sábado, 1 de setembro de 2012

Visitando o Brasil-Choque cultural reverso


-O sistema está fora do ar.
-Como assim?
-O sistema não está funcionando!
-Hum... E qual é a previsão de retorno?
-Não temos previsão!
-Por que não? Bom, deixe para lá. Então podemos continuar em qual outro posto do Detran?
-Se você for a outro posto, vai ter que fazer outra vistoria do carro.
-Mas eu já tenho esse documento aqui que atesta que o carro foi vistoriado. Ele está datado, carimbado e assinado, emitido pelo próprio Detran e para o próprio Detran!!! É outro posto mas do mesmo órgão!
-Mas a regra é que a vistoria só vale para os posto onde a ela foi feita.
-Mas...mas....como é que...por que? Eu não acredito! Não faz sentido nenhum! Eu vou passar o dia e a noite só para pegar uma segunda via de um documento de transferência!!! Tabernak!

Esse foi um dos vários absurdos que me surpreenderam durante as duas semanas que passamos de férias em Fortaleza, após dois anos e meio morando aqui no Canadá. Uma parte foi apenas relembrar que essas loucuras existem, mas outras foram novidade mesmo que extrapolaram o meu conhecimento.

Eu não sou de ficar detonando sistematicamente o Brasil, até porque sei que tem gente que se sente ofendido com isso e outros que veem como esnobismo. Mas como uma das finalidades de um blog de imigração é relatar as experiências que passamos, e o retorno ao país de origem é uma delas que é importante de ser descrita, sou obrigado a contar como me senti. Se você não gosta de críticas ao Brasil, recomendo parar por aqui

Começou logo no aeroporto, quando ao invés de recebermos bilhetes de voo em papel mais grosso e de tamanho padronizado como em todo o resto do mundo, recebemos somente uns papeizinhos parecidos com cupons fiscais que se amassam e rasgam muito facilmente. Economia de palito de fósforo considerando-se quanto pagamos pelas passagens.

 Eu sempre pensei que um estrangeiro chegando aqui se esbaldaria por causa da moeda forte, achando tudo muito barato. De fato, tem coisas que custam menos mesmo, principalmente as que dependem de mão de obra. Mas mesmo vindo com a taxa de um dólar para dois reais, achei algumas coisas proibitivamente caras. Com pouco menos de 120$ para dois adultos e duas crianças, nos divertimos muito no parque aquático Village Vacances Valcartier aqui pertinho. Já no Beach Park de Fortaleza, nos custaria a bagatela de 270$, que é mais que o dobro. Vetado instantaneamente!

O trânsito é um capítulo à parte que vou tentar resumir para não ser ainda mais chato. Quando imigramos, já tinha muito congestionamento e a educação dos motoristas era digna de um homem das cavernas. Em apenas dois anos e meio, percebemos nitidamente que a quantidade de carros aumentou expressivamente e não houve quase nenhuma mudança na malha viária, a não ser muitas ruas fechadas por obras. Segundo esse artigo, a frota de Fortaleza duplicou de 2002 a 2012 e só no mês de julho, teve um incremento de 6.554 veículos. Planejamento, zero! Ação, zero! E vem aí a copa do mundo de 2014!!!

Tem partes da cidade onde não existe mais o conceito de horário de pico, porque cedinho da manhã já estão congestionadas e permanecem assim até por volta das 21h00. Quando paramos nos engarrafamentos, passa um enxame de motos por todos os espaços possíveis e impossíveis. Uma rua de duas faixas em Fortaleza tem na verdade, 5 vias. O padrão é calçada, moto, carro, moto, carro, moto, calçada, lembrando que também tem motos que andam sobre a calçada. Eu prestava muita atenção porque não raramente, tem delas que cruza a frente do carro abruptamente para dobrar em uma rua de forma que se não freiarmos, passamos por cima. Vi até um louco que pegou a contra-mão em uma avenida movimentada! Mas como pedestre, estava pensando como aqui onde nunca uma moto passa entre carros e por muito pouco, uma que vinha até rápido por entre os carros parados quase me atropelou. Via batida de carros quase todo dia e perto de voltarmos, bateram no carro do meu pai. Não poderia ser diferente! Não cabe tanto carro! Por causa dos muros, os carros não têm boa visão e avançam um pouco nos cruzamentos, o que me dava muitos sustos. É como os revestimentos fumé mais escuros dos carros: mais segurança contra roubos e menos segurança no trânsito.

Prometo que é o último grunido rabugento que faço sobre o trânsito. Estava em uma avenida cujo trânsito estava alternando entre parado e se arrastando como lesma com câimbra. Em uma rua perpendicular, podiamos ver uma fila longa de carros aguardando a oportunidade rara para conseguir entrar na avenida. Quando o motorista de trás percebeu que eu estava começando a deixar espaço do carro da frente para dar a vez a um dos carros da rua perpendicular, começou a buzinar e piscar os faróis repetida e insistentemente. Câlice!!! Não se pode nem dar a vez a um carro que vem um idiota encher o saco! Em Fortaleza é típico alguém buzinar assim que o sinal fica verde, não deixando tempo nem da luz viajar do semáforo aos nossos olhos. Pior que é só para perturbar mesmo, porque normalmente essas pessoa saem mais lentamente que o carro da frente.

Já que é para detonar mesmo, agora vou comprar inimigos no atacado. A Rede Globo continua sendo a fonte oficial de """""cultura""""" brasileira, fornecendo nas novelas as Carminhas, Ninas, empreguetes, "Oi oi oi...", "Eu quero tchu...", etc. Como o futebol, a novela ainda é uma mania nacional. Vale a pena ler um pouquinho sobre Chomsky para entender o porquê da minha crítica. Ele explica como as massas são manipuladas pela mídia através desse tipo de recurso, dentre outros que vemos serem empregados de forma muito competente no Brasil.

Não estou dizendo que não existe cultura no Brasil. Pelo contrário. Por exemplo, foi bom rever os talentosos os músicos de bar com suas versões violão e voz, ao invés de ouvir o Michel Teló até quando estive na Polônia. Acreditem: um colega polonês cantou a letra toda do "Ai se eu te pego" em português bem explicado! "Ahh! Você é brasileiro? Então deve gostar dessa música...". Não! Eu detesto! Vá conhecer Bossa Nova, MPB, etc.

Bom, chega de estresse! Já passou mesmo! O importante é que é sempre bom rever a família e amigos depois de tanto tempo. Também foi bem forte a validação da nossa decisão de imigrar e que fizemos uma boa escolha. Não tenho nenhuma dúvida e não me arrependo nem um segundo. A Mônica e as crianças também pensam assim e de retorno, nos sentimos muito bem voltando não somente para o nosso lar, como também para a nossa cidade. Sim! Foram só dois anos e meio mas apesar do idioma, nos sentimos a vontade como nosso lar aqui e Fortaleza agora passou a ser uma cidade de turismo.

12 comentários:

  1. Realmente não tem como não comparar!! É só você sair um pouquinho de Fortaleza que você já percebe as diferenças, imagina vocês que passaram mais de dois anos fora. É meu amigo, você já disse tudo e Fortaleza, apenas pra turismo, e olhe lá....

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  2. E.. eu sou de sao paulo e a coisa nao muda muito por aqui. Entao nao coloquemos a culpa so em Fortaleza :)
    O transito e inviavel, a educacao nao e diferente, os problemas estruturais continuam e so se fala em manter o ipi baixo pra continuar vendendo carro e nao esfriar a economia brasileira. A Dilma recentemente anunciou 133 bilhoes de investimentos nos transportes ate 2030(!!!!) e entre 60%-70% desse dinheiro e para mais ruas e rodovias. Puro lobby da industria dos caminhoes/automoveis. Enfim, como vc disse tbem nao gosto de reclamar, so deixa a gente triste por gostar tanto de um pais e ter q dizer essas coisas sobre ele.

    Abracao! Boa semana!

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  3. Pois é amigo,
    A coisa tá cada vez pior por aqui. Parece q nada muda ou melhora. A falat de educação e a descrepancia entre ricos e pobres tem aumentado.
    Lamento por aqueles q eu amo e q um dia terei q deixar nesse país.

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  4. Também não curto ficar descendo a lenha no Brasil não, mas acho que, no caso do seu post, é simplesmente constatação da realidade. Acho que, se a gente já consegue ver o quanto essas coisas incomodam morando aqui, imagina depois de passar um bom tempo fora, como no caso de vocês. Impossível não comparar.

    Abraço!
    Doug
    http://jornadaparaonorte.blogspot.com.br

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  5. Allo, Alexei

    A primeira impressao que tive quando chegamos em Curitiba, em Dez do ano passado (nossa primeira viagem) é que as avenidas tinham encolhido! Pois estamos acostumados às largas ruas daqui do Canadá e de repente temos que andar com os outros carros e motos quase batendo na gente. Dá pra encostar no carro do lado! Outra coisa foram os hábitos no trânsito. Levar businada porque parei na esquina para a tia atravessar a faixa, quase fui atropelado como pedestre porque achei que o carro ia parar para eu atravessar na faixa, etc. Eu nao conhecia a música do Michel Teló, ehehehe... Fiquei ouvindo ela o mês inteiro no Brasil, quase morri... e quando chego em Montréal, tem versao em inglês e francês!!! O pior é os caras cantarem pra mim quando descobrem que sou brasileiro. Enfim... infelizmente nao tenho acompanhado mais as notícias do Brasil e nao tenho mais o direito de criticar ou elogiar. Sinto muita, muita falta de todo mundo que ficou lá e se pudesse trazia todo mundo pra cá. Porém, se possível gostaria de nao precisar mais voltar. A minha vida está muito, mas muito melhor aqui no Canadá. Mas imigraçao é isso. Para se tomar uma decisao, reunciamos à tudo o que a outra opçao daria. Nao dà pra ter as duas coisas.

    Abraçao e a Paz
    Igor Schultz

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  6. oie Alexei.
    Tudo bem? Olha eu não me ofendi em nada com seu comentário sobre o transito de Fortaleza. Eu vivo aqui. E detesto dirigir. Só o faço quando não tem jeito mesmo. Prefiro ir de ônibus ao meu trabalho ( não, o transporte não é o melhor do mundo, mas decidi que assim eu vivo um pouco melhor). Concordo com tudo o que voce disse.

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  7. Pois é gente, vocês entenderam o meu ponto de vista. Eu adverti porque fui chamado de "metido a besta", como se estivesse cuspindo no prato que comi. Só que mesmo antes de ter saído do Brasil (que a primeira vez já foi para imigar) eu já era estressado e reclamava do mesmo jeito de tudo isso. Achei injusto.

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  8. Conheci hoje seu blog e já gostei bastante! Também sou de Fortaleza, nasci aqui.

    Comecei a pesquisar sobre o Canadá e só tenho lido elogios.

    Como sou formado em Direito e funcionário público federal, ou seja, minha graduação não serve de nada aí e tenho estabilidade aqui, confesso que fico com receio de dar uma reviravolta na vida da nossa família (eu, esposa e filha de 2 anos).

    Muitas felicidades para sua família!

    Marcos Heleno.

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  9. Somos verdadeiros vencedores em conseguir sobreviver aqui!!

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  10. Sobre o Detran.. Passei pela mesma situação hoje! Foi muito engraçado ler seu post e lembrar do meu marido dizendo " a gente precisa ir embora do Brasil". Felicidades pra vocês!

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  11. Esses são alguns motivos que me fazem querer emigrar. Acho que a falta de educação no trânsito mostra a falta de educação e respeito do povo...

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