sábado, 2 de janeiro de 2010

Choque cultural


 O blog deu uma pausa abrupta, mas é por uma boa causa. Por esses dias, vou voltar com muita informação acumulada que está só aguardando uma confirmação. Aguardem que vai ser quente! Por enquanto, um post coringa sobre choque cultural.

Choque Cultural descreve a montanha russa emocional e psicólogica que adultos vivenciam quando se mudam para outros países. É um período de socialização cultural que se diferencia do processo de assimilação cultural pelo qual as crianças passam.
Este fenômeno afeta cidadãos comuns, estrelas do esporte, professores de línguas, empresários e suas famílias. Qualquer pessoa que se muda para um outro país experimenta algum tipo de choque cultural logo após as primeiras semanas no novo ambiente.
O choque cultural é sentido como uma falta de direção, um sentimento de não saber o que fazer ou como fazer, o que é apropriado ou não. Há confusão quanto aos limites culturais. Manifesta-se também, ainda que em menor grau, em mudanças de cidades, estados ou províncias de um mesmo país. É tão mais intenso quanto mais diferentes forem as culturas.
Reconhecer e não negar o choque cultural é crucial para lidar com o problema e minimizar o risco de desilusão com o novo país e de uma volta prematura para casa.

Sintomas
  • Tristeza, solidão e melancolia;
  • Mudanc,as de humor, depressao, sentimento de impotencia;
  • Raiva, irritação, resentimento, falta de motivação para interagir com os outros.
  • Sentimento de estar perdido, de estar sendo ignorado, explorado ou abusado;
  • Medo excessivo de ser roubado ou passado pra trás.
  • Problemas de saúde: dores, alergias, problemas de digestão e intestinais;
  • Sono excessivo ou insuficiente;
  • Insônia.
  • Comportamento obsessivo/paranóico com limpeza, segurança etc;
  • Medo de tocar os nativos.
  • Perda de identidade;
  • Falta de confiança;
  • Sentimento de inadequação ou insegurança;
  • Incapacidade de resolver problemas simples.
  • Identificação excessiva com a própria cultura;
  • Idealização do antigo país.
  • Esforços exagerados de absorver tudo na nova cultura.
  • Esteriotipação e ridicularização da nova cultura e povo;
  • Críticas injustas à nova cultura e povo;
  • Reclamações constantes sobre o clima.
  • Desculpas para ficar em casa;
  • Recusa em aprender a língua local e em interagir com os nativos.
  • Saudade excessiva da família;
  • Idéia fixa de voltar pra casa;
  • Atividades exclusivas com conterrâneos;
  • Vida em gueto.


Estágios do Choque Cultural

Os especialistas concordam que o choque cultural tem fases e que uma vez superados os estágios iniciais mais difíceis, a vida no novo país se torna muito melhor.
Cada pessoa reage de maneira individual dependendo da personalidade, maturidade, experiências anteriores, condições sócio-econômicas, nível de instrução, conhecimento do idioma, apoio familiar e social e apego pessoal às coisas, às pessoas e ao passado.
Nem todo mundo passa por todas as fases ou permanece tempo suficiente no novo país para passar por todas elas:

1. Lua de Mel

Durante este período inicial, as diferenças entre as culturas antiga e nova sao romanceadas. Tudo é lindo e novo. A nova cultura é exótica e fascinante. Ao se mudar para um novo país, o indivíduo é inundado por novas impressões e sensações e "adora" as novas comidas, o rítmo diferente das coisas, os hábitos das pessoas, as roupas típicas, os prédios, os monumentos etc. É a fase divertida, excitante e aventureira de conhecer novas pessoas e lugares, e de cogitar novas oportunidades.

2. Negociação

Após algum tempo, geralmente algumas semanas, as diferenças entre as duas culturas se tornam evidentes e começam a criar ansiedade e frustração. Bate saudade da comida preparada no país de origem. O rítmo das coisas fica muito rápido ou muito devagar. O comportamento diferente e imprevisível das pessoas irrita. Alguns hábitos diferentes incomodam ou causam nojo. Esta fase é marcada por mudanças de humor causadas por pequenas coisas ou mesmo sem razao aparente. A depressao nao é incomum.
Pequenas crises se tornam frequentes, quase diárias, são agravadas por problemas de comunicação tanto para entender quanto para ser entendido e geram sentimentos de descontentamento, impaciência, raiva, tristeza, incompetência e impotência.
A transição entre as práticas e os métodos antigos e os novos é um processo difícil e toma tempo para ser concluído. E quanto maior a diferença entre as culturas, mais longo e intenso este processo se torna.
A tentação é considerar os diferentes costumes ruins ou tolos. O estrangeiro começa a criticar e a ridicularizar (apelidos e piadas) ou mesmo mostrar animosidade em relação aos habitantes da nova terra.

Como lidar com o Choque Cultural

O choque cultural pode ser uma oportunidade de redefinição dos nossos objetivos de vida. E exatamente os desconfortos e estranhamentos podem revelar facetas desconhecidas de nossa personalidade, estimular e desabrochar áreas potenciais ou adormecidas do nosso ser. Um novo ambiente pode ser terreno fértil para atitudes ousadas, criativas e surpreendentes!
A maioria dos indivíduos e das famílias que mudam de país têm a habilidade de confrontar de maneira positiva os novos obstáculos.
Permita-se sentir triste pelo que ficou para trás: família, amigos, situações, lugares, prazeres. Reconheça e viva o luto destas perdas.
Crie logo uma rede de apoio no novo país: conterrâneos e nativos. Nao é preciso gostar de todo mundo na nova terra.
Aceite o novo país. Concentre sua energia em superar a transicão.
Mantenha contato com a nova cultura. Aprenda a língua local. Participe de alguma atividade cultural, esportiva ou social em que possa praticar os novos conhecimentos.
Concentre-se no que pode controlar. Não desperdice energia em coisas que não pode mudar ou em problemas menores.
Encare os grandes problemas de frente, com convicção. Nao os evite.
Inclua alguma forma de atividade física regular (caminhada, natação, academia etc) na sua rotina. Relaxamento e meditação (yoga) são muito indicados para quem está passando por períodos de stress.
Cultive um hobby.
Seja paciente, o processo de adaptação a outro país pode durar meses mesmo.
Estabeleça pequenas metas realistas e vá avaliando o seu progresso.
Quando for invevitável, encontre maneiras de conviver com coisas e situações que não te agradam 100%.
Evite se colocar novamente em situações que foram desfavorá­veis uma primeira vez. · Deixe para insistir depois que se sentir mais adaptado.
Não se esforce demais. Seja gentil consigo mesmo.
Mantenha a confiança em você mesmo e focado nos seus planos.
Registre seus pensamentos, frustrações e sentimentos.
Procure ajuda. Há sempre alguém disponível, amigo ou profissional.
Algumas pessoas são incapazes de aceitar a nova cultura e se integrar. Elas se isolam no novo ambiente que consideram hostil se recolhendo em guetos. Consideram a volta prá casa a única saída. Costumam também ter mais problemas de reintegração quando retornam ao país de origem. Aproximadamente 60% das pessoas se comporta assim.
Algumas pessoas se integram totalmente e incorporam praticamente todos aos aspectos da cultura hospedeira, deixando inclusive sua identidade cultural original para trás. Normalmente permanecem no novo país em definitivo e mesmo quando retornam não se readaptam. Cerca de 10% se encaixam neste grupo.
E, finalmente, há aqueles que conseguem se adaptar aos desafios da nova cultura. Absorvem os aspectos que consideram positivos, mas mantêm jeitos do próprio país, criando sua mistura cultural original. Não costumam ter maiores problemas na volta ou de recolocação a outro país. Uns 30% se encaixam neste grupo de cosmopolitas.

3. Adaptação

Assim, depois de certo tempo (de alguns meses a um ano), acostuma-se com a nova cultura e cria-se uma nova rotina. Agora já se sabe o que esperar da maioria das situações e o país adotado não mais parece tão novo assim. Esta terceira fase é caracterizada por um entendimento e um sentimento mais profundo da nova cultura e suas motivações. Aceita-se melhor o comportamento das pessoas e diminui o sentimento de isolamento, aumentando a integração e a confiança em lidar com a nova cultura.
Uma nova sensação de prazer e senso de humor levam ao equilibrio psicológico. O novato não mais se sente tão perdido e começa a ter um senso de direção. Agora quer fazer parte do ambiente e se sente mais em casa. Inicia-se um processo de avaliação dos velhos hábitos e jeitos em contraposição aos novos, récem-adquiridos. A pessoa racionaliza e sente que a nova cultura tem coisas boas e ruins para oferecer, se sente bem no novo ambiente e até mesmo prefere alguns aspectos culturais e comportamentos novos que adota como seus.
Os desafios comuns da vida voltam a ser prioritários e as coisas voltam a ser mais normais. O indivíduo começa a estabelecer novas metas de vida e se sente em casa.

4. Contra-choque Cultural

Voltar prá casa depois de se adaptar a outro país pode causar os mesmos sintomas e efeitos descritos acima. E será uma surpresa para muitos. As coisas já não serão as mesmas, os familiares e amigos terão levado suas vidas adiante, nada ficou como era esperado na nossa volta... E a gente se dá conta de quanto mudou também, de que incorporou novos hábitos mesmo sem sentir. E agora sente outra saudade!

5 comentários:

  1. Otimo post. E muito esclarecedor tambem.Não são apenas dicas, mas um verdadeiro manual....
    Gostei muito mesmo da parte em que vc fala dos guetos.
    Parabens!!!

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  2. Ola Alexei,

    Gostaria de conhecer um pouco mais sobre Quebec,
    se possivel podemos conversar por email?
    fpllm@msn.com

    Abraço
    Fernando

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  3. Excelent post. Dá para ter uma idéia clara do que esperar e já se prevenir! Obrigada pela pesquisa e por conseguir resumir os receios e choques que teremos nos primeiros meses.

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  4. Estou sentindo isso na pele. Me mudei para a África do Sul com meu marido há um mês e meio mais ou menos e tenho sentido todos esses sintomas. O mais difícil é saber como lidar, o que fazer...às vezes parece que nunca vai passar...

    Mas estar em contato com uma nova cultura é sempre uma oportunidade enriquecedora e é por esse lado que tento olhar sempre que fico triste.

    Obrigada pelo post...muito bom mesmo!

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