segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Faça você mesmo!




Dizia um funcionário de um fornecedor da empresa na qual eu trabalhava, que sabemos quando estamos ficando velho quando o prazer dá trabalho e o trabalho dá prazer! A primeira parte pode até ser, mas eu discordo da segunda parte. O ser humano precisa se sentir útil e o trabalho pode fazer essa função. Se você já começou a ficar cansado só em ouvir a palavra trabalho, pode parar a leitura e se deitar, porque aqui no Canadá trabalha-se em todos os sentidos.
A mão de obra aqui é cara. O salário mínimo para 40 horas semanais fica em torno de uns 1600$/mês. É bom para quem recebe, mas é ruim para quem paga! Daí, como vocês já sabem, não tem essa de empregada e mesmo para fazer faxina é caro e só fazem o basicão do basicão!
Ainda está aí? Ainda quer vir para cá? Pois bem, vamos ao outro lado da moeda. Quando eu morava no Brasil, eu ficava incomodado quando eu chegava todo satisfeito contando que eu mesmo tinha feito a instalação de todas as luminárias de teto do apartamento novo, então chegava alguém e detonava: -Putz cara! Deixa de ser pão duro! Isso tudo é para não pagar 50 contos a um eletricista?!?! Ai que ódio! -Não! Eu fiz isso porque EU GOSTO! Mas não adianta. Algumas coisas são quase impossíveis de serem explicadas no Brasil porque existe uma cultura de que fazer certo tipos de trabalhos é algo degradante, humilhante, coisa de pobre, pão durice, etc.
Para explicar o meu ponto de vista, vou me valer de uns exemplos. Porque é que alguns garotões quando acabam de tirar a carteira de motorista lavam o carro até várias vezes por semana? Não dá trabalho? O carro nem está sujo para valer a pena, mas o fazem. Porque é que algumas mulheres passam horas fazendo crochet ao invés de comprarem a peça pronta? É porque é um trabalho que dá prazer! É um hobby!
Aqui no Canadá, a macenaria é tanto um hobby quanto uma arte! Um colega de trabalho estava conversando com o meu chefe sobre o piso de madeira da varanda que estava envergado por causa de sol e chuva. É impressionante! Os outros entraram na conversa e parecia que eu estava em uma carpintaria e não em uma empresa de desenvolvimento de software. Os caras compram furadeiras de 400$, fora outras máquinas elétricas e trocentas ferramentas. Outro colega disse que entre um emprego e outro de desenvolvedor de software, ele ganhava dinheiro fazendo móveis. A tia dele o havia chamado para fazer a escadaria da casa dela no verão e ele ia dar essa ajuda. Como a Manuela conta nessa postagem do blog dela, o próprio dono da casa de 800.000$ é quem estava pintando os móveis desta, e também não tem empregados.
Eu sou neto de carpinteiro, mas ainda não estou nesse nível. Porém, algo bastante comum aqui é montar os próprios móveis em casa. Até as cadeiras da sala de jantar vieram desmontadas. A notícia boa é que esses móveis são bem fáceis e práticos de montar. A galera que faz as compras na Ikea então, esses é que brincam muito mesmo.
O Davi megawatt quebrou o interruptor? Não tem problema! Minto! Na verdade fiquei P. da vida porque além disso, ele ficava ligando todas as luzes de dia e apagando-as de noite! DAVIIIIIII! Mas uma passadinha no Canadian Tire para comprar um interruptor novo de 1 ou 2 dólares e pronto! Parada resolvida. Uma amiga me disse que foi a uma empresa de lavagem de carros e para a supresa dela, o que se pagava era para ter a infraestrutura da lavagem, mas quem lava o carro é o dono! Não tem ninguém trabalhando lá! Como vocês já leram na postagem sobre o dia da mudança,o mais comum é alugarem o caminhão e botar a família e os amigos para fazerem força. Grande amigo, hein! Ahh! Ocasionalmente pode ter uma instalaçãozinha da lavadora (água quente e fria de entrada e de saída), da secadora (tubão de saída de ar quente) e outros. Esse tubão da foto ainda não estava no lugar definitivo, viu?

Agora foi que percebi que esta postagem acaba reforçando a anterior quando disse que aqui se paga um preço para ter a qualidade de vida. Todo mundo quer ganhar um bom salário, mas ninguém quer pagar um bom salário! Tudo bem, mas não querem pagar o salário de quem faria o serviço e nem querer fazer esse serviço, aí complica! Todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer morrer!
Mas aí é onde reside a chave da boa imigração! Não se incomodar com a parte ruim e adorar a parte boa! Por isso que digo que nasci para cá. Desde o Brasil eu adoro andar a pé e de bicicleta, aqui não acho ruim andar de ônibus, acho divertido montar os móveis e fazer consertos domésticos, gostei bastante do inverno, etc.
Antes que a Mônica me dedure: Sim. É verdade! Não gosto de lavar a louça e limpar o chão, mas aguardem que vou contar aqui como vamos resolver esses dois problemas com a oportuna praticidade canadense! Não "perdam"!

sábado, 28 de agosto de 2010

Atravessando por lá onde o rio se estreita




Québec, no idioma algonquine que era utilizado por algumas nações ameríndias daqui, significa "lá onde o rio se estreita". Esta parte do rio São Lourenço foi escolhida pelos franceses para começar a sua colonização no que hoje é a região da nossa capitale nationale (nota do tradutor: Essa eu não preciso fazer, né?).
Esse tipo de postagem é normalmente mais voltada para o lado turístico, mas vou também aproveitar o contexto para mostrar em um exemplo a diferença de visão dos administradores públicos daqui. Desde quando decidimos morar aqui que eu ficava intrigado com a seguinte questão: Porque tem duas pontes em uma parte do rio mais larga e já perto do fim das cidades se a parte mais estreita ligaria justamente o centro de Québec ao centro de Lévis? O raciocínio, moldado pelo ponto de vista que eu adquiri no Brasil seria de reduzir o custo de construção da ponte e ao mesmo tempo colocá-la onde tem mais usuários. Como diz o meu chefe: Make sense?/Faz sentido?
Já tinha esquecido dessa atroz questão filosófica que instigava minha irrequieta natureza analítica (nota do editor: Pô, cearense! Vê se não viaja muito!), quando escutei uma notícia ainda mais curiosa: Estão querendo fazer outra ponte, agora no outro extremo da cidade. Hein?! Ahh! Já sei! Já tem uma ponte até a Île d'Orleans, aí fica mais barato para fazer da ilha para a outra margem! Claro que não! Estragaria a tranquilidade da ilha!
Agora lascou mesmo! É a minha oportunidade de entender logo essa esquisitice. E porque não ligar o centro de Québec com o centro de Lévis e ainda aproveitar onde o rio é mais estreito? Parece mais lógico, não?
Isso seria ligar Vieux-Québec a Vieux-Lévis, que são as regiões mais antigas, com ruas mais estreitas e turísticas. Isso iria atrair mais tráfego justamente onde a cidade tem menos capacidade de escoá-lo. Seria matar o trânsito das duas cidades. A prefeitura está fazendo é o contrário! Tem a linha de ecolobus (pequenos ônibus elétricos) gratuitos que rodam Vieux-Québec até o traversier/ferry boat/balsa e voltam. Ou seja, se quiserem atravessar o rio por aí, pode e é viável, mas o projeto urbanístico desencoraja esse tráfego de carros para preservar a região. Também, o transporte coletivo é mais eficiente nesses casos.
Se bem pararmos para analisar, o Canadá é mesmo assim. Abrimos mão de alguns privilégios individuais e pagamos um preço para termos, por outro lado, benefícios coletivos. Só que o indivíduo participa dessa coletividade e ganha com essa troca. Esse é um dos segredos da qualidade de vida daqui, que não vem de graça, mas vale o preço.
Por falar em valer o preço, quando vierem por aqui, vale a pena fazer essa traversia até Lévis. A visão do imponente Chateau Frontenac no topo da alta encosta escarpada é imperdível. O traversier tem uma estrutura que me impressionou e é super estável. Não se percebe nenhum balanço. O rio é muito largo e podemos ver ambas cidades a partir de um ponto de vista novo. Legal também foi ver um navio cargueiro que passou justamente durante a travesia, que nos faz perceber que o rio é também bastante profundo. Só na situação é que percebemos que a manobra de chegada na outra margem é algo que exige perícia, pois a grande massa metálica vai de encontro ao concreto.
O meu colega de trabalho é que me conta como é viável morar em Lévis e trabalhar em Québec, seja passando de carro pelo traversier, ou indo de ônibus, ou mesmo contornando pelas pontes que ficam no fim das duas cidades, mas que não toma tanto do seu tempo. Em compensação, ele pode ter uma casa maior e melhor em Lévis. Afinal, a menor distância entre dois pontos, é uma reta, mas não é necessariamente a melhor distância entre eles.



segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ali babão e as 40 Ferraris




Agente vê cada coisa por aqui que nem acredita. Eu sempre vejo muitos carrões, mas o gosto norte-americano para carros e motos é mais saudozista que modernista. Existem motos japonesas tipo as de corrida, mas a grande maioria são daquelas dos motoqueiros vestidos de couro preto, de barbona, como no filme Easy Rider. Não assistiu esse filme? Não tem problema! Eu também não assisti! Bom, estou falando de motos tipo as Harley Davidson.
Mas voltando aos carros, aqui os ícones esportivos norte-americanos são reedições dos velhos clássicos muscle cars/carros "musculosos": Mustang, Dodge Charger, Chevrolet Camaro e Corvette. Esses são muito comuns aqui e alguns têm o preço até acessível. É curioso que ao mesmo tempo que se vê nas ruas daqui todas as importantes marcas alemães como Mercedes, Audi, BMW, Porsche e Volkswagen, não se vê nenhum carro francês ou italiano.
Opa! Italiano? E as Ferraris? São poucas porque são caras e importadas, mas já registrei em uma mesma foto três delas estacionadas juntas na avenida da badalação (Grande Allée). Também já topei com uma Lamborghini. Sim, são poucas, mas juntando a galera daqui com a de Montréal, dá para fazer um desfile surreal: 40 Ferraris e 4 Lamborghinis! O matuto aqui que fica babando quando vê uma, ficaria ainda mais babão vendo-as passar aqui na esquina de casa.
Digo ficaria porque infelizmente, por coincidência, elas passaram justamente na hora da seção de perguntas do encontro de futuros imigrantes de Fortaleza. Eu não poderia faltar com a palavra e desrespeitar os 45 participantes. Mas me doeu não escutar pessoalmente o ronco dos rubros bólidos da scuderia italiana. A equipe reserva de correspondentes do jornal do imigrante foi lá conferir o evento inesperado: A camera-woman Mônica, a reporter Lara e o especialista em automóveis esportivos Davi. Confiram neste vídeo do começo da postagem.
Para quem não tem lá suas centenas de milhares de dólares, por apenas 30$ eu e o Davi nos contentamos com a nossa Ferrarizinha com controle remoto progressivo, que acende e apaga os faróis pelo controle remoto e tem potência para derrapar no piso de madeira do nosso apartamento se acelerarmos muito.
Quem não tem cão, casa com gata!


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Quantas nações tem o Canadá?


Dia 15 de agosto (que em francês dá trabalho de entender, porque a palavra toda se resume à pronuncia como a da letra "u"), comemora-se a fête nationale de l'Acadie/festa nacional da Acádia. Outra festa nacional?!?! Não vou falar dela, até porque não foi comemorada aqui em Québec (que eu saiba). O que chama a atenção, entretando são os acadianos por si mesmos e a extensão da visão do Canadá multinacional que o entendimento dos acadianos leva.
Acadioquê? Bom, vamos começar pelo começo. Muitos sabem que se fala inglês no Canadá, óbvio. Mas fora da comunidade de imigrantes, tem muita gente que não sabe que se fala francês aqui. Mesmo muitos canadenses do lado anglófonos não sabem de verdade a relação entre os francófonos e o Québec, que não é uma relação direta um para um. Complicou agora? Vamos explicar.
A América do Norte não hispanica foi primeiro colonizada pelos franceses em 1534, que fundaram os primeiros assentamentos da nova colônica francesa onde é atualmente a nossa cidade de Québec. Depois os ingleses vieram para também colonizarem o imenso continente. A moda era chamar de Nova França, Nova Inglaterra e a Nova Espanha, que deu origem ao México.
Eis que, voltando aos acadianos, estes vieram do oeste da França a partir de 1604 para as bandas do que hoje são as províncias de Nouveau-Brunswick e Nouvelle-Écosse. Só que a história deles se desenvolveu de uma forma diferente dos québécoises da Nouvelle-France. Uma diferença histórica é que os québécoises tiveram a opção de continuarem no seu território, mesmo que dominados pelos ingleses. Já os acadianos, foram mortos, deportados e levados como mão de obra semi-escrava para o sul dos Estados Unidos, como no estado que tem um nome bem francês: Louisiana. Com essa diáspora, eles acabaram se espalhando também pelas Antilhas, Guiana Francesa e até na...França!
Acredito que opressão inglesa forçou a mescla entre o francês e o inglês e deu origem ao chiac, que é uma mistura maluca que não basta saber francês e inglês para conseguir entender. Vejam esse exemplo: " Ej vas tanker mon truck full de gas à soir pis ej va le driver. Ça va êt'e right la fun". E mesmo falando francês, alguns deles fazem o som do R como no português ao invés do R gutural típico. Mais forte que isso é o fato de, mesmo não tendo um território definido nem oficial, eles têm uma bandeira (mostrada no começo da postagem) e um hino. Isso é a expressão da sua identidade cultural como nação, diferente até mesmo dos québécoises que, ao contrario desses, são uma nação reconhecida oficialmente pelo governo federal. E é também por causa deles, acadianos, que Nouveau-Brunswick é a única província do Canadá onde tanto o inglês quanto o francês são idiomas oficiais.
Mas já que falei da terceira nação, fora os descendentes de ingleses, os québécois e acadianos, ambos descendentes de franceses, porque não falar também das primeiras nações? Esse é o nome que se dá aos diversos povos ameríndios (nomezinho bonito, né?) que já habitavam aqui antes dos europeus chegarem e que ainda mantêm seus costumes, embora visivelmente em conflito com os valores do mundo moderno. É deles que os nomes Canadá e Québec vêm, dentre muitos outros. E eles têm radios nos idiomas deles, programas de tv e também seu dia e sua festa. Eles também são reconhecidos pelo governo, que lhes dá algumas prerrogativas legais que, embora eu tenha usado esse termo muito bonito em advoguês, eu não sei dizer quais são. Entrando nessa seara (que não é o Ceará), já se perde um pouco a visão clara de onde começa e onde termina cada nação, bem como seus idiomas. O território de Yukon é oficialmente bilíngue, Nunavut tem além do inglês e francês, o Inuktitut e Inuinnaqtun. E o território chamado de Territórios do Nordeste é uma verdadeira farra: 11 idiomas oficiais!
Vejam que curiosa é essa placa "pare" bilíngue no norte do Québec. É bilingue, mas é francês e inuit!

Com uma base de várias nações mesmo antes da colonizações européias, passando por estas e somada à forte imigração que reina até hoje (Toronto tem mais de 50% de imigrantes), dá para perceber porque o Canadá é um país extremamente tolerante à diversidade cultural. E nós que chegamos aqui só temos a ganhar assimilando essa qualidade. D'accord? Right? Certo?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vamos a la playa?

Por falar em plage/praia, queria pedir desculpas ao amigo Idevan que nos convidou para conhecer essas duas praias daqui por ter feito essa postagem justamente depois dele ter feito a dele. Mas não foi plágio! Já estava na programação! Ele é gente boa, acho que não vai se importar. (Nota do revisor: Pô cara! Tu bota plage lá no começo e plágio lá na baixa da égua! Tem gente que não vai perceber o trocadilho!)
Praia, sim! Qual é o problema? Tem até surf! Bom, kite surf e wind surf, mas tem surf no nome! De fato, só não tem onda mesmo, mas de resto tem tudo e mais um pouquinho, inclusive sol e calor.




Vamos começar pelo litoral oeste...opa! Litoral não! Aí já é demais! Lá no final da cidade, quase em Cape Rouge, fica a Plage Jacques Cartier. O parque tem muitas árvores, que é muito agradável para fazer um almoço nas mesas de piquenique na sombra. A vista é encantadora! A natureza ainda preservada forma uma paisagem bem acolhedora. Uma constante por aqui é a infraestrutura dos locais públicos. Para onde vamos sempre tem no mínimo banheiros bem cuidados e bebedouro com água gelada. Agora só levamos a garrafa por questão de praticidade, mas sai de casa vazia. Muitos parques têm as mesas de piquenique. Outra constante daqui é a preocupação com acidentes. Onde tem banho público, tem sempre um ou até mesmo dois salva vidas, mesmo que seja uma piscina. Isso mesmo! Uma piscina nem tão grande e dois salva vidas olhando a galera! Só que dessa vez, o cara que entrou substituindo o outro era meio paranóico. Ele veio falar com agente, que sempre acontece por causa do Davi, mas dessa vez para dizer para todos que ninguém podia entrar na água além da altura do joelho. Assim é pra lavar os pés e não tomar banho!
Tem umas pedras e uma ilhota interessante para a meninada explorar e tudo é totalmente de graça. Em compensação, pode faltar vaga no estacionamento se chegar mais tarde.




No outro lado, mais perto do Centro, fica a Baie de Beauport! Diferente da outra praia, esta é mais badalada. Tinha muita gente se bronzeando na areia e tem mais infraestrutura. Tem até um salão de eventos! O playground é imenso e cheio de brinquedos bem interessantes, que não tem na outra. Até estranhei porque aqui é regra. Tem quadra de voley de praia (se chama quadra, mesmo sendo só de areia?) e muita gente vai para fazer esportes náuticos. Uma atração que os baixinhos da titia Xuxa adoram são as fontes que jorram água com intensidade e duração variadas. As crianças adoram o fato de levarem sustos quando a água sai de surpresa. Alguns parques daqui também tem isso.
A vista é também é magnífica. Podemos ver, seguindo o rio, a Île d'Orleans, que descrevi nessa postagem, e sua ponte. Ao contrário da outra praia, esta tem estacionamento de sobra, porém é pago: 8$ no final de semana, mas também é só isso que se paga. A não ser que vá colocar seu iate, veleiro, barco, caiaque ou tronco de árvore na água, mas não é o meu caso.
Tem também outras praias como uma de lagoa que fomos, mas não estava quente o suficiente para tomar banho, embora tivesse que tirar o Davi da água à força porque já estava roxo! E devem ter outras mais. Ou seja, existem boas opções para se refrescar do calor do verão e lazer para gastar as pilhas da molecada. De quebra, podemos até pegar aquele broze maneiro para tirar o aspecto de urso polar do inverno! Mas usem protetor solar porque aqui fica mais perto do buraco da camada do Osório!!!


















quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Mãe natureza, pai clima


A mãe natureza aqui é linda! Cara estação tem sua beleza e seu charme. Só vendo mesmo para acreditar. E olhe que nem vimos ainda o outono, que dizer ser um festival de cores e tons de amarelo, laranja, vermelho, marron, entre outros. As folhas já começaram a cair!
Mas o papai clima é severo! Tudo que imaginarem de fenômeno climático tem aqui. Só que tem também outros que vocês não vão conseguir imaginar. Começa por uma coisa boba, mas que é diferente para quem vem do Ceará. Aqui chove! Dããã!! Claro, né! É, mas no Ceará agente passa bem sem o guarda chuva. Para os menos destemidos que vêm também do Ceará, às vezes quando chove tem trovão. Normal também, né?!?! E vemos na televisão os estragos dos raios nas árvores e até nas casas. Também esses raios provocam incendios no norte da província quando está seco. Normalmente a chuvinha é fraca e basta colocar um casaco. Eu vou e volto do trabalho na super bike e acho é bom porque diminui o calor na hora da subida da ladeira. Mas tem horas que chove de tal forma que quase não vemos nada quando dirigimos. E o aviso vermelhão da Météo Média de orage violent/tempestade violenta sempre me fazem ficar de orelhas em pé.
Saindo da matutice da caatinga, já viram nessa postagem que, embora mais raro, tem momemtos que tem vendaval, né? 74Km por hora dá para assanhar o cabelo. Embora não seja dos piores como os famosos que tem no golfo do México, tive notícias de tornados ou ciclones. Não entendo muito disso para saber diferenciá-los, mas agente vê na televisão alguns pequenos estragos que eles fazem.
Recompondo o cabelo, a temperatura aqui varia muito. Às vezes tão rápido quanto cair 24°C em apenas 14 horas como nessa postagem. No inverno a temperatura fica normalmente em um patamar de um pouco menos que -20°C e no verão, o calor vai até uns 25 a 28°C. Mas durante alguns dias,  frio piora para menos de -30°C e nas canicules/ondas de calor como a que contei aqui, chegou a 34°C e sensação térmica de 44°C. Vancouver não conta nessa porque lá tem temperaturas de Europa e é uma excessão no Canadá. Por isso que muitos vão para lá. Também tem cidades mais ao norte que têm um patamar de frio pior que as cidades mais badaladas, como por exemplo, Edmonton que chegou a -46,1°C com sensação térmica de -58,4°C nesse inverno passado. E o inverno é looooooongo!
Quando se fala em neve,  os ameríndios têm acho que 14 ou 16 palavras diferentes para descrevê-la. Vai desde a que parece chuva mas não molha, passando pela tradicional até a fina que combinada com o vento, faz a poudrerie/poeiral, que é um fenômeno que não tem em todo lugar do mundo onde neva. Mesmo restrito à região leste, a geografia causa uma diferença no volume de neve de forma que neva pouco em Toronto, médio em Montréal e Ottawa, e muito aqui em Québec. O inverno passado foi atipicamente fraco e tinha neve no meio da coxa fora das valas de entrada do nosso apartamento. Me disseram que no inverno retrasado, nevava sem parar e para cavar a neve, tinha que fazer força para jogá-la na montanha da altura de uma pessoa.
Para carinhosamente aterrorizar você, caro leitor, vamos sair da seção incômodo para a seção perigo! Que tal uma chuva de granizo? (granito é outra coisa!). São aquelas pedrinhas de gelo! Para quem conheçe o sul do Brasil, isso não é novidade. Mas não é tão comum assim e muito menos as que tem pedras grandes. Senão a galera não deixava o carro fora e a garagem cheia de tranqueira! (agora eu pareci paulista!). Mas tem! E no clima maluco de Calgary, caiu nesse verão como contado e apropriadamente registrado com fotos pelo Vitor no seu blog. Lá, no verão passado, nevou! E como viram nesta postagem, aqui teve um tremor de terra de magnitude 5 perto de Ottawa e que tremeu aqui, a 400Km de lá. Mas depois de somente um mês (curioso: 23/6 e o outro 23/7), teve outro de magnitude 4,1 entre Québec e Trois-Rivières que, por ser mais próximo, balançou mais o prédio onde eu trabalho. Disse a minha colega de trabalho: Outra vez! Que meleca!
E que tal sair de casa com capacete, joelheiras e cotoveleiras? Talvez também com um treco de prender em baixo das botas que tem umas travas metálicas. Para que?  Para não ver os pés mais altos que a cabeça em um escorregão caso aconteça uma pluie verglaçante/chuva congelante com a que contei aqui. Em uma condição particular, a água cai líquida e congela ao tocar nas superfícies, formando uma camada de gelo que às vezes é bem safada. Parece uma calçada molhada.
Não me interpretem mal. A intenção não é fazer com que todo mundo desista de vir para cá ou ficar detonando o Canadá como os insatisfeitos. Mas acho que tão importante quando conhecer os atrativos, é também saber o que tem de ruim para não se decepcionarem. Repito a frase que li em algum lugar e agora descobri que é do Bob Dylan: "Some people feel the rain. Others just get wet/Alguns sentem a chuva. Outros somente ficam molhados".

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

E as crianças? Como vão?


Para os pais que ficam angustiados com a adaptação dos filhos, vou contar agora como estão os nossos após seis meses de adaptação. Muito bem, obrigado! Claro que não vai ser regra geral e absoluta, mas foi como muitos me disseram: Esqueça a adaptação das crianças que você vai ficar surpreso de ver como é rápida. O problema somos nós adultos (véios!).
Primeiro que criança faz amizade muito facilmente e nem precisa falar. Uma chega para a outra, sorri e sai correndo. A outra responde com outro sorriso e sai correndo atrás! Pronto! Já começou uma amizade! O Davi então, muito cara de pau, conversa com todo mundo que passa em português que às vezes nem nós entendemos. Mas ele não está nem aí. O objetivo dele é que alguém fale algo de resposta e consegue. Também, a necessidade de comunicação das crianças é menos sofisticada que a nossa e só o contexto muitas vezes já diz tudo.
A parte que dá mais ansiedade é deixar a criança nos primeiros dias na escola, como eu escrevi nessa postagem. A Lara adorou a escola e não teve nada que a incomodasse, pelo contrário, ficou até ansiosa para chegar logo o dia no qual ela começaria a chegar um pouco antes e ficar um pouco depois da aula. Porém, ela teve uma recaida na timidez extrema que tinha e que foi magicamente corrigida pela escola Casa de Criança onde ela estudou enquanto estávamos no Brasil. Simplesmente ficou muda durante os três primeiros meses de escola. Antes de entrar na escola, ela passou mais um mês sem muito contato com o mundo exterior. Um pouco disso foi por causa do evento que contei nessa postagem.
Mas, como haviam me contado que acontecera com outra criança, depois desses três meses a mudez acabou. Depois das aulas, não tive mais um pingo de preocupação em relação à sua comunicação quando ela começou o camp de jour/colônia de férias.
Ela já está com a cabeça pensando tão naturalmente em francês que percebemos no português como quando ela diz: "O Davi é lá" (ao invés de dizer está aqui), "Eu vou ir", "depassar na fila", "mais grande", "isso faz mal" (isso dói), "isso é por (pour/para) brincar", dentre muitos outros exemplos.
E a pronúncia? Meu Deus! Bastam três vezes para um fonema novo já sair perfeito! E ainda me faz passar vergonha! "Papai, não é du (U igual ao do português) lait. É DU (com o fonema que mistura o U e o I) lait!", "shhh (je suis em francês québécois) prête! Você quer dizer prêt (pronuncia-se como pré sem o T)? Papai! Eu sou menina! É prête (pronuncia-se prét, com o T)!". Xi!!! Foi mal!!! Sem contar que ela conhece palavras que eu não conheço, e vice-versa. Assim, todo mundo é professor e aluno ao mesmo tempo. Ahh! E já aprende com sotaque daqui! Enfim: O vocabulário ainda não permite falar de forma tão sofisticada e ainda comete alguns errors, mas está falando muito bem. Principalmente para quem tem somente alguns poucos meses de contato com o idioma.
O Davi começou em uma garderie en milieu familiale/creche em meio familiar, que nada mais é que uma mulher de paciência budista que toma conta de até seis crianças em casa. Nada muito interessante para o Davi, já que os outros eram bebês. Para matar o tédio, ele desregulava o aquecimento do apartamento até ficar pegando fogo, destrancava e abria a porta, brincava de pular por cima do bebê deitado no chão (ai meu Deus!) e outras bêtises/besteiras ou bobeiras. Mas ele não gostava porque não tinha nada muito interessante para fazer.
Depois que ele foi para uma garderie grande e que tem estrutura de escola, uma CPE (Centre de la Petite Enfance), mudou tudo, inclusive a nossa dor no bolso! Pagávamos uns 500$/mês e agora só 150$/mês porque ela é subsidiada pelo governo. Nada como ter muita coisa interessante para brincar, com muitos coleguinhas para bater..., digo, brincar! Bom, ele não é o recordista de estrelinhas de bom comportamento na agenda, mas já melhorou muito. Tem dias que a professora começa a escrever assim: "Afff!!!!...". Mas ele está adorando e percebemos no dia a dia que agora ele também está aprendendo francês.
O carinha é uma figura! Muitas vezes quando ele aprende uma palavra em francês, ele substitui a do português e não a usa mais. É tão curioso que ele diz "sim" em português e sempre "non/não" em francês! E às vezes ele faz gozação com quem fala francês e responde com um blá, blu, blé, blô, ... -Davi, o que é que tu está dizendo? "Eu tô falando com ela", apontando para a simpática senhora que pergunta algo a ele. Legal é que outro dia ele disse: Go papa! Go é vai em inglês e papa é papai em francês, que é como ele me chama agora.
A adaptação tem sido quase que puramente ao idioma. As comidas são as mesmas, adicionadas gostosas novidades. Quando ao frio, as crianças sentem bem menos que os adultos e adoram a neve. Parece que a circulação sanguínea deles é mais eficiente. Sinto pela temperatura das mãos. Também, conversando com amigos, dá a impressão que eles adoecem menos aqui que no Brasil. O resto é só festa. Muitos parques, muitos brinquedos interessantes, muita área verde para correr, praia de rio ou de lagoa, piscinas públicas gratuitas, muita área para andar de bicicleta, etc. e ainda com segurança.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Curiosidades 3.0 16 soupapes (válvulas)

Colecionei mais um lote de curiosidades. Vamos a elas.
Aqui os nomes são muito malucos por causa dos imigrantes. Pra que nome para dar mais confusão que desses russos que vêm para cá, como Alexei? Mesmo sem contar com os imigrantes, os canadenses têm muitos homônimos (Nota do tradutor: Nome e sobrenome iguais!) e nome por telefone é sempre algo passivel de confusão e perda de tempo. Opa! Tempo? Tempo é dinheiro! Então, que tal usar outra informação para identificar os clientes de forma mais clara? Aqui, muitos estabelecimentos perguntam para saber quem é o cliente, o seu número do telefone. Na locadora, digitamos o telefone e a senha para pegar um filme.
Quando os motoristas são mais "civilizados" e conscientes do porquê de seguir regras (chamo isso de maturidade), os mecanismos de tráfego podem ser mais livres e todos podem se beneficiar de um transito mais fluido. Um exemplo interessante é que em alguns cruzamentos, vemos uma fila de uns 5 carros em uma faixa e nenhum na outra. É porque, embora possamos ficar parados nessa faixa, é mais eficiente PARA OS OUTROS motoristas quando essa faixa é usada para quem vai dobrar e o semáforo abre primeiro para esse sentido. O motorista que fez o favor dessa vez será beneficiado por outros depois e assim, pensando coletivamente, todo mundo ganha.
Por outro lado (literalmente, depois vocês vão entender porque), quando vamos abastecer o carro, no começo é uma confusão. A mangueira é bem curta e temos que saber qual é o lado certo do carro. Se parar do lado errado, tem que sair e voltar ao contrário. Só que fica carro virado para lá, outros para cá, tem gente que desce para pagar na loja de conveniência e o carro fica impedindo a passagem. Até entramos no ritmo é meio confuso.
A piada aqui é que as quatro estações são o inverno, o inverno, o inverno e a estação de obras de estrada. Os caras literalmente arrancam kilômetros de asfalto e reasfaltam novamente, com aquele tipo que é grosso como de estradas. Isso porque depois de um tempo de alternancia entre calor e frio, ele fica rachado. E repintam a sinalização das pistas da cidade toda, porque ela se apaga no inverno. Além disso, a galera troca o encanamento das ruas, que significa cavar beeeem fundo por alguns quarteirões. Hora também de tirar as infiltrações dos telhados e janelas. Ou você vai querer arriscar quebrar a janela a -25 graus no inverno?
Como aqui é muito tranquilo e existe respeito, é comum vermos mulheres dirijindo ônibus e tem muitas policiais. Também! Só o que tem de trabalho é multar motoristas infratores, e nem isso tem muito!
Capital do Canadá? Toronto! Não! Ottawa. Capital do Québec? Montréal! Não! Québec. Capital de British Columbia? Vancouver! Não! Victoria. Capital de Alberta? Calgary! Não! Edmonton! Capital de Saskatchewan? Saskatoon! Não! Regina. Capital de Ontario? Toronto! Até que enfim vocês acertaram uma!! Ninguém aí sabe nada de geografia do Canadá?!?! Poxa!!! Eu também não sabia! Parece que eles procuram fazer com que a capital não seja a maior cidade para descentralizar.
E encontrei a solução para os papoucos dos choques de eletricidade estática. Eles acontecem porque nos aproximamos lentamente e criamos proximidade em uma pequena área. E como se evita? Toda vez que saio do carro, dou um tapa de mão cheia na lataria atrás da porta. Te garanto que levando choques todo dia, agente começa a se lembrar antes de sair do carro. Resolveu mesmo! Só tem um problema: Não é muito delicado usar esse método com pessoas e é comum quando as crianças descem do escorregador. POC!!
Não compre do produto que eu vendo! É mais ou menos o que a HydroQuébec diz nas propagandas. Ela faz de tudo para que gastemos pouca energia, dá dicas e até diz explicitamente para baixarmos a temperatura da casa! Ué? Apagão? Não! Então porque diachos ela diz para os consumidores para não comprarem do produto que paga o leite das crianças? Than!!! Porque ela vende a energia por um preço mais caro para a galera de baixo, os estadunidenses! Ahhh!!! Agora fez sentido!
Eu nunca pensei que a comunicação gestual fosse ao mesmo tempo universal e regional. Um dedo médio estendido é algo que a grande maioria das culturas reconheçe como... bem... vocês sabem! Mas o que é o indicador e o polegar formando um ângulo reto (aquele de 90 graus!) em formato de L no meio da testa? L de looser/perdedor. Na América do Norte, sobretudo os sobrinhos do tio Sam que querem ser sempre os melhores em tudo, chamar alguém de perdedor é uma ofensa grave! E esfregar o indicador no polegar para falar de dinheiro? Será que vão entender ou não? Sim, entendem. Mas ao menos aqui é pouco usado. E quando você pergunta algo a alguém e este está ocupado? O que ele faz de gesto? Não é o do dedo médio! Mas ele mostra o indicador que no Brasil agora está associado a pedir uma Antártica. Aqui significa "aguarde um minutinho, por favor". A mão aberta como quem diz pare, que é o mais usado no Brasil, me parece ser pouco cordial.
E o décimo quarto andar fica a quantos andares do chão? Depende! Tem prédios que começam a contagem pelo rez-de-chaussée/térreo, mas outros consideram o térreo como sendo o primeiro andar. E, supersticiosamente, alguns prédios não têm o famoso décimo terceiro andar. Nos botões, do 12 pula para o 14 como se na prática este não fosse o décimo terceiro. Ai, ai, ai...
E é legal ver o aviso dessa foto que diz que um aparelho celular foi perdido pelo quarteirão. Quem souber quem é o dono, ligue para o telefone tal para que seja devolvido. Como diz a Lara: É tão cute! Tão mignon! (bonitinho nos dois idiomas).