domingo, 14 de outubro de 2012

Quebec speaks french


E vamos nós a mais um assunto polêmico, mas inevitável para quem vive no Québec: a defesa do francês.

Como vocês sabem, o Québec tem como idioma oficial o francês. Existem estudos que dizem que o francês no Québec está em declínio e até mesmo ameaçado de extinção daqui a algum tempo. Há algumas décadas atrás, os québécois que não falavam inglês ficavam excluidos de alguns serviços que não eram disponibilizados em francês.

Não precisamos nem regredir no tempo. Nos dias de hoje mesmo, ouço queixas de alguns imigrantes que disseram que quando fizeram o landing em Toronto, não tinha ninguém que falasse nem um mínimo de francês no setor de imigração. Eu cheguei aqui falando inglês bem melhor que francês, mas fiquei incomodado, por exemplo, com o atendimento da Fedex. Ele me dava a opção de serviço em francês digitando 2. Eu fazia isso e continuava tudo em inglês. Eu desligava e tentava novamente só para confirmar e sempre continuava em inglês. Até aí, nada demais para quem tem paciência suficiente para criar dois filhos. Mas quando a mulher ia confirmar meu endereço, tentava mas não conseguia pronunciar o nome da rua nem em inglês. Daí...
(soletrando rápido em inglês) bi, i, el, vi, i, di, i, ar, i -> b, e, l, v, e, d, e, r, e -> Belvédère ahhhh!!! Sim é essa avenida mesmo!
Certo, começa a ficar chato. Mas então, ela teve que dizer o endereço da Fedex em Québec para eu ir pegar a encomenda e lá vai soletrar o outro endereço! Pode ter sido azar, mas não foi o único caso que não tive a opção do francês.

E nessas situações, eu penso na pessoa que mora no lugar onde nasceu e que não sabe o que aconteceu com a sua encomenda porque a empresa que tem atuação aqui não falava o idioma oficial do local. Essa pessoa deveria falar inglês, visto que é o idioma falado pela grande maioria dos 33 milhões de canadenses, pelos 314 milhões de estadunidenses vizinhos e pelo resto do mundo que o considera como o idioma mais universal? No meu ponto de vista, sim. Mas não recrimino quem pensa que não deve ser obrigado a aprender outro idioma estando "em casa".

Por uma questão de respeito a cerca de um quarto da população canadense, a esfera federal é totalmente bilíngue (ou deveria ser). E em defesa do cidadão québécois,  o governo do Québec instituiu a lei 101 ou Charte de la langue française pelo primeiro governo do PQ em 1977. Existe até o Office québécois de la langue française (OQLF) para fiscalizar o cumprimento dessa lei, dentre outras atribuições.


Vendo por esse lado, tudo bem. Mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto, tem horas que isso vira exagero.

-Ei! Por que trocaram o meu teclado?
-Trocaram TODOS os teclados da empresa!
-Por que?
-L'Orifice de la langue française!! (trocadilho de ofício com orifício)
-Não entendi! O que tem a ver um com o outro?
-Teclado em francês!
-Mas eu já usava o layout Canada français no antigo teclado.
-Não é o layout. É o teclado mesmo! As teclas enter, esc, del, alt, ...
-Estás brincando, né? Trocar todos os mais de 300 teclados por causa de umas abreviaçõezinhas que ninguém nem lê?!?!?!
-Não é brincadeira. É para ficar conforme.
Quack!!!!!!

Depois veio o comunicado de que a empresa estava seguindo os procedimentos para tirar o certificado e assim ter direito a participar de concorrências do governo e para ter reduções fiscais. Por isso, tinhamos que colocar em francês primeiro a assinatura dos emails, a mensagem de voz do telefone, todos os avisos, etc. porque haveria uma fiscalização. O fiscal conversaria com algumas pessoas e poderia até mesmo pedir para mostrar emails para ver se o funcionário estava escrevendo em francês.

Eu achei um pouco passando dos limites, visto que trabalhamos em uma empresa mundial e só a minha equipe, como exemplo, se relaciona com muita gente dos EUA, Hungria, Ucrânia e Polônia. Outra coisa ridícula é a notícia que OQLF está querendo forçar empresas como Best Buy, Costco, the Gap, Old Navy, Guess e Walmart a usarem também um nome francês. Pôxa! São nomes próprios! Se continuarem assim, vão querer que o nome inglês de mulher Stephanie vire nome francês de homem Stéphane!!!

Fazendo a ponte com a postagem do separatismo e a da volta ao poder do PQ, agora a ministra da educação da titia Pauline Barroada está falando em reduzir o ensino de inglês e aumentar o de história. A ministra diz em sua defesa que é em nome da prudência na adoção do inglês intensivo na sexta série e que deve começar o inglês normal na segunda série ao invés de na primeira para não atrapalhar o francês. Também, ensinar história do Québec é importante. A meu ver e conhecendo as ideias do PQ, vou com a oposição que acha que ela quer na verdade é reduzir o ensino de inglês em defesa do francês (que não são necessariamente opostos) e introduzir conteúdo ideológico de separatismo no ensino. Teoricamente, os profissionais de educação que deveriam ditar o conteúdo didático, mas a ministra fala sim no conteúdo que ela acha relevante. Eu me estressei com essa do PQ(ou PQP?), mas um amigo já me acalmou dizendo que para mudar isso, tem que mudar a lei e a oposição não vai deixar.

Como disse, não tenho nenhum medo de que o Québec se separe. Mas me incomoda o radicalismo e a desordem que vão causar na tentativa. Um dos motivos de termos vindo para o Québec é porque gostamos de francês. Mas não nos tirem o direito de aprender e falar inglês impondo o francês!

4 comentários:

  1. E foi exatamente por isso que alguns restaurantes como o REd lobster e o Swiss Chalet fecharam em Quebec, pois se recusaram a adotar o nome frances.

    Acho tudo isso uma grande palhacada, porque pra eles sao dois pesos e duas medidas, maltratam os anglofonicos aqui mas vao la pra BC e querem forcar os caras a falarem frances... Acho o frances importante com certeza, e gostaria muito que meus filhos estudem em escolas francesas, porem se esses ideias bestas comecarem a ser passados na escola, nao me importo nem um pouco em criar filhos puramente anglofonicos (nao falo frances) mandando para escolas particulares, educando em casa, qualquer coisa... :)

    E se um dia Quebec se separar com certeza nos mudamos para a provincia anglofonica mais proxima, afinal eu imigrei para o Canada, apenas escolhi Quebec como residencia...

    Voce nao acha que seria muito mais facil unir do que separar?!

    Abracos

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    1. Sim, concordo. Os québécois das gerações mais recentes viveram menos conflitos e tendem a querer se unir. A união soma e a separação enfraquece.

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  2. Aff, até o teclado é absurdo!!!!!
    Rapaz a coisa tá ficando cada vez mais absurda, vamos ver no q dará com essa mulher no poder agora.

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  3. eu sou a favor do Canada unido e do Québec francofono.
    a defesa da lingua realmente tem fundamento historico. E o QC é oficialmente francofono, a unica provincia oficialmente bilingue é NB.

    vamos ver o que o futuro nos reserva ....

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