terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sistema de saúde canadense, parte III


Como disse na postagem da parte I, o sistema de saúde canadense é sempre algo bem polêmico. Tem gente que diz que é péssimo, tem gente que diz que é suficiente, tem gente que diz que é bom, etc. A conclusão que eu cheguei já faz muito tempo é que é tudo isso pois varia com diversos fatores como, por exemplo: gravidade do problema, o próprio problema, cidade, dia, horário, local de atendimento, profissional que atende, referencial de experiências anteriores, etc.

Na verdade, o sistema de saúde que considero é tão abrangente que começa em casa. Uma alimentação saudável aliada a atividades esportivas (viva a patinação!) colabora muito na prevenção de doenças. Ao menos no inverno, vitaminas e tomar água de tempos em tempos também previne. Tenho uma garrafa no trabalho para evitar ficar com a garganta seca por causa da baixa umidade. Mesmo assim, quando a garganta começa a reclamar, uso pastilhas Cepacol (aqui não tem própolis) para cortar logo no começo. Quando o problema é no nariz, um spray de solução salina regularmente lava tudo e faz milagres.

Depois de um ano e nove meses posso dizer com mais segurança que apesar do rigor do clima canadense, adoecemos consideravelmente menos que em Fortaleza. Mas, inevitavelmente, adoecemos. Nessas horas, começamos o diagnóstico em casa mas com o devido cuidado de não ultrapassar nossa capacidade e responsabilidade, afinal, não somos profissionais. Depois, vamos subindo a escala de acordo com o que acontecer.

Vou contar outro caso prático para ilustrar um exemplo de utilização dos vários recursos do sistema de saúde. O Davi teve uma febre leve. No começo, não é fácil saber a causa. Já tendo sido recomendado de outra situação, demos um antitérmico chamado Advil que temos em casa. Aqui em Québec não tem farmácias 24 horas, logo, é bom ter alguns remédios que possam ser úteis até o dia seguinte.

Passados três dias com alternância entre febre fraca e ausência de febre, ele começou a ficar com a secreção típica das sinusites e a  professora dele disse que tinha mesmo um virus rondando a escola. Para que ele possa dormir melhor, almofadas em baixo do colchão para deixar a cabeça mais alta como recomendado por uma enfermeira da emergência da outra ocasião.

Mas na escola, ele dorme na horizontal e acabou acordando com dor no ouvido. Chegando em casa, liguei para o Info-Santé Québec, no número 811. A enfermeira do atendimento fez várias perguntas e chegou à conclusão que eu suspeitava: do jeito que estava não era caso de emergência. Disse que o Advil aliviaria e recomendou um pano quente ou frio para ajudar, o que desse mais resultado. Mas se piorasse, disse ela, leve-o à emergência. Perguntei se seria indicado o CHUL, onde levei da outra vez e ela confirmou. Enquanto eu ligava, ele estava cada vez melhor, logo, poderia dormir tranquilo.

No dia seguinte, poderia levá-lo a uma clínica que fica no Place de la Cité, mas preferi o médico de família. Em geral, ele atende com rendez-vous/hora marcada, mas também atende sem, sujeito a espera maior ou mesmo não ser atendido. Cheguei às 13h30 e o consultório abria às 14h00. Fui munido de carrinhos, livros, água e comida e passamos bem as três horas de espera (desde as 13h30), já que não tive como marcar um rendez-vous. De fato, ele tinha uma tudite (rinite, laringite, faringite, e tudo mais...) e o médico passou o antibiótico.

Ao comprar o remédio, o farmaceutico sempre explica muito bem como administrar o medicamento e às vezes dá até uma folha de instruções. Me perguntaram se eu tinha um assurance medicaments/seguro medicamentos privado ou se usaria o do plano de saúde público. Mostrei a carteirinha do seguro complementar fornecido pela empresa e o preço do remédio caiu de 25,75$ para 2,58$.

A informação tem um papel importante nessa área e algumas pessoas têm más experiências também por mau uso do sistema de saúde. Experimentando e conversando, pegamos macetes e fazemos o melhor uso possível do que está ao nosso alcance. Mesmo sabendo que o sistema não é perfeito, até agora não tive maus relatos na nossa cidade. E o Davi está novamente derrubando a casa!

7 comentários:

  1. Olá, sabe que esse é um fator que me preocupa bastante?
    Eu sou super cuidadosa, sempre me monitoro para tomar agua, alimentar direito, mas meu marido já nao leva essa questao tão a sério e por isso já corremos várias vezes pro pronto socorro aqui no BR para acudí-lo. Até então só ouvia falar coisas ruins sobre o sistema de saúde por aí, e acho que a maneira que voces estão fazendo de ir pegando os macetes é a melhor forma de se adaptar a um sistema diferente!
    Abçs, Camila

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  2. Oie, Alexei!

    Estamos chegando no inverno e nosso novo bacuri ainda não teve nenhuma crise de saúde. Eu sempre falo que a Cris dá cremogema e calcigenol ao invés de leite... Porque não é possível. Mas estamos levando ele periodicamente no CLSC, que é também parte do sistema de saúde do Québec, e as clínicas parecem com clínicas particulares do Brasil. Claro, sempre com hora marcada, etc. Mas temos sido muito bem atendidos e o lugar é maravilhoso. Ainda não tivemos ninguém que ficou realmente doente, exceto os problemas de gravidez da Cris, mas grávida é sempre atendida com prioridade, então nunca tivemos de esperar. Assim, estou me preparando para a primeira ida à emergência ou à primeira ligada no 811. Espero que dê tempo de aprender a falar francês, (ihihih).

    Obrigado pelas informações!!!!

    Abração e a Paz
    Igor Schultz

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  3. Que bom que o rapaz já está aprontando das suas de novo. Saúde sempre é bem vinda.

    E a vida segue...

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  4. Pelo que você descreveu nas 3 partes o sistema de saúde pública de Quebec é melhor que o particular daqui de Cuiabá-MT, que também é muito caro! Parabéns pelo blog, muito bom! Continuem deixando os internautas informados, pois ajuda muito quem deseja imigrar como eu. Abraços

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  5. Muito bom Alexei, concordo plenamente. Tem que aprender a navegar o sistema. E gostei do comentário sobre a patinação :-)

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  6. Já li várias experiências diferentes sobre sistema de saúde no québec, mas que pelo menos em comum todos falam que hospital só em casos graves. Aqui no Brasil estamos acostumados a qualquer febre levar no hospital.

    Quanto a farmácia 24hs pelo menos em montreal tem pharmaprix que funciona 24hs, e algumas até meia noite.

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  7. Fui a uma palestra no mês de abril de 2014 sobre imigração para enfermeiros. Fiquei surpresa pois era apenas para essa área. Tenho 40 anos e não quero me arriscar. Gostei do seu blog, pois me esclarece algumas coisas. Quando comecei a ver o cometário sobre a saúde fiquei em alerta já que a última coisa que quero é ver gente sangrando e morrendo em corredores de hospital. Claro que posso fazer concursos para passar em hospitais de ponta aqui, mas a experiência de trabalhar em outro local e sair desse país que não tem mais solução não tem preço. Achei que fosse meter o pau no sistema daí, mas pelo seu relato você esperaria no pronto socorro em um hospital particular pelo menos 1h e em hospital público talvez seu filho nem fosse atendido. Bom, eu e meu marido vamos agilizar tudo para ver se até em 1 ano resolvemos isso. Adorei seu blog.

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