sábado, 10 de abril de 2010

Passiá carrão pata papai?


É assim que o Davi pergunta se vamos passear no nosso novo carrão prata. Ele também chama de vuatú ajã (voiture argent/carro prateado) e mesmo que ainda não seja compreensível para um francófono, ao menos mostra que ele está aprendendo.
Para os padrões daqui, o carrão (Kia Rio) na verdade é peba/de baixa qualidade (nota do tradutor: peba é um termo do dialeto cearense). Porém, nos sentimos como se fosse o Corsa que tinhamos porque é parecido até esteticamente, também é sedan e tem a mesma cor. Não tem trava e vidros elétricos como o Corsa tinha, mas tem air bag, som com USB, viva voz bluetooth, motor 1.6 16 válvulas e tem ABS. O air bag e ABS são itens de luxo no Brasil e aqui, ao menos o ABS, é padrão há décadas e ninguém nem fala mais. Também! Vai frear na neve! Com frete, preparação, impostos e tudo mais, paguei 3.000$ e financiei 11.000$ em dois anos com juros de 0% por um  o carro 0Km. Pelo poder de compra daqui, é como se ele custasse R$14.000,00 no Brasil. Outro fato que o faz ser um dos mais baratos carros novos daqui é que ele é da Manuelle. Isso foi uma confusão que fiz porque tem nome de gente. Na verdade é que tem cambio manual e a grande maioria tem cambio automático. Não me importo. Sempre dirigi carros da Manuelle no Brasil. Ahh!!! Tem garantia de 5 anos em tudo, exceto pedais, limpadores de parabrisa e pneus. E temos direito a um mecânico para nos salvar caso tranque com a chave dentro ou falte gasolina, sem pagar extra.
O fato é que estou muito contente por ter conseguido mais essa vitória na nossa caminhada aqui. Usei a palavra caminhada porque todos nós andamos pra caramba! Eu ando no mínimo um quilômetro e meio todo dia, e chego a andar quatro quilômetros, sendo um de subida de ladeira como se fosse subida de serra. Mesmo com o carro, continuamos andando porque é saudável e já estamos habituados.
O primeiro contentamento vem do fato de que a Mônica e as crianças não vão mais ter que andar no frio de -20 graus, rajadas de 60Km/h e chuva para pegar a Lara na escola. Nesses dias, o carro não vai ficar de enfeite na garagem, já que continuo indo para o trabalho de metrobus por opção. Tenho direito a uma vaga no estacionamento da empresa, mas não espero nem 5 minutos pelo ônibus, normalmente vou sentado, lendo e a empresa paga a carga do cartão de passe.
O segundo contentamento é pelo fato de ter vencido uma batalha dura. A primeira concessionária da Kia disse que pela falta de histórico de crédito, nenhuma concessionária iria financiar um carro para mim. Fui na segunda também da Kia. Lá, sabendo de toda a minha situação de imigrante recém-chegado, começamos o processo. Suspense no aguardo da resposta da financeira e trim, trim, toca o celular. Era o gerente comercial:
Seu financiamento foi aprovado. Só falta você nos enviar um fax com a carteira de motorista do Québec. Câlice de tabernake! (vocês já sabem, né? Palavrão québécois) O cara sabe que eu não tenho! Vai ver isso é bem uma maneira polida de dizer não. Liguei para o vendedor que me deu uma notícia boa demais para ser verdade: Basta você ir na SAAQ aqui do lado e pegar uma carteira de aprendiz! Vá lá que você resolve hoje mesmo. Liguei para a SAAQ e confirmei minha suspeita: Só poderia fazer isso se eu tivesse feito os 5 módulos do curso obrigatório. Era dia 31 de março e o meu exame teórico estava marcado para o dia 15 de abril, que foi a data mais próxima que me deram. Quem não arrisca, não é petista, já diz o ditado (mudei um pouco para ficar mais divertido). Liguei e consegui transferir para o dia seguinte, que era primeiro de abril. Putz! No dia da mentira! Lai vai eu fazer o exame e graças a Deus, passei, mas sai só com um papelzinho de uma carteira de aprendiz e ainda provisória. Mandei para o fax do gerente comercial e quando liguei para confirmar, ele já tinha mandado para a financeira.
-E aí? É suficiente?
-Não sei, mas quando derem resposta, eu te ligo.
Passamos os quatro dias de feriado de páscoa no suspense e na terça-feira ele me liga.
-Beleza! Foi aprovado! Ligue para o vendedor para vir buscar o carro.
-Pode ser hoje? O carro vai estar pronto?
-Sim.
-Emplacado e licenciado?
-Sim.
E assim fiquei eu, sorridente cantando vitória, quando ele me liga:
-Tem mais um detalhe.
-Qual?
-O carro só pode sair da concessionária com a certidão de seguro. Você já fez o seguro dele?
-Não! Não tenho o número do chassis! Mande-mo (eita! É mande + me + o. Detonei agora!) via email que eu vou ver o que eu consigo fazer.
-Sim.
Por sorte, contratar um seguro aqui é mais fácil que descascar banana (a banana daqui é colombiana e muitas vezes só conseguimos começar a descascá-la usando uma faca. Estou falando sério!). Liguei para o Desjardins e, a partir do número do chassis, a mulher já tinha todos os dados do carro. Caramba! Ela me pediu o nome da concessionária, o nome do vendedor e me pediu para aguardar um pouco. Quando voltou, ela me disse que já estava tudo resolvido. Quando perguntei se ela poderia me dar algo via fax para mandar para eles, ela disse que já tinha mandado, que o carro já estava assegurado e que não precisava fazer mais nada. Isso em apenas uns 15 minutos de ligação! Vai para o Guiness book (o livro dos recordes).
Depois do trabalho, passei lá, assinei uma pancada de papéis e já pude me vingar da ladeira da ave. St-Sacrement. É que das outras duas vezes que fui à concessionária, sai de lá a pé e tive que subir um quilômetro de ladeira muito íngreme como havia falado antes. Dessa vez, subi dirigindo e cheguei em casa bem menos cansado e muito satisfeito por ter dado certo.
Essa confusão toda aconteceu no primeiro de abril, mas juro que é verdade!

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oi Alexei,

    sempre leio teu blogeachomassaospost.Ri muito por causa do "mande-mo" hehehehehe. Acho muito massa o jeito de você postar as coisas daí e parabéns pela família linda que vc tem :)

    Eu moro em Fortaleza e acabei achando teu blog nas minhas andanças pela net. Tenho o objetivo de ainda um dia morar em Québec, e se Deus quiser acho que vou poder concretizar daqui uns cinco ou seis anos... Se vc me permitir, vou ser uma leitora assídua do seu blog e torcendo muito por vcs "meus conterraneos" aí no Canadá.

    Abraços,

    Anna Paula

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  3. Anna: Obrigado. Espero que seus sonhos se concretizem.
    César: Valeu.

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