A saga de uma família de retirantes cearenses, comedores de rapadura,
rumo à terra onde a Cana dá.
Fortaleza -> Ceará -> Brasil -> Canadá -> Quebéc -> Québec
domingo, 7 de março de 2010
Querem me infartar!
Acabei de fazer o checkup do coração, só que não foi em um cardiologista. Foi na prática mesmo.
O primeiro susto foi assim. Fui pegar a mochila no armário do corredor de entrada, onde guardamos as roupas de inverno. Estava escuro pois era noite. Quando a mochila bateu na roupa, eis que subo a vista e me deparo com a roupa de frio da Lara, toda arrumanda como se tivesse vestindo uma pessoa. O que dava mais realismo eram as botas presas por dentro da calça. Na minha cabeça, a imagem que veio foi de um cadáver de criança enforcada. Colisss!!!(calice, palavrão québécois). Travou tudo por alguns segundos: cérebro, respiração, movimentos, etc. Depois que o cérebro processou a pegadinha, voltei a respirar e a descarga de adrenalina começou a fazer efeito. A Lara não imaginava que iria causar esse susto e a Mônica já havia caido nessa também antes de mim.
No dia seguinte, fomos à Regie de l'Assurance Maladie fazer nossa inscrição. La Carte Soleil (cartão de saúde) está nos fazendo falta, apesar de ainda estarmos no período de carência, porque ela é usada como documento com foto. Alguns estabelecimentos pedem dois documentos com foto e só temos o passaporte. Um aceitou a carteira de motorista brasileira como concessão e a Rogers aceitou o cartão de crédito brasileiro porque é internacional.
Todo mundo muito simpático, atendimento sem filas, ao contrário do que me disseram que é em Montréal, até que...
-Cadê seu C.S.Q. (certificado de Seleção do Québec) ?
-Não tenho. Fiz o processo federal.
-Só posso fazer sua inscrição com o C.S.Q.!
-Não tem algum documento alternativo que me permita fazer a inscrição sem o C.S.Q?
-Não! Me surpreende muito que você não saiba disso!
-A Soraya do birô de imigração do Québedc do Brasil me disse que eu não precisaria do C.S.Q. para nada, e um funcionário do M.I.C.C. (Ministério da Imigração e das Comunidades Culturais) confirmou isso.
-Eles trabalham com imigração e eu com assurance maladie.
-Mas realmente não existe nenhuma outra forma de se fazer a inscrição sem o C.S.Q.? Eu também estou surpreso com essa informação. Ahh ! Com o Certificado de Aceitação do Québec?
-Também não. Este é só para estudantes. Se você não tem o C.S.Q., você realmente não pode se inscrever. Se você quiser eu posso chamar a minha supervisora e ela vai dizer a mesma coisa a você.
De fato, a supervisora confirmou.
Nessas horas que somos pegos de surpresa, o cérebro não pensa claramente. A primeira ideia absurda que me passou pela cabeça foi procurar emprego em Toronto. E a segunda foi ter que voltar para o Brasil. Nem precisaria tanto. E lá fomos nós de volta para casa, andando os 800 metros. Dei uma passadinha no M.I.C.C. que fica pertinho daqui, uns 400 metros. Lá, uma funcionária que tinha sotaque e nome hispanico tomou as dores e ligou para lá indignada. Depois me deu o veredito. Bastava eu provar que residia aqui. Para isso, eu tenho o bail/contrato de aluguel e carta da HydroQuébec, a companhia de energia elétrica daqui. Realmente não precisamos de C.S.Q. para nada aqui, salvo os subsídios de universidade no primeiro ano.
Tabernake (palavrão québécois)!!! Eu não sabia se ficava alegre ou com raiva! Outra vez!!! Será que estão com medo do meu nome russo, resquício da guerra fria? Ou eu tenho cara de terrorista? Não. Acho que é porque tem muita gente fazendo o processo do Québec e indo para outras provincias, mas o meu caso que é o contrário, é muito raro.
Voltamos lá, mas dessa de ônibus descento na segunda parada. A supervisora se levantou do birô dela e veio para o lado das cadeiras de espera. Ela assumiu humildemente o erro e nos pediu mil desculpas pelos transtornos. A atendente também teve a mesma postura e ainda disse duas vezes: Eu aprendi. De quebra, deu papéis com desenhos para colorir e lápis coloridos para as crianças e adesivos colantes. No HSBC, fizeram o mesmo. Acho que é comum aqui, já que não tem babás para as crianças ficarem em casa.
A contagem do período de carência não bateu com os meus cálculos. O tempo foi considerado para todos a partir da minha data de chegada, mas, pelo que entendi, foi arredondado para uma janela e ficou como 28 de fevereiro. Cheguei em 15 de janeiro. Daí, estaremos cobertos a partir de primeiro de maio. O meu plano privado da GTA não vai cobrir abril, ao contrário dos demais. Vou ter que contratar esse mês possivelmente em alguma seguradora daqui.
Outra vez, mais um final feliz e um coração aprovado no teste prático.
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ai, ai, ai... aguenta coracao! hehe
ResponderExcluirmas nao entendi sobre a contagem do seguro saude. ce falou primeiro de marco, mas vai ter que contratar uma seguradora pra abril... fiquei confusa. :)
Caramba.. que susto!!
ResponderExcluirE o francês, como está? Pelos seus post vc já tá se virando super bem..
Quando der faz um post contando mais detalhes...
Abraços!
é triste demais ver como despreparo tem em qualquer lugar...
ResponderExcluirCecília: Perdão. Vai valer a partir de primeiro de maio. Corrigi no post. MAs mesmo assim, ainda não entendi como é a regra.
ResponderExcluirPat: Engraçado. Se virar não tem tanta relação com falar bem como eu pensei. Ao vivo, fazemos arrodeios, mímicas, chutamos cognatos sem saber se existe, etc. Em compensação, mesmo agora que estou falando bem melhor francês e inglês, tem horas que falta jeito para falar algo mais específico nas duas. Também depende absurdamente da pessoa com quem falamos. Tem horas que entendo tudo mesmo quando falam muito rápido, e tem horas que não entendo nem uma palavra, mesmo repetindo devagar.
P: Dou desconto porque meu caso é bem raro, mas tem sido bem chato.
Essa das roupas no armário é cena de filme de terror de Hollywood. Hehehe. Quanto ao erro das duas que te atenderam, ainda foi melhor que no Brasil. É bem capaz que por aqui nem pediriam desculpas.
ResponderExcluirE a vida segue...
Se tem uma coisa que aprendi é que o povo aqui é muito simpático, mas ao mesmo tempo muito desinformado.
ResponderExcluirhttp://variacoesdotema.blogspot.com/
César e KK: Me disseram que o atendimento daqui se perde quando saímos do roteiro como no meu caso que é raro. Fora esses dois casos de CSQ, todo o resto tem sido tranquilo.
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