever.
Dois quarteiõezinhos da parada até lá, depois dois quarteirõezinhos até o shopping, depois atravessar a boulevard (avenida que tem canteiro central) até a parada é tranquilo com este frio. Principalmente porque essa parada de volta para casa é uma das poucas que são aquecidas ;).
Hoje, amanheci com espírito aventureiro extremo. Nem me reconheço, pois era muito medroso para esse tipo de aventura. Hoje, apesar do "solzão" que apareceu, fazia -20 graus com sensação térmica de -34 graus!!! Pancada! Um dia perfeito para ficar deitado na caminha quente, não é? Mais meu lema agora é: Faça chuva congelante, faça sol polar, eu estou na rua. Resolvi ver os eletrodomésticos que um cara anunciou. Geladeira, fogão (os fogões daqui são elétricos e não a gás), lavadoura e secadoura por 800$ tudo. Somando os novos, daria uns 2500$ a 3000$. E no final das contas, estão pouco usados, em bom estado e o cara ainda vem deixar em casa! Evitou a dor de cabeça de eu ter que alugar uma caminhonete para dirigir pela primeira vez na neve, e conseguir gente para fazer musculação.
Pois bem, fui no Trajecto, a ferramenta da companhia de transportes daqui para ver o... trajeto! Anotei o esquema cujo percurso era mais simples e curto e quando vi o horário, faltavam só 6 minutos. Se não pegasse esse metrobus, o próximo me faria esperar muito mais que 11 minutos para pegar o seguinte. E como estava frio para burro (depois vão perceber que o burro era eu), sai às carreiras. Peguei o ônibus bem na hora e fiz a "conexão" na boa.
Até então, estava funcionando o lance de pedir para o motorista me indicar onde fica a parada certa. É assim que fazem aqui. Desci onde ele me disse e procurei a rua de referência. Nada. Nem para lá, nem para cá. Derrepente me vi sem saber onde estava, sem saber para onde tinha que ir, e a -34 graus. Sem panico! Pense! Eu conhecia a linha que voltava pelo mesmo caminho, logo, poderia desistir e voltar para casa. Não!!! Sou brasileiro e não desisto nunca! Teimooosso! Primeiro de tudo, entrei na loja de conveniência do posto para ver o que pudia fazer em um local aquecido. Lá, ninguém achava as ruas nem no mapa, nem na lista. Até que uma mulher que estava fazendo compras disse que ficava para lá, e que tinha que pegar o ônibus. Sabendo que ficava para frente, finalmente achei no GPS do celular enquanto esperava o ônibus. Até que percebi que essa linha não era muito badalada e que em um dia de sábado, poderia esperar algo como uma hora. Liguei para o cara para avisar do que tinha acontecido, já que aqui os atrasos são mal vistos e decidi ir andando. Andar esquenta e ficar parado esfria. Foi só uma caminhadazinha de uns 2Km no frio polar! Fiz uma parada em um restaurante para me aquecer, aproveitar o banheiro e tome rua novamente. Boa dica essa da parada para aquecimento. Cheguei na casona do cara e valeu a pena. Ele me deu carona de volta e ainda vai deixar os eletrodomésticos no meu apartamento.
Enfim: Dá para encarar o frio, reforçando o kit de inverno e passando pouco tempo na rua. Mas se quiser aproveitar o carnaval daqui por horas, tem kits mais potentes. Existe, por exemplo, uns saquinhos com areia térmica que quando abertos e chaqualhados, dão até 12 horas de aquecimentos dentro das luvas e botas. E existem outros materiais e roupas para para praticar esportes de inverno nessa temperatura e durante horas a fio.
Tá bom! Já escrevi demais para um post! Até.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Uma imagem vale por mil palavras

Mas as flores têm espinhos - Procurando um apartamento para alugar



Jour de neige

Para não ser notificado pelo Decon/Procon por fazer propaganda enganosa, vou contar também alguns aspectos ruins daqui, afinal, quem pediu meu passaporte não foi São Pedro, ou seja, aqui não é o céu.
Não, senhores e senhoras, não vou reclamar do frio porque a temperatura baixou de zero para -5 novamente e ficou uma maravilha outra vez! Com zero graus tive até que tirar gorro, cachecol, abrir o zíper do casaco até o fim  e trocar as luvas pelas finas para não derreter de calor! E não estou falando de ficar em ambientes aquecidos e sim da rua. Nos ambientes aquecidos, não aguento ficar nem com o suéter por cima da camisa (de manga curta). Ô gente! Vim de Fortaleza! Quente pra caramba, lá!
Estou falando de coisas que já sabia que iria encontrar e, como já estava preparado com as piores espectativas, não me decepcionei. Pelo contrário, não contava com a parte boa e me surpreendi.
Pois bem, estou na fase de alugar um apartamento e vi que realmente existem barreiras. Um apartamento que simpatizei foi alugado logo e nem deu tempo de visitá-lo. O outro, a imobiliária não me aceitaria porque eu não tenho um histórico de crédito para eles examinarem, pois sou recém chegado. Eles disseram que só com um fiador canadense. E olhe que já tenho um emprego e conta no banco com um dinheirinho bom! Imagine quem chega desempregado, que é o caso da grande maioria. Sem pedir, já se ofereceram para ser meu fiador porque os brasileiros daqui são muito solidários. Depois, me disseram que isso é uma prática ilegal, mas que alguns escritórios fazem, assim como pedir cheques adiantados como garantia. Não achei isso na legislação imobiliária (Régie du Logement http://www.rdl.gouv.gc.ca/) para comprovar. Se alguém achar, me avisem para eu divulgar, por favor.
Mas foi até bom, porque achei um apartamento maior e mais barato. Fui ao escritório e preenchi uma ficha com dados pessoais, profissionais e referência bancária. Amanhã (para mim, porque no Brasil já é amanhã) vou ver se a pesquisa deles me aprova ou reprova.
Para referência de custo, é um 5½ (três quartos, sala, cozinha e banheiro. 3+1+1+½) que fica em uma região nobre, muitíssimo bem localizada. Fica a dois quarteirões do metro que não é metro, mas é como se fosse (Metrobus), da farmácia, do supermercado, posto de gasolina, caixa eletrônico conveniado do HSBC, perto de duas escolas e entre as principais artérias que cortam essa parte da cidade, de oeste a leste. Isso por 845$/mês. E opcionalmente podemos alugar uma garagem fechada com portão elétrico por 45$/mês.
Também já tinha acumulado o registro de duas ocorrências de pessoas vasculhando a lata de lixo, embora os pobres daqui tenham uma renda paga pelo governo, subsídio de moradia e recebem comida de graça. Morrer de fome e de frio, não morrem. Eles procuram latas e garrafas porque aqui o dinheiro desses recipientes é devolvido em máquinas nos supermercados. E hoje vi o primeiro pedinte. O cidadão veio muito educada e humildemente me pedir dinheiro e também não insistiu quando disse que não tinha. Me disseram que não devemos dar porque a conta já está paga pelos impostos.
E apesar de gente que mora aqui há uma década nunca ter ouvido nenhum relato de assalto, furto tem. se deixar a bicicleta de bobeira na calçada sem cadeado, pode acontecer de ela mudar de dono. Aí também já é pedir demais, né!
Enfim: Não o céu com sexo e ainda mais sem camisinha. Quem vier com espectativas altas pode ter decepções. O melhor é se preparar para as dificuldades sem contar com o lado bom e ter uma boa surpresa como o que aconteceu comigo.
Seguem as fotos de um charmoso e branquinho dia de neve com a agradável  temperatura de -5 graus.
Agora vou dormir meu sono de alta qualidade com a temperatura constante e com um silêncio ensurdecedor por causa do isolamento térmico.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Acho que está tudo normaaaaAAAA!!!!!! Ploft!!!!



Puie verglaçante

Alerta de pluie verglaçante/chuva congelante em Québec. É o que dizia o aviso do http://www.meteomedia.com/ há dois dias atrás. É um fenômeno raro que tive o privilégio de conhecer hoje. A chuva cai e congela ao entrar em contato com os objetos que estão com temperatura negativa. A temperatura vai ficar positiva por poucos dias e vai cair novamente. Não sabia como iria ser hoje, mas a vida continua normalmente por aqui. Quando sai de casa, prestei bem atenção. Escadas? Normal. Sequinhas. Neve na entrada? Como gelo, mas normal como sempre. Calçada? Escorrendo água, mas normal também. Aí pensei: Não teve nada diferente. Vai ver não aconteceu como alertaram. Baixei a guarda e desci calçada abaixo, já que a rua é inclinada, tranquilo. Quando fui fazer a curva para a direita em direção à parada de ônibus em formato de aquário, o pé direito deslizou feio para o lado esquerdo e não tinha mais o que fazer. Ploft!!! Ganhei minha primeira queda canadense! Agradeço à minha adolescência de skatista e às aulas de Aikido que ensinam a cair de forma suave, "redondo". Não doeu nada. Minto! Doeu no ego porque tinha duas mulheres na parada que ficaram preocupadas, perguntando se eu havia me machucado. O casaco é grosso e ajuda a amortecer também. Mas a dica é não andar com as mãos nos bolsos, senão acabamos batendo o cotovelo e pode machucar feio. 1x0 para a dona verglas.
Ao sair do ônibus perto do trabalho, me deparei com uma situação mais interessante. Continuava a chover, embora fraco, e tinha muitas partes das calçadas congeladas. Só que agora o inaugurado aqui já estava ligado e atento. Escorrega aqui, escorrega lá e parei. A calçada descia em direção à rua que tinha que atravessar. Esperei os carros passarem e desci quase um metro de skate virtual. Olhem, não existe algo mais escorregadio que gelo molhado. Nem chão ensaboado. Atravessei a rua um pouco apressado por causa da chuva e subi a calçada do outro lado. Só que também estava congelada. O metro que eu subi, eu desci escorregando novamente no skate virtual. E agora? Um quarteirão de subida e não dá para subir. E a chuva molhando a calça jeans! Percebi que o lance é subir pela rua mesmo, já que o pedestre tem preferência. Principalmente num dia desses. 1x1 agora! Ao chegar lá em cima, olhei para baixo. Quem cair na besteira de dobrar a esquina vai descer escorregando de tobogã e só vai parar em Montréal! Pensei.
À noite, quer dizer, 17h30/17:30h mas com tudo já escuro, ainda estava chovendo. Só então que percebi que 3 graus positivos é muito agradável. Tive até que abrir um pouco o casaco para não sentir calor. Palavra de pescador! Fiquei esperando o ônibus e não senti frio nem no rosto. De fato, quando fui visitar um apartamento, na volta não precisei nem de luvas, nem de cachecol. Acho que o nosso referencial de temperatura se desloca também. De fato, os québécois/quebequenses dizem que a temperatura está doce, em francês!
E por falar nisso, lembrei de duas dicas. A bota tem que ter um pouquinho de folga para ter uma camada de ar isolante. E também, não comprem meias com algodão pois ficam suadas e esfriam o pé. Como suo muito nos pés e nas mãos, estou usando talco para manter o pé seco e usando meias sintéticas. Pode ser de poliéster, acrílico ou outra fibra sintética, se existir. Lã é excelente, mas é cara. Tenho que fazer isso porque faz calor no trabalho. A temperatura fica entre 24 e 25 graus!
Só não tirei mais fotos porque ia molhar a câmera, mas dá para ver umas coisas legais nas que tem aí.

Minhas mancadas diárias


Cheguei para o gaúcho que trabalha na empresa e disse:
- A rata do dia de ontem foi...
- A o que?
- A rata do dia.
- Rata? Como assim?
-Desculpe. Rata é isso que acabou de acontecer. Uma mancada, só que no dialeto cearense.
E quase todo dia faço algumas. Eis uns exemplos.
- Cara, tem horas que tenho de falar algo específico com o pessoal da empresa e é uma dificuldade com o meu nível de francês.
- Ué! fala em inglês.
- Mas não estou falando da nossa equipe de desenvolvimento que é bilingue.
- Alexei, todos os funcionários dessa empresa falam inglês também. É requisito de contratação.
E a funcionária do HSBC me chamando se monsieur Agüiar (o som do u separado do i, como Agu-iar)? E eu nem aí, assinando meus 230 travellers cheques. Depois da segunda tentativa em vão, ela veio para a minha frente e só então percebi que era o meu sobrenome pronunciado por um francófono. Além do mais, nunca me chamaram pelo sobrenome.
Outra vez, estava vestindo o gorro e as luvas entre as portas interna e
externa do supermercado quando uma senhora veio guardar o carrinho de compras justamente onde eu estava. Pedi desculpas e fui para o outro lado. Eis que a porta interna não era de correr como a externa. Ela abriu na minha direção e estava ao lado de uma pilha de caixas. Fiquei segurando-a com o pé e ficamos brigando que quem empurra mais. Agora pronto! Vou ficar preso aqui! Depois de uns bons segundos, ela desistiu e fechou.
Quando vi o rio São Lourenço com as placas de gelo, fiquei tão embasbacado que nem percebi que o gelo perto da grade fazia uma pequena rampa um pouco inclinada. Quando pisei, o pé escorregou uns 20 centímetros em direção do outro e perdi o equilíbrio. Fiquei sambando no gelo com os dois pés até estabilizar. A galera que estava perto ficou rindo. E eu também, já que ainda não foi dessa vez que inaugurei minha pouca almofada glútea no chão daqui!
E tem pessoas que falam um francês mais enrolado de forma que não entendo, mas dizem que é só usar o contexto. Pois bem, estava sentado sozinho em uma das 6 cadeiras da mesa quando uma senhora apontou para uma delas e disse algo que não entendi nem mesmo uma só palavra. Bom, pensei que ela estivesse perguntando se poderia se sentar. Respondi que sim, mas para o meu espanto, ela se virou e continuou procurando cadeiras. Então percebi que ela deve ter perguntado se a cadeira estava reservada. Não funciona sempre. Já tinha acabado de jantar mesmo, me levantei e disse a ela que estava livre.
Na Zellers, uma loja de departamentos daqui, perguntei ao caixa se poderia tentar pagar com o cartão de débito temporário do HSBC, já que seria a primeira vez. Ele disse que sim e registrou a venda. Eu mostrei o cartão a ele e ele disse novamente:
- Sim, você pode.
E eu fiquei olhando para ele, esperando ele pegar o cartão, e ele parado estava, parado ficou. Depois de alguns segundos constrangedores, percebi que algo estava errado. Foi quando ele disse: Pode usar a maquininha!
Eu é que tenho que passar o cartão, confirmar o valor e escolher a opção CHQ de cheque que até hoje faço sem saber o porque, mas funciona!
No vestiário da empresa quando ia embora, a bota estava esquisita no meu pé. Até que percebi que naquele mar de botas, aquela não era a minha. Ainda bem que o dono não estava lá.
Da mesma forma, a chave não estava abrindo a porta porque estava no apartamento errado. Acho que só não chamaram a polícia porque não devia ter ninguém lá naquele momento.
Pior mesmo foi a de uma brasileira que disse para o chefe que iria "fouquer" no trabalho. Ele respeitosamente disse que não era aquilo que ela queria falar. Essa eu não cairia porque já havia suspeitado da pegadinha. Não existe cognato para o verbo focar em francês. Ao invés desse significado, eles entendem como sendo um anglicismo de to fuck, afrancesado como se fosse "fuckar" em português. Então, para o chefe, ela havia dito: "Eu quero f... no trabalho". Ainda bem que o chefe não entendeu como uma cantada.
O importante é não se grilar, pedir desculpas, rir da situação e se preparar para as próximas que com certeza virão.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Sejam benvindos à máquina do tempo


Vieux-Québec


Passada a semana de trabalho, virei turista novamente e finalmente conheci a Vieux-Québec (Velha Québec, a parte mais antiga da cidade), patrimônio histórico da Unesco. Ela foi a primeira cidade construida por europeus na América não hispanica, ainda no século XVI (usei algarismos romanos para ajudar a voltar no tempo), sendo descoberta em 1535. O primeiro assentamento fundado aqui pelos franceses é que deu o nome ao país, que vem de Katana, do idioma iroquoian dos nativos, e que significa assentamento, vila ou terra. Daí surgiu a Nova França que, depois de muitas guerras com a Inglaterra, acabou pertencendo a esta.
E a cidade respira história, desde o seu descobrimento e colonização, passando pelas guerras até os fatos mais recentes do Canadá dos dias de hoje. Pude ler um pouco dessa história em placas de bronze na Praça dos Bravos (passei rápido pela Praça da Batalha) e no Parlamento.
É chocante a volta no tempo quando entramos na cidade que é cercada de uma muralha que tem todo o aspecto da época medieval. Já havia percebido que a cidade tem grandes castelos de pedra, mas o Château Frontenac é absurdamente grande e magnífico. É o cartão postal da cidade que uso neste blog. Vocês vão ver nas fotos os canhões e até uma charrete que circula por aqui. E por causa dessas charretes e carroagens na época da sua fundação que algumas ruas ainda são estreitas, com casas em estilo europeu antigo.
Passada a muralha, volto para o presente bem atual mesmo. Mini-ônibus elétricos (Ecolobus) rodam por esta parte da cidade de graça para desestimular o uso de carros. Contrastando com eles, os grandes ônibus arriculados fazem a função do metro, atravessando a cidade com uma frequência de passagem nas paradas de até 3 em 3 minutos.
O carnaval daqui vai ser bem diferente do que conheço. Tirei a foto de um castelo de gelo, mas vai ter muito mais coisas construidas com gelo. Me disseram que até o copo usado nos bares é de gelo nesta época. E me deparei também com um campeonato internacional de salto de Snowboard.
Enfim: É muito legal fazer turismo em uma cidade com essa riqueza histórica e cultural, principalmente sem ter que gastar dinheiro viajando, já que agora moro aqui!
Apreciem as fotos.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Primeiras impressões depois de uma semana


D'autres photos de la première semaine


Passa da uma semana (na verdade, 8 dias), acho que está na hora de contar minhas primeiras impressões daqui. Algumas coisas que vou falar devem ser gerais em termos de Canadá, outras em termos do Québec (província) e outras particulares de Québec (cidade). Não posso dar precisão porque ainda não pisei nas outras cidades. Ainda!

Cidade: Québec é linda, mas a palavra que acho mais apropriada é charmosa. Principalmente estando branquinha. Tem um ar europeu (apesar de nunca ter estado na Europa) estando na América do Norte. O bairro de Vieux-Québec está na lista de patrimônio mundial da Unesco. Ela é uma cidade pequena (500.000 habitantes), que exclui os problemas de cidades grandes, mas tem muita coisa. Não é como cidadezinha do interior onde falta tudo, até porque aqui é que é a capital. Aqui neva mais que Montréal, que neva mais que Toronto. Oba! O ponto ruim que vi foi que a grande maioria dos imóveis é de madeira. Qualquer coisinha e incomodamos o vizinho de baixo.

Transportes: Não vi engarrafamento nenhum e olhe que trabalho no centro. O sistema de transportes é bom, tem linhas de metrobus (uma norte-centro-oeste e outra leste-oeste) que passam de 3 em 3 minutos e inclusive, a maior parte das vezes que ando de ônibus, vou sentado. Pagando uma passagem, podemos pegar um bilhete que permite fazer conexão com outros ônibus sem pagar mais. Só não pode usar para voltar. Tem um cartão eletrônico que podemos carregar por 70$ (ou perto disso) e rodar o quanto quisermos durante o mês. Tem gente que só encosta a carteira com o cartão dentro no leitor para fazer o registro.

Pessoas: Para a surpresa de muitos, o québecois/quebequense/quebequiense (ao menos daqui) não é frio, trancado e sério. Pelo contrário. São simpáticos, fazem piadas, são gentis, educados. Nunca me senti tratado diferente por ser imigrante ou por não falar bem francês. Pelo contrário. Tentam ajudar e em duas situações, perguntaram se eu falava melhor em inglês para facilitar. E facilitou! Procuro não falar em inglês fora do trabalho, por isso, não sei dizer se é fácil ou não encontrar quem fale inglês nas ruas. Uns me dizem que todo mundo fala, outros dizem que não é bem assim.
E para minha surpresa, aqui não é uma nação fast-food. No trabalho, as pessoas levam para lanchar banana (yes, nós temos banana!), maçã e cenoura com aipo, por exemplo. Eles comem saladas, cereais, nozes, frutas, cogumelos, peixe, frango e outras comidas saudáveis. Tem fast-food, claro, como em toda parte do mundo (excluindo as tribos do Xingu). Mas na máquina do trabalho que tem as latas de refrigerante, tem outras de sucos e tem uma coisa que é tipo uma sopa ou sei lá o que é. O reflexo disso é que não são gordos como os estadunidenses (americano é quem é das américas). Todo dia vejo gente correndo, mesmo com -8 graus. Também praticam outros esportes.
Alguém me disse que em Québec só tem velhos. Não tem nada a ver. Não notei nenhuma distorção, nenhuma diferença. Mas parece que tem mais gente que assume os cabelhos grisalhos que no Brasil. Por falar em cabelhos, tem muito maluco aqui. Outra vez, quando entrei no ônibus, dei de cara com um motorista de moicano bem alto e espinhento, com as laterais bem ralas. Tem mulher com cabelo pintado de azul e roxo, homens e mulheres com penteados emo, e por aí vai. O mais bizarro é um treco redondo nas orelhas que alargam um rasgo que chega a caber um dedo mínimo. Lembra os índios Txucarramãe. Imagino Montréal!
São ecológicos. A coleta do lixo comum é separada da coleta do lixo reciclável e feita por caminhões diferentes. Usa-se uma espécie de caixa azul de plástico para guardar o lixo reciclável chamada bac (ou quelque chose comme ça).
Aqui, muitas coisas se baseam na honestidade e na confiança. Se você não gostar do produto que comprou, já abriu e usou, eles nem perguntam porque e te devolvem o dinheiro. No meu trabalho não tem registro de ponto e cada um contabiliza a sua quantidade de horas semanais. Ainda é difícil para mim, mas me dizem que como chegou às 08h00 (formato de hora daqui) ao invés das 08h30 oficiais, posso almoçar em 30 minutos e sair às 16h00! Aí eu disse que era esquisito sair assim enquanto os outros trabalhavam. E me disseram que ninguém vai nem reparar, meu chefe não vai ligar porque é assim mesmo. A conta das 8 horas diárias não fechou, não é? Outra coisa que me disseram é que o regime de 40 horas semanais é padrão da matriz estadunidense (business, money, workaholic), que é "arredondado" informalmente para 35 horas semanais mais comum aqui (trabalhar para vier e não viver para trabalhar). Porém, trabalho é trabalho. Aqui a galera trabalha mais focado e rápido. Claro que dá para dar um tempinho para resolver alguma coisa particular, ou fazer uma brincadeira, mas não ficar a toa embromando ou papeando no telefone. Aliás, aqui eles usam telefones racionalmente. E o atraso típico brasileiro não é benvindo aqui.

Frio: É frio no inverno, e daí? Não vou gostar é do calor do verão.

Custo de vida: Estou achando mais baixo que o de Montréal, Toronto, Calgary e Vancouver. Aqui, com 1000$ por mês se vive em uma avenida importante, de um dos bairros mais nobres, em um prédio com piscina interna. Estou paquerando (calma Mônica! Leia o resto!) um apartamento que dá para ir ao trabalho a pé, um metrobus passa a 200 metros de lá e com ele, em 30 minutos chegamos ao extremo oeste onde ficam os 3 shoppings vizinhos, o HSBC e a grande Universidade Laval. Tem boa isolação acústica, duas vagas de estacionamento, varanda, fica no quarto e último andar, com elevador, construção recente, etc. Isso por menos de 800$ por mês com o aquecimento e agua quente inclusos.

Tá bom né, gente. Depois eu conto mais senão vira um livro e não um post. Vai de brinde mais fotos. Até.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Inverno ou inferno ?

Tenho muita coisa interessante para contar, mas acho que a prioridade para o nosso caro leitor, futuro imigrante é mesmo o inverno.
Não dá para dizer como vai ser com vocês porque é uma experiência extremamente pessoal, mas vou contar alguns aspectos para tentar lhes dar uma ideia.
Cheguei no meio do inverno, mas só peguei até -8º com sensação térmica de -15º. Vai esfriar mais de amanhã em diante e aí vou ver como fica.
O incômodo do frio é função basicamente de três fatores: Kit de inverno (roupas e acessórios), tempo de exposição e postura em relação ao frio.
Se tiver um kit apropriado, sente-se menos frio, senão, pode ser bem ruim. O meu casaco/manteau protege até a altura do nariz se eu fechar o ziper até o final. O capuz protege contra o vento de trás, mas não de frente. É um The North Face, que é uma marca boa e custou cerca de 200$ com os impostos (os preços daqui não incluem os impostos e concordo). Gostei muito dele porque tem vários recursos, ajustes e é duplo. São dois casacos, um dentro do outro. Se colocar com um suéter/pull por cima de uma camisa qualquer, não sinto frio no tórax.
Uso ceroulas/sous-vêtement por baixo de uma calça jeans ou de sarja. Também não sinto frio nas pernas.
As botas/botes são muito importantes. Comprei da Columbia por uns 100$. Tem 400gr de Thynsulate, que é um isolante térmico e impermeabilizante que deixa o pé "respirar" mas não molha as meias na neve. A indicação é para -43º, mas isso é bem relativo. Meu sapatenis cumpriu a função de chegar até o shopping, mas a neve em cima dele derreteu e molhou a meia, além de ser muito escorregadio para andar no gelo que fica nas calçadas. Não sentia frio nos pés também até começar a trabalhar. Isso porque no trabalho, faz uns 23º que é agradável, mas suo muito nos pés e nas mãos, logo, mesmo trocando de meia na volta, o pé suado fica frio.
Para as mãos, comprei luvas/gans grossas da Hotpaws. Não lembro exatamente, mas custou uns 30$. Ela esquenta bem, mas depois de muito tempo, passo a sentir um pouco de frio nas mãos. Talvez porque suo muito as mãos também.
Infelizmente o rosto fica mais exposto. Tem como cobrir o rosto com o cachecol, máscara de ladrão de banco, etc., mas nunca usei o cachecol para isso. Fica parecendo um ninja com o gorro. Só uso o cachecol e o gorro por prevenção, para não adoecer. O gorro cobre os ouvidos e também é baratinho. Estou usando um cachecol emprestado da Kanuk muito macio. Não sei quanto custa, mas vou tentar comprar dele. Acho que um cachecol normal custa uns 10$. No rosto, o nariz chega a ficar dormente e é normal ficarmos com coriza, já que as mucosas precisam de proteção.
Lembrando que não tenho nada de tecido adiposo, mas até agora não fiquei tremendo de frio. Com 0º, fui ao supermercado sem luvas, cachecol, gorro e de sapatenis. Mas as mãos chegavam geladas, claro.
Quanto ao tempo, atravessar a rua entre dois shoppings não precisaria de nada de frio. Só não faço isso parar não parecer um doido. Uma caminhada de seis quarteirões é tranquila para mim. É tanto que nas primeiras caminhadas entre a casa e as paradas de ônibus ou supermercado, achava sem graça e ia tirar foto das redondezas. Ao contrário dos metrobus que passam a cada 3 minutos, o que vai para o trabalho (que pego literalmente na porta de casa e desço a um quarteirão do trabalho) passa a cada 15 minutos. Ele é extremamente pontual. Ficar parado esfria mais que ficar andando, então 5 minutos parado me dá uma sensação de mais frio que 20 minutos andando (já andava rápido por costume). O vento faz muita diferença. Dá um tapa no rosto. Por isso as paradas são aquários de vidro e umas poucas são grandes e têm até aquecimento.
E o último fator é totalmente subjetivo. Tem gente que dá muita importância a desconfortos. Esses vão sofrer, porque é um prato cheio para reclamações. Já eu, estou tirando o inverno de letra porque sou masoquista. Estou com saudades das dores nos dentes do aparelho ortodontico que usava. Realmente para quem puder, é muito recomendável vir aqui no inverno para saber se vai tolerar passar a vida aqui ou não.
No mais, tem outros incômodos como o trabalho de tirar e colocar o kit todo. Eu me incomodo é com o calor que faz se não tirar o casaco e o suéter nos ambiente aquecidos. Os canadenses não ligam para isso, não sei como. Outro incômodo é patinar sem patins. Aqui em Québec, neva muito e às vezes, passo um quarteirão todo andando no gelo. Em alguns lugares e em algumas situações, fica uma camada de gelo sobre a calçada e escorrega muito mesmo. Estou falando de gelo mesmo como os cubos do congelador e não de neve. Ainda bem que andava de skate quando era adolescente. Me deu equilíbrio para passar por isso, mesmo nas ruas inclinadas.
No mais, nos shoppings, no trabalho e nos ônibus, faz uma temperatura boa. Em casa, para mim, 20º incomoda um pouco os pés e as mãos, mas 23º fica bom. Se o aquecimento for comum e não for regulável, parece que podemos usar aquecedores elétricos para complementar.
Moral da estória: Estou adorando chutar os montes de neve, todo dia eu saio, faça neve (bem comum), faça sol (muito pouco), e não conto o inverno como ponto negativo. Mas outros vão achar bem incômodo sim e podem colocar em cheque a decisão de morar aqui. Cada um é cada um.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Fotos dos primeiros dias



Primeiros dias

Premier jour de travail


Pessoal, estou acumulando muita coisa para contar e tendo pouco tempo para escrever. Quando às fotos, estou colocando aqui as fotos tiradas do celular enquanto preparo as tiradas com a maquina (ainda nao aprendi a usar acentos neste teclado maluco) de vergonha. Quanto mais eu vejo a cidade, mais maravilhado fico. A Branca de Neve (como estou chamando Québec) é mesmo muito bonita e charmosa.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Eu posso te mandar de volta ao Brasil agora mesmo! Parte 2

Depois fui pegar as malas. Como estava entrando com mais de 10.000$, segui para alfandega/aduana/customs/douane. Lá, já começei pagando o primeiro mico. estava com uma mala pequena, uma grande, a super mochila Tabajaras e a pasta de documentos. Quando tirei o formulário de muamba, faltou mão. Então, eu o segurei temporariamente com os lábios.
-Ei! Não bote na boca! Eu vou pegar nele!
-Desculpe, desculpe!
-OK
Ao contrário do que fazia com os outros, ele não reteve o formulário e me encaminhou para uma sala. Legal é que o aeroporto é bem grande e às vezes saimos por um lado diferente do que entramos, então, é bom perguntar para onde fica o próximo passo, senão perdemos tempo por causa do tamanho do aeroporto. E quatro horas de conexão podem não ser suficientes, caso tenha que fazer tudo que eu tive que fazer e com as filas.

Chegando nesta sala, o cara tirou a clássica dúvida do que colocar no formulário de Goods to Bring/Goods to Follow (bens de entrada/bens posteriores). Eu perguntei se deveria declarar as roupas e ele respondeu sorrindo que não. Apenas coisas de valor. Entendi como fiscalização antimuamba, já que a vizinha estava levando cachaça e outras bebidas em várias garrafas e o fiscal estava vendo até o conteúdo delas contra a luz. Ele também riscou a linha onde eu declarava dinheiro e disse que não era necessário declará-lo. Eu mostrei a relação das séries de travellers cheques bem organizadinha com os valores, totais, etc. e ele adorou pois tinha que preencher em um formulário e ficava mais prático assim. Aí, ele disse:
-Quatro celulares?!
-Cinco.
-É muito, não?
Entendi que estava fazendo uma insinuação e que mais uma vez, se o inglês e a humildade não estivesse sendo bem utilizados, poderia entrar em fria, mesmo com o aquecimento do aeroporto.

-A minha esposa trabalha em uma operadora celular e eu trabalhei também. E essas operadoras dão celulares para os funcionários.
-Ahh sim! Tudo bem.
Na saída, embarquei novamente as malas, simplesmente colocando-as em uma esteira. Ainda perguntei ao funcionário se elas iriam para o Québec mesmo. Ele disse que havia uma triagem baseada no número da etiqueta. E chegaram mesmo. A galera da lista disse que tem um aviso de que temos que colocar com as rodinhas para cima e que eles reclamam quando não o fazem. Nem vi o aviso, mas intuitivamente fiz assim mesmo. Oba! Menos um mico.

Saindo de lá, fui atrás do embarque para Québec. Li o cartão de embarque e não encontrei o número do treco de embarque. Realmente não tinha. Perguntei a uma funcionária e ela disse que era o treco 2 e escreveu somente 128 no cartão. Estou usando a palavra treco porque me esqueci o termo que ela usou. Quando subi, vi a indicação de terminal 1. Andei um bocado e achei o 3. Então perguntei ao faxineiro onde ficava o terminal 2. Ele disse:
-Foi desativado. Não existe terminal 2.
Ué!! E agora? Depois que percebi que 128 era o número do portão de embarque. Putz ! O aeroporto de Fortaleza só tem 6 portões de embarque, como é que eu ia saber que no aeroporto de Toronto a numeração vai até 136?! Depois de andar uma eternidade, achei-o no final do final de um corredor. Interessante que vi dois carrinhos motorizados levando pessoas com dificuldades de locomoção, com motoristas. Pensei até em pedir carona porque as pernas estavam cansadas.

Quando terminou tudo e fui sentar para descançar, já era 08:00h e o voo saia às 09:20h. Tentei usar a rede Wifi do aeroporto para ligar para casa do super Voip phone Nokia Tabajaras, mas não funcionou e perdi meus 6$ por uma hora de acesso. Acho que barram a porta do protoloco SIP. Tentei ligar do telefone da Bell que usa cartão de crédito (tem vários desses lá), mas ele disse que a operadora utilizada para esse destino não aceitava cartão de crédito.
O voo para Québec foi num avião Bombardier pequeno da Jazz/Air Canada. Tinha filas com 2+1 assentos, que é menos que os 2+2 do Boeing 737e Airbus A320. Tinha uma parte da parede do meu lado solta e também uma argola da cortina. A aeromoça deu um jeito na cortina. Dessa vez, os avisos eram dados primeiro em francês e depois em inglês, já mostrando a mudança de província. Como já era dia, pude ver que Toronto e o lago são muito grandes, vi a Sears Tower, e vi que só tinha umas sujeirinhas de neve. Era tão pouca que nem tinha percebido que era neve. Achava que era areia, já que não era tão branca.
Depois de tantas horas de voo, o trecho de uma hora até Québec foi moleza. Quando ficamos abaixo das nuvens, vi a cidade linda. Estava com tanta neve que apelidei-a de Branca de Neve.
Cheguei, peguei as malas rapidinho porque tinha pouca gente, e fui trocar as notas de 100$ que o super papai me deu. Na casa de câmbio, a mulher trocou uma por 5 notas de 20$. Sai para pegar um taxi. Nesta hora, ficou mais complicado, porque troquei o inglês que estava me saindo super bem pelo francês meia boca. Consegui me comunicar mas por segurança, mostrei o endereço escrito. O cara não era muito de conversa e eu sou mas, dadas as circunstâncias, só coube perguntar qual era o nome de uma avenida e depois se as pessoas de lá falavam inglês. Ele respondeu que todo mundo lá fala inglês. Dei um desconto na expressão "todo mundo" e fiquei feliz, porque não era o que eu pensava.
Na hora de pagar, dei duas notas de 20$ e nem conferi o troco que teve moedas. Não foi nem por confiança. É que as porcarias das moedas tem os número bem pequenos e escondidos. Temos que decorar logo para poder usá-las sem demorar e atrapalhar. Ele falou umas coisas que não entendi. Depois que ele saiu, lembrei do lance da grojeta/tip. Acho que o que ele tinha falado era que não tinha o troco exato e que ele iria arredondar para mais porque tinha me ajudado com as malas.
Finalmente, cheguei ao apartamento da Ana, que é uma brasileira que mora há 10 anos em Québec e que aluga um quarto do seu apartamento para os recém chegados. Aí, pude finalmente voltar a falar sem dificuldades em português e ter a segurança e o bem estar de um lar, embora não seja meu.
E vendo maravilhado a parte baixa da Branca de Neve até o horizonte a partir da janela do meu quarto que termino essa emocionante aventura com final feliz.

Ainda estou devendo as fotos. Calma! Vai já.

Eu posso te mandar de volta ao Brasil agora mesmo!

Saindo do avião no aeroporto de Toronto, pude ver que ele é muito grande. Fiz a filosofia de seguir a manada (muuuu!!). Tem umas esteiras móveis nas quais esqueceram de colocar a placa "veículos lentos à direita". Digo isso porque muitos brasileiros ficam parados, já que ela se move, e os canadenses passam voando.
Chegamos a umas cabines de não sei qual órgão. Neste, entregamos nosso formulário de declaração de muamba  que é entregue no avião. Não achei legal preenchê-la durante o voo e tive que a preencher enquanto estava na fila. Basicamente, dizemos de onde viemos, se temos objetos comerciais (mesmo que não os vendamos), se temos dinheiro a ser declarado, etc. Não tem uma categoria de imigrantes, mas temos que preenchê-lo como todos os outros. A mulher ficou olhando para o meu passaporte e para mim. Saquei logo: -É que eu cortei o cabelo.
Meu cabelo ia até o meio das costas e agora é curto. E ela:
- Notei.
Depois, segui para o birô de imigração. Que coisa esquisita: Vim do Ceará para ficar suando a camisa em uma sala que tem até ventiladores em pleno Canadá, no meio do inverno! Bizarro.
Pois, bem. Vocês devem estar curiosos para saber o porque do título deste post. Vamos lá.
Cheguei com a minha pasta super organizada, com tudo necessário para o procedimento de landing. Aí a funcionária perguntou o meu endereço para mandar o PR card. Mostrei o endereço impresso por recomendação da Ana (vou explicar quem é em outro post) porque eles poderiam não me entender por ser francês. Aí ela perguntou:
-O que é que você vai fazer no Québec ?
-Consegui um emprego lá.
-E cadê o seu &$#& ?
-Como ?
-Para ir ao Québec você precisa do &$#&.
-CSQ ?
-Isso.
-Não tenho.
-Você não pode ir ao Québec. Você não sabia disso? Você não pode trabalhar no Québec, nem seus filhos poderão estudar lá.
-Um amigo meu disse que o governo dá uma carta de aceitação do Québec que substitui o CSQ.
-E o seu amigo trabalha na imigração? O Québec é outra coisa. Eles têm lá as regras deles e tudo funciona diferente lá.
-Não.
-Eu posso te mandar de volta ao Brasil agora mesmo, e cancelar os seus vistos, sabia? Vocês vão perder tudo o que fizeram.
Fui pego de surpresa. Passei por malandro ou desinformado. Por causa disso, nem lembrei que fui à palestra da Soraya só para perguntar se tinha algum problema e ela me disse: "Sem problema. basta fazer a conexão em Toronto e pronto. É previsto esse movimento entre os dois processos". E a Soraya é da imigração do Québec.
-O que eu faço agora então? Cancelo o voo e me estabeleço em Toronto como o meu planejamento inicial?
Disse isso mais estava imaginando perder o bom emprego e fazer um baita improviso de planos na hora. Não tinha nem o telefone de ninguém de Toronto.
-Se eu te liberar, como vou saber se vais ficar em Toronto e não vais trabalhar ilegalmente no Québec ?
Então ela se levantou e foi conversar com outro funcionário. Depois de bons segundos de expectativa, na volta ela disse:
-Vou te liberar mas não vais poder usar este endereço para o PR card. Quando você resolver este problema, mande o endereço neste formulário para você poder receber seu PR card. Enquanto isso, não vais poder sair e voltar ao Canadá por causa da falta dele. Vá tratar desse problema com o governo do Québec para resolver a sua situação senão não vais poder nem trabalhar nem seus filhos poderão estudar lá.
Pedi mil desculpas pelo transtorno e agradeci muito pela liberação, mas muito chateado por ter passado por isso, me sentindo culpado. Ainda não lembrava do que a Soraya tinha dito.

Quando cheguei aqui em Québec, fui logo à tarde ao MICC (Ministère de l'Immigration et des Communautés Culturelles) que, por sorte, fica a um quarteirão daqui. Já a funcionária de lá, muito simpática, explicou o seguinte: O CSQ é só um documento para a etapa de seleção do processo que lhe dá o visto de residente permanente. Se você já tem o visto, não faz sentido falar de CSQ. Você pode fazer tudo o que um residente permanente tem direito, tendo ou não o CSQ. A única diferença é que durante o primeiro ano, quem tem CSQ vai ter direito ao subsídio do Québec nas universidades, se você ou a sua esposa quiserem estudar, e você vai pagar como alguém que mora em outra província. A exceção desse ponto, vais ter tudo igual a quem tem o CSQ.
Poxa, passei por essa situação toda de graça! Um susto desgraçado! Ficou parecendo que fui vítima da rixa entre o Québec e o resto do Canadá.

continua...

sábado, 16 de janeiro de 2010

Pulando a linha do Equador sem dormir

Desculpem a velocidade das postagens, mas é muita coisa para contar em pouco tempo que estou tendo aqui. Vocês sabem, né: passear, conversar sobre os maçetes, fazer compras no shopping, tirar fotos...he, he, he. Essa moleza vai já acabar!

O voo da Air Canada saiu às 22:30h (horário local) e estava cheio. Percebi logo que já estava em território internacional. Muitas conversas em várias línguas. Ao meu lado, sentou um cara da Arábia Saudita que estava estudando em uma universidade de Vancouver. Aliás, quase todos os brasileiros que tive contato estavam indo para Vancouver. Conversamos um bocado em inglês. Foi bom porque serviu de aquecimento para Toronto.
A viagem é realmente muito longa. Principalmente para quem não consegue dormir. 10 horas de sono, é como se fosse uma viagem curta, mas para ficar acordado, é outra coisa. Fiquei no assento do meio e não consegui nenhuma posição que fosse confortável o suficiente. Talvez no assento vizinho à janela pudesse escorar a cabeça, mas não pude escolher o assento. Quando cheguei aqui, vieram me dizer que a "boia" que eu havia visto era um apoio para a cabeça que colocamos no pescoço, justamente para este caso.
O avião é bem grande. As filas tinham 3+3+3 assentos. Cada assento tem uma tela sensível ao toque com menus. Tem filmes (inglês, francês e achei um em espanhol), programas, músicas, indicações de viagem, etc. Tem também um conector que me pareceu ser USB. O meu vizinho disse que podemos colocar nossos próprios vídeos e músicas. Não garanto a informação! As aeromoças e os aeromoços são muito educados e simpáticos. Achei interessante que ao menos uma aeromoça falava português e alguns anúncios também eram feitos em português.
Serviram um jantar de avião. Comi um frango com não lembro o que, com uma salada de mamão com melão e tinha um pãozinho. No café da manhã, perguntavam se queriam $%*&#@# ou @*#$*#. Depois entendi que a segunda opção era scrambled eggs (ovos mexidos) e que a primeira era uma nome que não conhecia e que não lembro agora. Parecia com cheese. Pedi este segundo e quando comi, perbi que era um tipo de omelete aerado com queijo. De tempos em tempos eles passam perguntando se queremos beber algo. Certa vez, perguntei que horas eram e percebi que não basta. Tem que dizer de onde porque Fortaleza está com fuso-horário GMT-3, São Paulo com GMT-2 por causa do horário de verão e Toronto com GMT-5. No meio da madrugada, apertei o botão de chamar a aeromulher (a maioria tinha cabelos grizalhos, logo...). Quando ela veio, já estava com a garrafa e o copo adivinhando que era isso que eu queria.
Chegamos em Toronto às 05:30h (horário local) com -3º e como estava escuro, não deu para ver direito como é.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Corre, corre, corre e... espera, espera, espera

Após umas 4 horas de viagem, eis que chego a São Paulo, no aeroporto de Guarulhos. Mala é mala. Realmente enche o saco. Eu estava com uma mala pequena e uma grande que adiantará algumas roupas da Mônica, além das minhas. Mas me arrependi. Dá muito trabalho e cansa. Usei o carrinho só até a escada rolante, já que ele não pode subir. E ainda não entendi porque tive que pegar as duas malas e despachá-las novamente, se a viagem toda foi comprada da somente da Tam.
Lá no outro lado do aeroporto ficam os balcões das companhias aéreas internacionais, incluindo o da Air Canada. Cheguei no fim da fila, e perguntei com um sotaque bem puxado: -Air Canada? E a jovem respondeu: -Yes. Jurava que ela era canadense e estava voltando. Pois quando puxei conversa com o casal de brasileiros que estavam atrás de mim, ela começou a falar em português com um sotaque estranho. Eu perguntei de qual país ela era e ela disse: Bah! Sou gaúcha! Tá explicado. O casal que estava atrás de mim ia visitar a filha em Québec também, mas o voo deles de Toronto para Québec saia mais cedo.
Após o despacho de bagagens e checkin, a atendente disse que era bom eu já embarcar. Quando eu disse que ainda tinha que entregar a Declaração de Porte de Valores na Receita Federal, ela disse: -Pois eu acho bom o senhor correr. -Mas o voo só sai às 22:30h! E ela disse: -Mas é voo internacional, com raio x, Polícial Federal, etc.
Lá vou eu apressado para resolver isso. Do bureau da Receita Federal, me levaram para uma outra sala e lá eu apresentei a DPV impressa a partir do que foi preechido pelo site https://www4.receita.fazenda.gov.br/dpv-viajante/SelecionarIdioma.do. A atendente pediu para ver os travellers cheques mas não os conferiu. Aliás, ninguém pegou neles ainda. Nem eu. Depois desse correria, cheguei no portão de embarque e ainda faltava muito tempo para o embarque, mas ficaria apertado se fossem menos de que as quatro horas de conexão que tive.

Despedida sem choro e com risos

Não poderia ser melhor, não é? Era o que eu sonhava, e foi o que eu tive. Qual a receita? Não faça uma despedida formal e junte no aeroporto pessoas brincalhonas. Eu, meu pai, meu irmão Iuri e os dois colegas de trabalho Édson e Thiago ficamos fazendo piadas da situação e pronto! Taí a receita de uma despedida alto astral. Quando fui embarcar, um beijo na Mônica, na Lara e no Davi, um abraço em cada um, um aceno, vários sorrisos e uma despedida sem o clima de perda.
O aeroporto Pinto Martins estava muito quente. E a ponte que nos leva até o avião, pior ainda. O voo saiu de Fortaleza por volta das 14:00h do dia 14/01/2010.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

1, 2, 3 e já!

É hoje!! Às 14:00h sai o meu voo (agora sem acento) para a nova vida. Estou passando aqui rapidamente só para dizer que estou bem de saúde e de cabeça para pular a linha do Equador e, por assim dizer, preparado.
Também para agradecer toda a força, o carinho e a atenção de todos vocês que fazem essa grande família de imigrantes brasileiros que se unem fortemente pela superação do desafio comum.
Valeu galera e prometo relatar o máximo que puder quando estiver lá.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Passaportes ? Ahh sim ! Chegaram hoje !

E precisamos de passaportes e visto para morar no Canadá ? Viajo daqui a cinco dias e só agora que vim ver os passaportes com o visto e o resto que vem no envelope. E olhem que só deu tempo porque conseguimos um amigo em São Paulo para retirá-los no consulado em enviá-los via Sedex. Se fosse via remessa comum, que é com que o consulado trabalha, demoraria ao menos uma semana. Deu trabalho contactar o consulado para explicar a situação, mas a Maura respondeu o email que enviei para o consulado (endereço da página deles) e me ligou quando eles foram expedidos. Fiz esse procedimento por orientação do Walter.
Foi algo imprevisto e ajustado de improviso porque um amigo nosso daqui que os enviou antes de nós já estava com eles desde o ano passado (como se fosse há muuuuito tempo !).
Bom, mas vamos ao que interessa que é explicar o que vem no pacote. Primeiro de tudo, claro, os passaportes com o visto. Este é um adesivo colado em uma página do passaporte, meio plastificado, com holograma e parece a folha de identificação do mesmo. Vieram quatro páginas de instruções explicando detalhes já conhecidos como a validade, mas também novidades como o formulário de registro de vacinas das crianças. Este precisa ser preenchido e assinado por algum profissional para que a criança possa entrar na escola, mas deve ser apresentado no landing (procedimento de entrada no país). Vem também um formulário grande e em três vias com nossos dados que é o CPR (Confirmation of permanent residence)  que será utilizado para muitas finalidades após a entrada no país. Só devemos o assinar quando pedido e, entendi que não devemos preencher nada dele, só conferir.
Agora vai ficar mais difícil ficar achando imagens ou fotos legais para os posts por causa da agonia do prazo apertado. Vou ficar devendo e talvez depois o faça.
O dia está chegando e ainda falta muita coisa !!!
Emoção pra valer !!!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Jogando as recordações de uma vida no lixo


Tirei o dia de hoje para fazer uma triagem do pouco que vou levar para o Canadá, do que alguém vai aproveitar e de muito que vai literalmente para o lixo. Foi um latão de lixo lotadão de objetos e documentos que contam a minha história.
O que dá uma sensação de perda não é o objeto em si, mas a história e emoções que estão associados a eles. Dou só alguns exemplos de alguns lixos que tem valor sentimental: O videocassete que foi presente de casamento dos amigos do trabalho; O CD Player de inauguração da era CD que usava em um sonzinho adaptado (gambiarra) para não deixar meu irmão quebrar. No mesmo dia em que eu liguei no som da sala, o "maninho" afundou a tecla play que ela caiu; As medalhas de tiro, sendo uma de primeiro lugar da categoria iniciante; O certificado do curso de natação da Escola Técnica que me recorda o treinamento puxado da equipe de natação, da sensação ruim de cair na água gelada cedo da manhã e andar mais de 2 Km de volta para casa quando esquecia o dinheiro do ônibus.
Dentre os objetos que vão ser doados para amigos, o teclado e o violão, até que não vão ser difíceis de me separar, mas a guitarra... Tenho essa guitarra desde adolescente. Toquei em algumas bandas e fiz algumas apresentações com ela. Cheguei a deixar uma outra guitarra de marca famosa (Ibanez) de enfeite no palco como reserva porque, apesar da minha guitarrinha ser nacional (Giannini), o som dela era melhor. Ela está associada a todas as boas emoções das músicas que toquei com ela, somadas às ansiedades, nervosismo e adrenalida das apresentações que fiz.
E olhe que me considero um "coração de gelo"!
Mas continuo firme e forte na minha resolução: Vida nova é vida nova. Vou até cortar o cabelão de roqueiro bem curto! Pretendo chegar no Canadá apenas com uma malinha pequena.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Je voudrais vous proposer un offre pour le poste de developpeur. Hein ?!?!


Eu já tinha mandado currículo para algumas poucas vagas. Era algo bem despretencioso e ao mesmo tempo, cara de pau. Mais pelo exercício que por achar que daria certo. Havia mandado até para a Google.
Derrepente, traduzi o currículo de inglês para francês, fiz umas melhorias ao mesmo tempo em que personalizava-o para uma vaga em questão e mandei.
Pois não é que recebi um email pedindo uma entrevista por telefone ? Aí deu aquela descarga de adrenalina quando li o email porque não podia desperdiçar a oportunidade de treinar, mas ao mesmo tempo, mal conseguia conversar em francês. Quando digo treinar, é porque realmente não achava que poderia ir adiante e seria só um treino. Preparei meu super Nokia E71 com chip de banda larga 3G e provedor de VoIP e liguei para lá. Os primeiros segundos foram terríveis porque entendia mal e tinha que ficar contornando a falta de vocabulário. Ao fim de 20 minutos de perguntas, achei que ele tinha dito que queria uma videoconferência incluindo alguém do RH. Depois, fiquei achando que fosse uma má interpretação minha.
Eis que chega outro email confirmando isso e marcando data. Email vai, email vem e me aprontei com três notebooks e duas conexões de Internet para a tal videoconferência via Skype. No final, eles não tinham áudio no computador e tive que usar o super E71 para suprir essa falta, enquanto o vídeo ia pelo Skype mesmo. Foram 50 minutos de perguntas alternadas entre o chefe de equipe e a mulher do RH. No fim, a Mônica perguntou: E aí ? Eu disse: Sei lá! Eu não me contrataria. Mal consigo falar! Mas também nem pensava que chegasse até este ponto e chegou. Para completar, teve uma prova de conhecimentos técnicos que não era difícil, mas era muita coisa para 30 minutos e tinha que devolver rápido para saberem que fui eu mesmo que fiz. A prova era em inglês.
Ficaram de me pedir os contatos dos meus antigos chefes para confirmar alguns dados. E esse email não chegava, e o feriado do natal sim, estava cada vez mais próximo. E a minha ansiedade também, porque é uma situação torturante. Eis que no dia 23/12, véspera do feriado, recebo um email pedindo para eu ligar porque ele tinha uma oferta a fazer, mesmo sem ter tido a tal conversa com meus antigos chefes.
O carinha me fez uns elogios, disse que havia me enquadrado como developpeur (desenvolvedor) 3 e tascou o salário bem mais alto do que o que eu esperava. Passei alguns segundos tentando checar se o que eu tinha decodificado era o que eu pensava mesmo e ele repetiu. Aí eu aceitei e agradeci muito.
Passado o feriado do natal, nada de contato. Depois descobri que ele e a mulher do RH estavam de recesso até 2010. Foram dias de certeza incerta e segurei a venda do carro, a compra das passagens e outras coisas que envolvem dinheiro até o próximo passo.
Bem, ontem (5/1/2010) recebi o contrato e já mandei de volta via Fedex. Daí, já comprei a passagem para 14/1/2010, já vendi o carro e vamos tocando o plano B enquanto o fazemos de improviso.
Loucura? Sim. Muita loucura. Mas como estou confiando cada vez mais em Deus, não tenho mais medo de enfrentar o desafio. Vamos lá.

Deus faz o impossível


Bom, agora posso tirar o atraso e tentar descrever a loucura que foi esse fim de 2009 e começo de 2010. Ganhamos três presentes de natal inimagináveis.
Primeiramente, a Mônica estava com uma suspeita de problema de saúde. No dia 22/12/2009 a médica disse que não era nada sério.
Depois, no dia 23/12/2009, véspera do feriado, me fizeram uma proposta de emprego em uma multinacional, como desenvolvedor sênior, que é exatamente o que eu queria, e com um salário bem maior do que o eu esperava. Vou contar melhor essa parte em outro post.
Para fechar o ano com chave de ouro, dia 28/12/2009, fiz a defesa de dissertação e fui aprovado, terminando o meu mestrado de longos e penosos três anos.
Com isso, jogamos o plano A de ir a Montréal em abril no lixo e ligamos o modo de emergência para fazer um plano B. Vou a Québec agora dia 14/01/2010 para começar a trabalhar e preparar tudo enquanto a Mônica termina a pós graduação e resolve o resto da vida aqui. Depois, volto para levá-los no meio de fevereiro.
Se estão achando que esses presentões realmente só podem ser obra de Deus, esperem para ver como foi a conquista altamente improvável do emprego.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Choque cultural


 O blog deu uma pausa abrupta, mas é por uma boa causa. Por esses dias, vou voltar com muita informação acumulada que está só aguardando uma confirmação. Aguardem que vai ser quente! Por enquanto, um post coringa sobre choque cultural.

Choque Cultural descreve a montanha russa emocional e psicólogica que adultos vivenciam quando se mudam para outros países. É um período de socialização cultural que se diferencia do processo de assimilação cultural pelo qual as crianças passam.
Este fenômeno afeta cidadãos comuns, estrelas do esporte, professores de línguas, empresários e suas famílias. Qualquer pessoa que se muda para um outro país experimenta algum tipo de choque cultural logo após as primeiras semanas no novo ambiente.
O choque cultural é sentido como uma falta de direção, um sentimento de não saber o que fazer ou como fazer, o que é apropriado ou não. Há confusão quanto aos limites culturais. Manifesta-se também, ainda que em menor grau, em mudanças de cidades, estados ou províncias de um mesmo país. É tão mais intenso quanto mais diferentes forem as culturas.
Reconhecer e não negar o choque cultural é crucial para lidar com o problema e minimizar o risco de desilusão com o novo país e de uma volta prematura para casa.

Sintomas
  • Tristeza, solidão e melancolia;
  • Mudanc,as de humor, depressao, sentimento de impotencia;
  • Raiva, irritação, resentimento, falta de motivação para interagir com os outros.
  • Sentimento de estar perdido, de estar sendo ignorado, explorado ou abusado;
  • Medo excessivo de ser roubado ou passado pra trás.
  • Problemas de saúde: dores, alergias, problemas de digestão e intestinais;
  • Sono excessivo ou insuficiente;
  • Insônia.
  • Comportamento obsessivo/paranóico com limpeza, segurança etc;
  • Medo de tocar os nativos.
  • Perda de identidade;
  • Falta de confiança;
  • Sentimento de inadequação ou insegurança;
  • Incapacidade de resolver problemas simples.
  • Identificação excessiva com a própria cultura;
  • Idealização do antigo país.
  • Esforços exagerados de absorver tudo na nova cultura.
  • Esteriotipação e ridicularização da nova cultura e povo;
  • Críticas injustas à nova cultura e povo;
  • Reclamações constantes sobre o clima.
  • Desculpas para ficar em casa;
  • Recusa em aprender a língua local e em interagir com os nativos.
  • Saudade excessiva da família;
  • Idéia fixa de voltar pra casa;
  • Atividades exclusivas com conterrâneos;
  • Vida em gueto.


Estágios do Choque Cultural

Os especialistas concordam que o choque cultural tem fases e que uma vez superados os estágios iniciais mais difíceis, a vida no novo país se torna muito melhor.
Cada pessoa reage de maneira individual dependendo da personalidade, maturidade, experiências anteriores, condições sócio-econômicas, nível de instrução, conhecimento do idioma, apoio familiar e social e apego pessoal às coisas, às pessoas e ao passado.
Nem todo mundo passa por todas as fases ou permanece tempo suficiente no novo país para passar por todas elas:

1. Lua de Mel

Durante este período inicial, as diferenças entre as culturas antiga e nova sao romanceadas. Tudo é lindo e novo. A nova cultura é exótica e fascinante. Ao se mudar para um novo país, o indivíduo é inundado por novas impressões e sensações e "adora" as novas comidas, o rítmo diferente das coisas, os hábitos das pessoas, as roupas típicas, os prédios, os monumentos etc. É a fase divertida, excitante e aventureira de conhecer novas pessoas e lugares, e de cogitar novas oportunidades.

2. Negociação

Após algum tempo, geralmente algumas semanas, as diferenças entre as duas culturas se tornam evidentes e começam a criar ansiedade e frustração. Bate saudade da comida preparada no país de origem. O rítmo das coisas fica muito rápido ou muito devagar. O comportamento diferente e imprevisível das pessoas irrita. Alguns hábitos diferentes incomodam ou causam nojo. Esta fase é marcada por mudanças de humor causadas por pequenas coisas ou mesmo sem razao aparente. A depressao nao é incomum.
Pequenas crises se tornam frequentes, quase diárias, são agravadas por problemas de comunicação tanto para entender quanto para ser entendido e geram sentimentos de descontentamento, impaciência, raiva, tristeza, incompetência e impotência.
A transição entre as práticas e os métodos antigos e os novos é um processo difícil e toma tempo para ser concluído. E quanto maior a diferença entre as culturas, mais longo e intenso este processo se torna.
A tentação é considerar os diferentes costumes ruins ou tolos. O estrangeiro começa a criticar e a ridicularizar (apelidos e piadas) ou mesmo mostrar animosidade em relação aos habitantes da nova terra.

Como lidar com o Choque Cultural

O choque cultural pode ser uma oportunidade de redefinição dos nossos objetivos de vida. E exatamente os desconfortos e estranhamentos podem revelar facetas desconhecidas de nossa personalidade, estimular e desabrochar áreas potenciais ou adormecidas do nosso ser. Um novo ambiente pode ser terreno fértil para atitudes ousadas, criativas e surpreendentes!
A maioria dos indivíduos e das famílias que mudam de país têm a habilidade de confrontar de maneira positiva os novos obstáculos.
Permita-se sentir triste pelo que ficou para trás: família, amigos, situações, lugares, prazeres. Reconheça e viva o luto destas perdas.
Crie logo uma rede de apoio no novo país: conterrâneos e nativos. Nao é preciso gostar de todo mundo na nova terra.
Aceite o novo país. Concentre sua energia em superar a transicão.
Mantenha contato com a nova cultura. Aprenda a língua local. Participe de alguma atividade cultural, esportiva ou social em que possa praticar os novos conhecimentos.
Concentre-se no que pode controlar. Não desperdice energia em coisas que não pode mudar ou em problemas menores.
Encare os grandes problemas de frente, com convicção. Nao os evite.
Inclua alguma forma de atividade física regular (caminhada, natação, academia etc) na sua rotina. Relaxamento e meditação (yoga) são muito indicados para quem está passando por períodos de stress.
Cultive um hobby.
Seja paciente, o processo de adaptação a outro país pode durar meses mesmo.
Estabeleça pequenas metas realistas e vá avaliando o seu progresso.
Quando for invevitável, encontre maneiras de conviver com coisas e situações que não te agradam 100%.
Evite se colocar novamente em situações que foram desfavorá­veis uma primeira vez. · Deixe para insistir depois que se sentir mais adaptado.
Não se esforce demais. Seja gentil consigo mesmo.
Mantenha a confiança em você mesmo e focado nos seus planos.
Registre seus pensamentos, frustrações e sentimentos.
Procure ajuda. Há sempre alguém disponível, amigo ou profissional.
Algumas pessoas são incapazes de aceitar a nova cultura e se integrar. Elas se isolam no novo ambiente que consideram hostil se recolhendo em guetos. Consideram a volta prá casa a única saída. Costumam também ter mais problemas de reintegração quando retornam ao país de origem. Aproximadamente 60% das pessoas se comporta assim.
Algumas pessoas se integram totalmente e incorporam praticamente todos aos aspectos da cultura hospedeira, deixando inclusive sua identidade cultural original para trás. Normalmente permanecem no novo país em definitivo e mesmo quando retornam não se readaptam. Cerca de 10% se encaixam neste grupo.
E, finalmente, há aqueles que conseguem se adaptar aos desafios da nova cultura. Absorvem os aspectos que consideram positivos, mas mantêm jeitos do próprio país, criando sua mistura cultural original. Não costumam ter maiores problemas na volta ou de recolocação a outro país. Uns 30% se encaixam neste grupo de cosmopolitas.

3. Adaptação

Assim, depois de certo tempo (de alguns meses a um ano), acostuma-se com a nova cultura e cria-se uma nova rotina. Agora já se sabe o que esperar da maioria das situações e o país adotado não mais parece tão novo assim. Esta terceira fase é caracterizada por um entendimento e um sentimento mais profundo da nova cultura e suas motivações. Aceita-se melhor o comportamento das pessoas e diminui o sentimento de isolamento, aumentando a integração e a confiança em lidar com a nova cultura.
Uma nova sensação de prazer e senso de humor levam ao equilibrio psicológico. O novato não mais se sente tão perdido e começa a ter um senso de direção. Agora quer fazer parte do ambiente e se sente mais em casa. Inicia-se um processo de avaliação dos velhos hábitos e jeitos em contraposição aos novos, récem-adquiridos. A pessoa racionaliza e sente que a nova cultura tem coisas boas e ruins para oferecer, se sente bem no novo ambiente e até mesmo prefere alguns aspectos culturais e comportamentos novos que adota como seus.
Os desafios comuns da vida voltam a ser prioritários e as coisas voltam a ser mais normais. O indivíduo começa a estabelecer novas metas de vida e se sente em casa.

4. Contra-choque Cultural

Voltar prá casa depois de se adaptar a outro país pode causar os mesmos sintomas e efeitos descritos acima. E será uma surpresa para muitos. As coisas já não serão as mesmas, os familiares e amigos terão levado suas vidas adiante, nada ficou como era esperado na nossa volta... E a gente se dá conta de quanto mudou também, de que incorporou novos hábitos mesmo sem sentir. E agora sente outra saudade!