A saga de uma família de retirantes cearenses, comedores de rapadura,
rumo à terra onde a Cana dá.
Fortaleza -> Ceará -> Brasil -> Canadá -> Quebéc -> Québec
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
E as crianças? Como vão?
Para os pais que ficam angustiados com a adaptação dos filhos, vou contar agora como estão os nossos após seis meses de adaptação. Muito bem, obrigado! Claro que não vai ser regra geral e absoluta, mas foi como muitos me disseram: Esqueça a adaptação das crianças que você vai ficar surpreso de ver como é rápida. O problema somos nós adultos (véios!).
Primeiro que criança faz amizade muito facilmente e nem precisa falar. Uma chega para a outra, sorri e sai correndo. A outra responde com outro sorriso e sai correndo atrás! Pronto! Já começou uma amizade! O Davi então, muito cara de pau, conversa com todo mundo que passa em português que às vezes nem nós entendemos. Mas ele não está nem aí. O objetivo dele é que alguém fale algo de resposta e consegue. Também, a necessidade de comunicação das crianças é menos sofisticada que a nossa e só o contexto muitas vezes já diz tudo.
A parte que dá mais ansiedade é deixar a criança nos primeiros dias na escola, como eu escrevi nessa postagem. A Lara adorou a escola e não teve nada que a incomodasse, pelo contrário, ficou até ansiosa para chegar logo o dia no qual ela começaria a chegar um pouco antes e ficar um pouco depois da aula. Porém, ela teve uma recaida na timidez extrema que tinha e que foi magicamente corrigida pela escola Casa de Criança onde ela estudou enquanto estávamos no Brasil. Simplesmente ficou muda durante os três primeiros meses de escola. Antes de entrar na escola, ela passou mais um mês sem muito contato com o mundo exterior. Um pouco disso foi por causa do evento que contei nessa postagem.
Mas, como haviam me contado que acontecera com outra criança, depois desses três meses a mudez acabou. Depois das aulas, não tive mais um pingo de preocupação em relação à sua comunicação quando ela começou o camp de jour/colônia de férias.
Ela já está com a cabeça pensando tão naturalmente em francês que percebemos no português como quando ela diz: "O Davi é lá" (ao invés de dizer está aqui), "Eu vou ir", "depassar na fila", "mais grande", "isso faz mal" (isso dói), "isso é por (pour/para) brincar", dentre muitos outros exemplos.
E a pronúncia? Meu Deus! Bastam três vezes para um fonema novo já sair perfeito! E ainda me faz passar vergonha! "Papai, não é du (U igual ao do português) lait. É DU (com o fonema que mistura o U e o I) lait!", "shhh (je suis em francês québécois) prête! Você quer dizer prêt (pronuncia-se como pré sem o T)? Papai! Eu sou menina! É prête (pronuncia-se prét, com o T)!". Xi!!! Foi mal!!! Sem contar que ela conhece palavras que eu não conheço, e vice-versa. Assim, todo mundo é professor e aluno ao mesmo tempo. Ahh! E já aprende com sotaque daqui! Enfim: O vocabulário ainda não permite falar de forma tão sofisticada e ainda comete alguns errors, mas está falando muito bem. Principalmente para quem tem somente alguns poucos meses de contato com o idioma.
O Davi começou em uma garderie en milieu familiale/creche em meio familiar, que nada mais é que uma mulher de paciência budista que toma conta de até seis crianças em casa. Nada muito interessante para o Davi, já que os outros eram bebês. Para matar o tédio, ele desregulava o aquecimento do apartamento até ficar pegando fogo, destrancava e abria a porta, brincava de pular por cima do bebê deitado no chão (ai meu Deus!) e outras bêtises/besteiras ou bobeiras. Mas ele não gostava porque não tinha nada muito interessante para fazer.
Depois que ele foi para uma garderie grande e que tem estrutura de escola, uma CPE (Centre de la Petite Enfance), mudou tudo, inclusive a nossa dor no bolso! Pagávamos uns 500$/mês e agora só 150$/mês porque ela é subsidiada pelo governo. Nada como ter muita coisa interessante para brincar, com muitos coleguinhas para bater..., digo, brincar! Bom, ele não é o recordista de estrelinhas de bom comportamento na agenda, mas já melhorou muito. Tem dias que a professora começa a escrever assim: "Afff!!!!...". Mas ele está adorando e percebemos no dia a dia que agora ele também está aprendendo francês.
O carinha é uma figura! Muitas vezes quando ele aprende uma palavra em francês, ele substitui a do português e não a usa mais. É tão curioso que ele diz "sim" em português e sempre "non/não" em francês! E às vezes ele faz gozação com quem fala francês e responde com um blá, blu, blé, blô, ... -Davi, o que é que tu está dizendo? "Eu tô falando com ela", apontando para a simpática senhora que pergunta algo a ele. Legal é que outro dia ele disse: Go papa! Go é vai em inglês e papa é papai em francês, que é como ele me chama agora.
A adaptação tem sido quase que puramente ao idioma. As comidas são as mesmas, adicionadas gostosas novidades. Quando ao frio, as crianças sentem bem menos que os adultos e adoram a neve. Parece que a circulação sanguínea deles é mais eficiente. Sinto pela temperatura das mãos. Também, conversando com amigos, dá a impressão que eles adoecem menos aqui que no Brasil. O resto é só festa. Muitos parques, muitos brinquedos interessantes, muita área verde para correr, praia de rio ou de lagoa, piscinas públicas gratuitas, muita área para andar de bicicleta, etc. e ainda com segurança.
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que bom que vcs estao todos bem e felizes!
ResponderExcluirque deus conserve!
beijos, paola
Ola Familia,
ResponderExcluirE esta facilidade com o idioma so tende a aumentar. Meu filho faz as mesmas trocas que os seus e muitas vezes o pegamos traduzindo frases do francês para o português. Com 2 anos aqui ja me questiono qual é a 1a lingua dele, uma vez que português ele so fala em casa e durante a semana o nosso contato é so a noite. Mas, vamos la, aqui fazemos um super esforço pro português ficar firme e forte, rsrsrs...
Pri,Mau e JP.
Eu estava lendo estes dias sobre um casal que viajou e agora querem ter mais um filho e eles também estao amando porque a primeira esta falando agora e imagina eles estao tentando adaptar as duas linguas pra ela falar o portugues e o ingles afinal estao fora do brasil.... mas estao numa felicidade só rsrs
ResponderExcluirPaola: Obrigado!
ResponderExcluirPriscila...: Me disseram que depois de um ano, as crianças dão preferência por usar o idioma daqui a falar em português. Vamos ver.
Fabiana...: Sai uma salada, mas quem fala as duas acaba entendendo. Já quem só fala uma...
Olá , Boa noite , tudo bom?
ResponderExcluirSempre quando posso acompanho seu blog, e guardo alguns comentário que acredito que será útil. Estou com uma dúvida e gostaria que me ajudasse.
Estou no meio do processo de Quebec e se tudo dê certo, mudaremos no próximo ano (2011 )em agosto ou setembro. Agora em outubro vamos visitar montreal, conhecer , lugares , bairros... enfim. Tenho dúvida sobre a garderie para meu filho de um ano. O que preciso fazer para entrar na lista de espera? chegando em agosto ou setembo terei chance de efetuar matricula. Pensei até em me cadastrar esse ano que estou indo de férias , mas nao tenho endereço, telefone, nada disso (pelo menos em montreal)... estou confusa. Você que tem filho pequeno, por onde devo começar???
desde já agradeço
deniseharaujo@gmail.com
Oi, Alexei! Há anos venho postergando a decisão de dar entrada na papelada da imigração por medo da (não) adaptação da minha filha, hoje com 11 anos. Ela é mto tímida, e embora muitas pessoas já tenham me falado que as crianças se adaptam melhor que nós adultos, ainda tinha muito receio. Vc não imagina o quanto seu post me tranquilizou! Parabéns pelo blog e tudo de bom para vc e sua família. Sheila
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