quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Eleições, queda, separatismo e atentado


 Fiuuu!!! Deixem-me pegar ar para começar. Mas por onde eu começo sem escrever uma postagem longa como um livro? Bom, lá vai. Era uma vez...

Ontem foram as eleições provinciais do Québec. Elas são convocadas quando o primeiro ministro achar mais conveniente...para ele! Tem um prazo máximo, claro. Ainda não somos cidadãos canadenses e por isso não pudemos votar ainda (2014 vem aí!). Os québécois tinham basicamente três escolhas expressivas:

PLQ (Parti Libéral du Québec). É o partido do Jean Charest, que era o primeiro ministro há 9 anos. Eles estão atolados até os chifres em escândalos de corrupção, defendem os interesses dos grandes grupos econômicos, não se importam em devastar os recursos naturais se isso se traduzir em dólares (vide Plan Nord) e são federalistas (Canadá).

PQ (Parti Québécois). Liderado pela Pauline Marois, prega o nacionalismo (o orgulho da nação québécoise), a defesa do francês (reforçar a lei 101) e o polêmico souverainisme/separatismo.

CAQ (Coalition Avenir Québec). Fundado também pelo seu principal representante, François Legault, fundiu-se com o ADQ (Action Démocratique du Québec) e tem apenas uns 10 meses de vida. Apesar de ter umas propostas interessantes, mas com implementações esquisitas, impraticáveis e sem fundamento, seria ainda assim a minha escolha por não ter nem a corrupção do PLQ, nem o radicalismo e o perigoso separatismo do PQ.

Aqui o voto não é obrigatório, mas mesmo assim, cerca de 75% dos eleitores foram às urnas para decidir o rumo de suas vidas. Encerrada a votação às 20h00, começou imediatamente a apuração que já contava com alguns votos antecipados, já que é possível votar em alguns dias antes. As eleições são indiretas, logo, vemos em tempo real na televisão e no site a quantidade de certos ou prováveis deputados eleitos de cada partido. O partido que tiver mais deputados escolhe o seu primeiro ministro, que já é conhecido antes mesmo da curta campanha eleitoral de um mês.

A previsão era de vitória fácil do PQ, mas a tensa apuração mostrava um empate técnico entre o PLQ e o PQ. Uma hora um estava na frente, outra hora era o outro partido. Eu já estava roendo as unhas dos pés. Lentamente, a tendência se definia e acho que por volta de 22h00 eles anunciaram que não tinha mais como reverter a situação. O PQ de Pauline Marois havia ganho as eleições com um governo minoritário. Isso quer dizer que eles não obtiveram mais da metade da quantidade de deputados, mesmo se contarmos com o quarto partido que o apoia.

O texto ainda não está tão longo, né? Pois continuando...

Um pouco antes de meia-noite, eis que começa a confusão. Dois agentes de segurança pegaram a Pauline pelos braços e a levam apressadamente para fora do palco. A platéia não entendeu nada porque não sabia, mas um homem armado de um rifle e uma pistola fez ao menos dois disparos, matando uma pessoa e ferindo gravemente outra dentro do Métropolis, que era onde a Pauline estava fazendo seu discurso de vitória. Na saída, este usou algum artefato para atear fogo na parte de trás do prédio, sendo preso logo depois pela polícia. Enquanto era levado para dentro do carro, o québécois anglófono disse em francês "Les Anglais se réveillent!/Os ingleses estão se acordando!", "C'est la vengeance!/É a vingança!".

Ainda não se sabe ao certo se esse cara pretendia realmente matar a Pauline ou se tem problemas mentais, dentre outros detalhes. Mas acredita-se que foi um fato isolado que não representa a real situação da população.

Já que o CAQ era novo demais para ganhar, acabei preferindo esse resultado. O corrupto e arrogante Charest saiu do poder de forma vergonhosa. Além de seu partido ficar como segundo, este nem se reelegeu como deputado e resolveu abandonar a carreira política. A minha interpretação do resultado foi que os eleitores estavam entre rejeitar a corrupção ou o separatismo. No final das contas, dando um mandato minoritário ao PQ, ficamos com um bom compromisso entre os dois problemas. Falta agora eu falar do separatismo e da lei 101 em outras postagens.

2 comentários:

  1. Promessa é dívida conterrâneo.
    logo o resto da postagem porque parece que só nós dois temos a mesma opinião no mundo da imigração...

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  2. Boa, Alexei...

    Tava vendo anteontem um programa na Radio-Canada lá pelas 7:30h-8h00 que é como o CQC do Québec. Muito engraçado e com perguntas que todo o povo quer fazer aos políticos quebequenses... E o carro dos caras da reportagem ficou preso na "cena do crime", que foi onde o nosso amigo anglófono tocou fogo... Bem... No meu entender, o resultado mostra que o povo nao estava triste com os liberais, pois entraram 50 deputados contra 54 do PQ. Muitos no dia seguinte à eleiçao me falaram isso. O que eles nao "guentavam" mais era o Jean Charest. E agora, com o governo minoritário, vai ficar difícil para a Mme Marois aprovar suas propostas mais radicais. O primeiro teste creio que será a anulaçao da alta das "frais d'éscolarité", que ela já prometeu para a galera da FECQ (Martine Desjardins tá vibrando). No meu trabalho, muitos disseram que em menos de 2 anos o governo será substituído de novo. E finalmente, hoje saiu uma pequena pesquisa que diz que 42% dos que votaram estao insatisfeitos com o resultado. Seja porquê nao queriam que o PQ ganhasse, seja porque acham que o governo minoritário nao vai funcionar. Se pudessem, votariam de novo. Vai entender esse povo...

    Abraçao e a Paz
    Igor Schultz

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