segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

FRRRRR



Eu ouvi alguém dizer que depois de -20°C, é tão frio que tanto faz a temperatura que nem sentimos a diferença.  Pantoute!/De feito nenhum! Eu decoro a temperatura mínima de cada inverno. Em 2010, fez -26°C e a já a -20°C o corno displicente motorista de ônibus me deixou congelando no meio do nada, completamente perdido e o próximo ônibus só passava depois de uma hora como contei nesta postagem. Em 2011 também fez -26°C, mas a sensação térmica chegou a -44°C como filmei e comentei nessa postagem. O inverno de 2012 foi chamado em uma reportagem da RDI de "o inverno que foi interrompido" de tão fraco e atípico. Mesmo assim, chegamos nos -24°C.

Esse inverno resolveu dar uma "refrescada" na lembrança dos québécois de idade mediana e mais avançada, ao chegar aos -29°C e sensação de -42°C. A temperatura mais fria em Québec desde quando começaram a registrar foi de -36,5° em 1972 como podem ver aqui. Não só isso. Quando a temperatura dá um mergulho desses, normalmente passa um ou dois dias e retorna a sua faixa típica acima dos -20°C. Mas passou cerca de uma semana de frio mais intenso, o que eu não tinha visto ainda. E mesmo quando a temperatura começou a subir, o vento gélido continuou impiedosamente a subtrair ao menos 10°C de sensação térmica. Comentei com uma colega de trabalho que mora em Boston, a apenas seis horas mais ao sul de Québec, que era o dia mais frio da minha vida. E ela respondeu que o dela também!

Passar dos -20°C parece romper um limite físico como a barreira do som, pois algumas coisas mudam visivelmente. Em vários lugares, começa a criar gelo na parte de baixo das janelas, mesmo as de boa isolação com vidro duplo e que ficam logo acima dos aquecedores regulados a 22°C. Quando abria a porta de manhã cedo, o choque térmico criava uma fumaça que entrava na casa. Mas o que mais apresenta mudanças são os carros. Muitos deles não dão partida e a quantidade de acionamento dos serviços de socorro mecânico aumenta absurdamente. 70% deles, por causa de bateria fraca. Ao me virar para colocar mochilas no bagageiro, quase bato o rosto na quina da porta traseira do carro porque ao invés de subir como sempre, ela simplesmente parou no meio do caminho. Mesmo esperando alguns minutos para o carro esquentar, tudo fica duro: direção hidráulica, freio, embreagem (no carro antigo que tinha). O carro fica tão doido que tem horas que ele avança uma marcha por engano e volta para a anterior imediatamente.

Não vou mentir. É frio pra burro, cavalo, boi e tudo quando é bicho, mais ainda para os bípedes (ir)racionais. O carinha do "Têtes à claque" conta que os ursos têm 5 cm de pele (será?) e mesmo assim, ficam até a primavera escondidos em uma caverna. E nous autres/nós? Compramos luvinhas no Walmart! Mesmo com o meu aparato que me permite praticar snowboard a -20°C sem que o frio me incomode (a atividade física ajuda), não dá para fazer piquenique no parque a -29°C. Só o que podemos fazer é controlar as duas outras variáveis: reduzir o tempo de exposição ao mínimo possível. Sabe as compras de supermercado? Que tal fazer antes do que a previsão meteorológica mostra como alerta em vermelho? Sem dúvida nenhuma, com um carro fica muito mais suportável.

Hein? A outra variável? Que outra vari...ahh, sim! A outra é a cabeça! Me perguntam em várias situações:
-Mas você não sente frio?
-Claro que sim! Não tenho a camada de gordura por baixo da pele para me proteger e uso menos roupa que a média das outras pessoas.
-E como você aguenta o sofrimento?
-Sendo masoquista!

5 comentários:

  1. Mas é pior que andar na rua às 22:00, tenso, com medo de ser assaltado a qualquer momento? Pq aqui no Brasil é assim em praticamente qualquer cidade grande...

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    1. Depende de cada um. No Brasil, eu era extremamente paranóico em relação a assaltos, porque já fui assaltado 5 vezes, inclusive com revólver no rosto. Toda vez que estava nas ruas, ficava em alerta, vigiando 360° e ninguém chegava perto sem que eu não soubesse.
      Aqui, o frio não me faz medo e pego o vento de cima da montanha para descer de snowboard com sensação térmica beirando os -30°C.
      Mas tem gente que andava sem medo nas ruas (ao menos dizem isso) no Brasil e detestam o frio daqui.

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  2. ah, esse frio, que delicia! ... brincadeiras à parte, eu gosto de inverno *normal*. -40 é de doer os cabelos. em 2010 eu fui passear de raquette em North Bay (morava em Témiscaming na época) e depois do passeio ganhei cabelos congelados. Achava que aquele era o dia mais frio da minha vida, tolinha, estava com apenas -30 rsrsrsrs

    Ano passado foi bem meia-boca, por isso que esse ano Sao Pedro nao pestanejou e mandou ver.
    meus pais vieram passar 5 semanas aqui e para quem nunca tinha visto neve nem vivenciado frios glaciais, eles sairam bem servidos....

    o que me mata nao é o frio em si, é o maledeto vento ... e como venta na capital!!!!!! (saudade de Témis rodeada de montanhas e sem vento rs)

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    1. Concordo. O que maltrata mais é o vento. E, de fato, aqui tem mais vento mesmo.

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  3. Prefiro mil vezes frio, do que a paranóia que se tem aqui no Brasil por causa da insegurança, em questão minha cidade. Que é lotada de "santinhos do dia".

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