A saga de uma família de retirantes cearenses, comedores de rapadura,
rumo à terra onde a Cana dá.
Fortaleza -> Ceará -> Brasil -> Canadá -> Quebéc -> Québec
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Criando um belo plano de imigração...furado!
Pô, cearense! Ao invés de dizer como fazer um bom plano, tu vai dizer como fazer um plano furado! Bom, evitando os erros estamos na direção dos acertos.
Na verdade, não tem regra porque cada caso é um caso bem particular. Também muita coisa do que vou dizer aqui não é necessariamente errado, desleixo, mancada, furo, ingenuidade, falta de informação, brabice, lezeira, etc. Eu mesmo fiz várias dessas coisas e no final saiu tudo muito bem. Apenas, tenho visto muitos casos de imigração, suas decisões e consequências. Também já vi muita frustração de quem fica e de quem acaba voltando, dizendo que o Canadá não passa de uma grande mentira. Daí, acho interessante no mínimo que vocês tenham conhecimento de alguns pontos e que talvez possam melhorar o plano de vocês. Vamos a eles:
- Época de chegada: Começando pelo mais importante que é o primeiro emprego. Tem profissões que tem mais procura de emprego em determinada época do ano, que não é necessariamente a mesma para outras. Um fator é o período prolongado de férias de verão. Ele esquenta para algumas atividades como as ligadas a turismo e atividades de lazer, mas alguns projetos esfriam porque muita gente tira férias. Vale a pena pesquisar para a sua área.
Chegar logo de cara no inverno pode ser um peso desnecessário. Já temos que comprar as roupas caras de inverno logo, fica escuro às 16h30, não dá tempo de se adaptar ao frio e não é legal fazer transporte de móveis e eletrodomésticos grandes no frio.
As garderies começão a abrir vagas um pouco antes do verão porque depois das férias algumas crianças atingem a idade mínima para começar a estudar nas escolas.
Quem pretende entrar no curso de francisação não quer chegar muito antes para não esperar demais, mas se chegar perto demais, pode ficar sem vaga. Isso varia também de cidade para cidade.
- Procura do primeiro emprego: Dizem que um currículo fora do formato daqui corre sério risco de ir para a lata de lixo (do Windows !) sem nem ter sido lido. ˝Poxa, o cara não se deu nem o trabalho de saber como é que se faz um currículo!˝, pensa o analista de RH. Isso pode prolongar desnecessariamente essa fase. E pouco ou muito, mas o nível de idioma quase sempre atrapalha. Estude muito! Ainda não vai ser suficiente!
- Falta de informação: Neste quesito, existem inúmeras possibilidades. Não pesquisar a área de trabalho na cidade escolhida, não saber o que precisa fazer para exercer a profissão, quando é regulamentada (acreditem, tem gente que só descobre quando chega). Tem gente que morre de medo do frio daqui. Eu mesmo era um deles! Mas por outro lado, tem muitos o subestimam e negligenciam o fato de que vão passar meses de frio extremo todo ano, como se não fosse motivo suficiente para trazer arrependimento.
- Expectativas e frustração: É muito chique morar em pais desenvolvido, primeiro mundo, América do Norte, um quase-que-moro-nos-estados-unidos, etc. Dá para criar mil expectativas de ter uma casona com um gramado na frente, uma lareira para o natal, um Corvette na garagem, etc. Principalmente quem tem um padrão de vida muito bom no Brasil. Tudo bem, eu peguei pelo extremo, mas para muitos, o que acontece é o extremo oposto: desempregado gastando em dólar o que juntou em reais, sem nome no mercado, sem passado, sem amigos (ou quase), sem família, quase surdo-mudo por causa do idioma, andando de ônibus e a pé no frio, em um apartamento pequeno que às vezes só tem o banheiro separado e o resto é um cômodo só, e por aí vai. Para quem é humilde, essa ˝queda˝ não representa problema nenhum. Porém, muitos se sentem em uma situação humilhante pois se vêem como ricos que viraram pobres. E o que a família e os amigos no Brasil vão pensar? Será que você está disposto a pegar um survival job/emprego básico(˝bico˝)?
Também nessa linha de raciocínio, existe a fórmula que diz que a satisfação é diretamente proporcional à boa experiência percebida, mas inversamente proporcional à expectativa criada. Seguindo essa fórmula, o ideal seria se concentrar para superar o lado ruim sem ficar sonhando muito com o lado bom, até porque, como já escrevera (adoro o mais-que-perfeito !) em outra postagem, aqui não é o céu.
- Contar com o incerto: ˝Eu vou morar ali porque assim que chegar vou logo comprar um carro˝. ˝Desculpe, senhor, mas o banco não financia para quem não tem histórico de crédito.˝ Ops! ˝E nós pagaremos essa conta com os 460$/mês da francisação˝. ˇLamento, mas não tem mais vagas nessa turma. Agora só no outono!˝. ˝E todo mundo diz que vou estar contratado em no máximo dois meses, já que sou de TI.˝. Não sei de onde tiraram essa regra que serve para todo profissional de TI com toda essa certeza! Já vi um caso do cara passar anos como faxineiro e nunca mais ter exercido a profissão que tinha de TI. Tendencia, sim. De fato. Mas certeza, não dá. Até porque depende da área de atuação específica e também da cidade.
- Superestimar a empregabilidade: Pegando o gancho do assunto anterior, tem empresa aqui doida para contratar mas não encontra gente para a vaga. Tem deles que diz que o cara não precisa nem falar inglês, nem francês. Pode falar até tagalo (idioma falado nas Filipinas). Mas muitos desses casos são de procura de profissionais bem qualificados, que têm uma excelente experiência. À medida que o nível de exigência baixa, o universo de candidatos fica maior e os canadenses começam a levar vantagem em relação aos imigrantes. Por isso, não contem que vai continuar sendo gerente quando chegar aqui, ou na mesma função, ou que vai ter uma rede de contatos boa como a que tinha no Brasil.
Também não é bom apostar em um bom salário e se comprometer com gastos altos porque o aluguel, por exemplo, quase sempre é de no mínimo um ano. Como também se comprar aquele carrão à vista e o emprego demorar, pode ser que esse dinheiro faça falta. E também acabam aparecendo contas imprevistas como possíveis (depende da instituição) taxas extras caso não possa pegar os filhos no meio da tarde na escola ou garderie/creche. Então, bote uma folga no orçamento.
- Não incluir toda a família no projeto: A vida da família toda vai mudar, então, todos devem estar incluidos no projeto. Se, por exemplo, o cara está trabalhando, com o idioma bom e bem integrado à sociedade mas a esposa que queria trabalhar ou estudar só fica trancada dentro de casa, sem aprender o idioma e isolada da sociedade, isso tende a se tornar um problema. Para muitos, não necessariamente o trabalho é essencial, mas ter alguma ocupação que tenha interação social é importante como estudar ou fazer trabalho voluntário.
No caso do ex-profissional de TI que virou faxineiro foi o contrário. A família toda estava há anos bem estabelecida e amando o Canadá mas ele, depois de 5 anos como faxineiro aqui, pensava em voltar para o Brasil.
Eu sei que estou pegando pesado e às vezes soa exagerado. É porque para muitos acontece tudo de bom e tomara que seja o seu caso, mas para outros, é realmente uma péssima experiência e muito se deve ao que acontece ainda antes de vir para cá. Por isso que de tempos em tempos eu perco alguns leitores por falar de coisas ruins, mas posso continuar dormindo de consciência tranquila.
Ter a cabeça nas nuvens, mas os pés no chão não é para qualquer um, já dizia a girafa!
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Mais puuura verdade!!!!
ResponderExcluirTo aki há quase 3 meses ... chegamos achando q o marido ia conseguir um emprego rápido pq ele é de TI .... e por enquanto nada.... tem q pensar muiiiito antes, se preparar mesmoooo.... outra coisa é o idioma!! Estudem o máximo q conseguir.... pq as vezes achamos q somos "fluente" e qdo vem morar no dia-a-dia descobre q tem muiiitas deficiencias!!!!
ADOREI seu post..... o negocio é vir com os pés no chão.... pensar q vai passar uns perrengues.... mas acho q quem mesmo quer fazer a coisa acontecer não pode desistir!!!
Um gde abraço da sua leitora fiel!!!
Fabiana
Alexei, é por isso q seu blog continua ganhando leitores e fidelizando-os, assim como André e eu somos ao teu blog..... A REALIDADE!!!
ResponderExcluirSugiro mais outros posts assim rrsrsrs vai ter sempre pano pra manga rs
foi simplesmente ótimo seu post! fecho demais contigo, estou aqui por montreal e o que tenho a dizer é:
ResponderExcluir- é OBRIGATÓRIO ter inglês e francês pra se dar bem. os dois, falar e escrever, mesmo que não seja proficiente. - - sou de ti, desenvolvedora com experiência. aqui todos querem me dar cargos de júnior+ e muito eventualmente intermediário. é uma realidade o fato de você não ter experiência canadense, mas não me sinto ofendida: pelo menos no primeiro ano há muito por me adaptar e uma posição mais baixa significa menos pressão nessa chegada.
- quanto mais dinheiro melhor e sempre será pouco, há menos que se chegue aqui com umas 100 mil doletas.
- quem faz muito turismo e corre pouco atrás logo que chega vai sentir muito nos meses seguintes. empregos não faltam, mas em montreal você tem que se candidatar, ligar, cobrar, mostrar presença, ir dormir exausto e fazer tudo de novo no dia seguinte.
enfim... é preparar-se e muito!
Eu sinceramente acho ótimo esse tipo de post que nos ajuda a nos preparar e assim conseguir vencer os desafios da melhor maneira possível.
ResponderExcluirE a vida segue...
Bom gente, se vocês aprovaram o tipo de postagem, então não vou ser eu quem vai dizer se é interessante ou não escrevê-lo. Mas foi uma surpresa para mim.
ResponderExcluirEsse post deveria ser leitura obrigatoria para todo imigrante...rs. Concordo 112,42% :) Principalmente no q toca a area de TI. As pessoas adoram generalizar, acham q TI é uma coisa pequena quando na realidade é um sub-universo (heheh).
ResponderExcluirGostei de descobrir o blog de vcs...
Abs e mantenham o blog vivo!
Luiz
Amei seu post, ajuda muito a refletir sobre vários fatores!
ResponderExcluirEstou prestes a chegar a Québec (cidade), também graças a Deus com um emprego garantido, mas não menos preocupada por isso. Chegarei no meio do inverno, a língua ainda preciso estudar demais, como eu mesma já sei, pois visitei há poucos meses Québec, e meu francês ainda está muito MUITO pouco para o que eu preciso...
Queria um email seu é possível?
Preciso de algumas dicas para alugar ape, lugares e tal...
Eu imagino que muitas pessoas devem te perturbar, mas estou meio desesperada, pois meu caso foi um pouco atípico, com pouco mais de 2 meses prá nos preparar!
obrigada
Green, entre em contato comigo para prepararmos a vinda de vocês. Meu email é alexeiaguiar@gmail.com. Parabéns pela conquista. Bom planejamento!
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