sábado, 30 de janeiro de 2010

Frente fria do Ceará


Frette

Chegou por essas bandas uma frente fria que veio do sul. Acho que veio do Ceará. A temperatura agora caiu... caiu não. Despencou. Vai passar uns dias assim, mas me disseram que não fica muito tempo nesse patamar.
A noite de anteontem para ontem teve muito vento e neve. Os monstrinhos (caminhões) de déneigement/remoção de neve passaram a noite e madrugada raspando a neve do asfalto para a lateral da pista e soltando sal e areia. O sal baixa o ponto de fusão da água e faz com que a neve da pista derreta. E a areia aumenta o atrito e diminui a patinação dos carros. É por isso que a neve e o gelo ficam marrons, dando um aspecto de sujeira.
Pois bem. A manhã de ontem foi diferente. Fui fazer uma tarefa doméstica que não fazia desde quando saí do Ceará: déneigement da escada de entrada e da varanda de trás do apartamento. A pá é imensa, mas a neve não pesa muito. Moleza! Fiquei com dúvidas em relação a onde derrubar aquela montanha de neve porque tinha uns carros perto das varandas. É porque sempre a relacionamos com a areia, que é o mais próximo que conhecemos. Mas quando a neve caia, o vento a espalhava muito. Matuto é matuto.
Fazia -16 graus com sensação térmica de -24 graus, mas como diz o leitor César: ... e a vida continua.
O porém é que como eu tinha feito algum esforço físico, meus pés suaram e ficaram frios.
Ao fim do trabalho, criei coragem e fui conhecer a Canadian Tire e comprar umas roupas nos 3 shoppings de Sainte-Foy que ficam a uns 200 metros de lá. A diferença para se viver com esse patamar de frio é que temos que turbinar o kit de inverno e/ou passar menos tempo na rua.
No meu caso, o máximo do kit de inverno foi o seguinte: Secar bem os pés e entupi-los de talco. Usar as meias de lã de esportes de inverno e as sintéticas por cima (lembrando: Algodão não!); Sous-vêtement/ceroulas por baixo da calça jeans, camiseta de mangas curtas são suficientes, suéter ou blusão grosso por cima e o super manteau/casaco como terceira camada; Gans/luvas de tecido (opcionais) com luvas grossas impermeáveis por cima; Cachecol no pescoço e gorro de malandro na cabeça (aqui todo mundo é malandro) com o capuz do super casaco, de preferência ajustado para ficar mais fechado.
Com esse aparato, pude enfrentar além do frio extremo, as rafales/rajadas de vento de 55Km/h. O magro véio aqui só não saiu voando porque tinha colocado umas pedras de calçamento na mochila!
A Canadian Tire, apesar do nome, tem de tudo. É imenso e tão variado que não vale nem a pena eu tentar descrever.
Dois quarteiõezinhos da parada até lá, depois dois quarteirõezinhos até o shopping, depois atravessar a boulevard (avenida que tem canteiro central) até a parada é tranquilo com este frio. Principalmente porque essa parada de volta para casa é uma das poucas que são aquecidas ;).
Hoje, amanheci com espírito aventureiro extremo. Nem me reconheço, pois era muito medroso para esse tipo de aventura. Hoje, apesar do "solzão" que apareceu, fazia -20 graus com sensação térmica de -34 graus!!! Pancada! Um dia perfeito para ficar deitado na caminha quente, não é? Mais meu lema agora é: Faça chuva congelante, faça sol polar, eu estou na rua. Resolvi ver os eletrodomésticos que um cara anunciou. Geladeira, fogão (os fogões daqui são elétricos e não a gás), lavadoura e secadoura por 800$ tudo. Somando os novos, daria uns 2500$ a 3000$. E no final das contas, estão pouco usados, em bom estado e o cara ainda vem deixar em casa! Evitou a dor de cabeça de eu ter que alugar uma caminhonete para dirigir pela primeira vez na neve, e conseguir gente para fazer musculação.
Pois bem, fui no Trajecto, a ferramenta da companhia de transportes daqui para ver o... trajeto! Anotei o esquema cujo percurso era mais simples e curto e quando vi o horário, faltavam só 6 minutos. Se não pegasse esse metrobus, o próximo me faria esperar muito mais que 11 minutos para pegar o seguinte. E como estava frio para burro (depois vão perceber que o burro era eu), sai às carreiras. Peguei o ônibus bem na hora e fiz a "conexão" na boa.
Até então, estava funcionando o lance de pedir para o motorista me indicar onde fica a parada certa. É assim que fazem aqui. Desci onde ele me disse e procurei a rua de referência. Nada. Nem para lá, nem para cá. Derrepente me vi sem saber onde estava, sem saber para onde tinha que ir, e a -34 graus. Sem panico! Pense! Eu conhecia a linha que voltava pelo mesmo caminho, logo, poderia desistir e voltar para casa. Não!!! Sou brasileiro e não desisto nunca! Teimooosso! Primeiro de tudo, entrei na loja de conveniência do posto para ver o que pudia fazer em um local aquecido. Lá, ninguém achava as ruas nem no mapa, nem na lista. Até que uma mulher que estava fazendo compras disse que ficava para lá, e que tinha que pegar o ônibus. Sabendo que ficava para frente, finalmente achei no GPS do celular enquanto esperava o ônibus. Até que percebi que essa linha não era muito badalada e que em um dia de sábado, poderia esperar algo como uma hora. Liguei para o cara para avisar do que tinha acontecido, já que aqui os atrasos são mal vistos e decidi ir andando. Andar esquenta e ficar parado esfria. Foi só uma caminhadazinha de uns 2Km no frio polar! Fiz uma parada em um restaurante para me aquecer, aproveitar o banheiro e tome rua novamente. Boa dica essa da parada para aquecimento. Cheguei na casona do cara e valeu a pena. Ele me deu carona de volta e ainda vai deixar os eletrodomésticos no meu apartamento.
Enfim: Dá para encarar o frio, reforçando o kit de inverno e passando pouco tempo na rua. Mas se quiser aproveitar o carnaval daqui por horas, tem kits mais potentes. Existe, por exemplo, uns saquinhos com areia térmica que quando abertos e chaqualhados, dão até 12 horas de aquecimentos dentro das luvas e botas. E existem outros materiais e roupas para para praticar esportes de inverno nessa temperatura e durante horas a fio.
Tá bom! Já escrevi demais para um post! Até.

2 comentários:

  1. Menino, você resolveu pegar o frio do país todinho pra você. Hehehehehe. Se eu mostrasse os seus posts pros que acham que sou louco, aí é que eles me internavam mesmo.

    E a vida segue...

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  2. Será que eles acham ou sabem que somos loucos? Realmente esse negócio de imigração é uma loucura, só que nunca fui normal mesmo!
    Mesmo assim, não me arrependo nem um segundo.

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