sábado, 24 de abril de 2010

Decom? Me venderam o Canadá como sendo o céu...

Há um bom tempo venho me incomodando com um cearense, cabeça chata, comedor de rapadura que está fazendo propaganda enganosa do Canadá. Ele só mostra o lado bom como se o Canadá fosse o céu, perfeito e impecável. Só um doido não viria morar aqui! Resolvi ligar para o Decom porque o produto não é como ele me vendeu.
Pois bem, tendo me dado conta da responsabilidade que é fazer uma imagem daqui para que outros possam tomar uma decisão tão importante e impactante, resolvi equilibrar a balança e mostrar também problemas e desvantagens que eu vejo aqui. Como sempre, tudo é muito subjetivo. O que é grave para um, é despresível para outro e vice-versa. E até a mesma pessoa muda de critérios de acordo com a sua fase da vida, por exemplo, depois que nasce o primeiro filho. Vale observar é que alguns pontos como a garderie/creche são particulares ao Québec, enquanto outros podem ser generalizados para o Canadá todo. Mas as outras cidades e províncias também tem seus pontos negativos que não estou relatando aqui, principalmente as mais populosas.
Hoje é um bom dia para escrever esse post porque uma das dificuldades daqui resolveu nos pregar uma peça: a garderie. É realmente difícil de encontrar vagas nas garderies de Québec e, pelo que leio, do Québec (incluindo Montréal). Existem delas que são subsidiadas diretamente pelo governo provincial e que custam só 7$/dia. Conversando com québécoises (e já fazendo amizades), ouço estórias de colocar o nome na lista de espera enquanto o bebê ainda está na barriga e também de esperar até dois anos para ser chamado para a mais próxima de casa.
Descobrimos que tem pré-maternal a partir de certa idade e antes dos 6 anos, que é a idade para começar na escola (se não me engano). Porém, a única que tinha vaga antes do começo do ano letivo (setembro) custa somente a bagatela de 800$/mês! É um aluguel de apartamento, ou comprar um carro 0Km financiado em somente 18 meses. No meio termo, temos as garderies não subsidiadas, normalmente en milieu familial/em meio familiar, resumindo: uma casa com até seis crianças. Tem de 25 a 30$/dia, que dá uns 660$/mês e pasmem: se tiver a sorte de pegar uma com vaga e não fechar logo, rapidinho ela é ocupada. A Mônica recebeu hoje a confirmação do curso de francisação começando em maio e as duas vagas que encontramos já sumiram.
Quase sempre o que tem para alugar são apartamentos. E dificilmente eles são en béton/de concreto. O mais comum é ser quase todo de madeira, tendo uma camada fina de tijolos vermelhos por fora para proteger e talvez um esqueleto estrutural de concreto. Daí, ouvimos os passos do vizinho de cima, ou o trotar dos potrinhos cheios de energia como o Davi. Coitado do nosso vizinho do sub-solo! Não sei como ainda não chamou a polícia (ela é usada para resolver problemas de barulho entre vizinhos também). Outro fator é que de tempos em tempos vemos no noticiário canadense um incêndio. Por causa disso, existe um tipo de doido a mais aqui: o piromaníaco. O piro não é relacionado a pirar, nem outra coisa que vocês possam imaginar. Vem de piros, ou fogo. Isso! O cara vem com um coquetel Molotov e floft! (nem sei de onde tirei essa onomatopéia) Lá se vai um condomínio inteiro.
Não sei se é o ar seco, o frio ou os dois, mas é comum ver pessoas tossindo e pigarreando (o bichinho do ram, ram pegou você...), mesmo não estando gripadas com com *.nite (rinite, faringite, laringite, etc.). Até na televisão às vezes acontece de fazerem o ram, ram, pedirem desculpas e continuarem. Depois de ajustar a humidade para 40%, quase não temos mais isso.
Vais sair do Brasil porque não aguenta (viva o fim do trema) a corrupção na política? Aqui tem também! É inerente ao poder e à fraqueza humana. O primeiro ministro do Québec está levando porrada porque nomeou um juiz que financiou a sua campanha eleitoral, existe uma denúncia de favorecimento de empresas de informática que prestam serviço para o governo e um parlamentar federal está sendo acusado de ser lobista que trabalha apenas para algumas empresas ao invés de defender os interesses do povo. E olhe que ainda não consigo ficar antenado por que não escuto a televisão quando a meninada está por perto. Lembra do chão de madeira? Pocotó, pocotó, pocotó...
Até na nossa pacatíssima cidade de zero ou um homicídio por ano tem furtos. Roubaram a bicicleta de uma brasileira que estava presa com uma corrente (a bicicleta! Não a brasileira!). Infração de transito? Tem sim senhor! Bem menos, é claro, mas a galera faz umas gambiarrazinhas também. E não é imigrante não! Conta o conterraneo Carlos Germano (ou Carlos Last) que em Ottawa, se alguém infringe a lei no transito, podes ver que a placa é do Québec. Hum...bem...er... Porém, é raro ver coisas mais graves como avanço de sinal vermelho. Mas agora que o inverno se foi, quase toda semana vejo o carro da polícia parando infratores. Ahh! Acabou a moleza, não é!
E adolescente é adolescente no mundo todo. O parquinho infantil aqui perto é usado pela galera da escola secundária que fica a um quarteirão para baderna na hora do almoço. Eles brincam nos briquedos que não apropriados para o peso deles e o chão fica um lixo!
O que mais...? Não preciso dizer que o frio do inverno congela até a alma. E por causa da areia que jogam nas ruas para dar mais aderencia por causa da neve e do gelo, a cidade fica marrom de lama. Vais lavar o carro a -20 graus? E os tapetes com lama? Só agora é que estão lavando as ruas e calçadas. Ao menos fazem isso.
Ahh!!! Também, vendedor é vendedor em todo lugar do mundo. Se bobear, os caras te pegam. E mentem também, mesmo sendo de forma sutil, dissimulada ou por omissão.
E, embora não tenhamos precisado usar ainda e não podermos falar por experiência própria, o sistema de saúde daqui (instituições privadas e plano de saúde do governo) é melhor que o sistema público do Brasil, mas pior que o sistema privado. E não tem escolha. O rico e o pobre pegam a mesma fila e esperam até horas para serem atendidos.Não se pode dizer que não é democrático. Ao menos existe uma triagem por grau de urgência. Dizem que os hospitais tem muita estrutura e poucos profissionais de saúde. O lance é levar uma vida saudável para prevenir e ir escalonando de acordo com o caso: farmaceuticos, clínicas e por último os hospitais. Alguns procedimentos podem ter uma espera de alguns meses.
Tá bom, né? E olhem que nem falei dos problemas relacionados à nossa condição de imigrantes aqui porque eles vão desaparecendo com o tempo. Também, se não tivesse defeitos, não se chamaria Canadá e sim paraiso celestial! Mas mesmo com esses e outros defeitos, me sinto como tendo nascido para morar aqui.

6 comentários:

  1. Oi Alexei, tudo bom?
    Sou leitora fiel do seu blog desde o começo do ano..rs
    Vi que você começou a estudar francês no meio do ano passado certo? Ou você já sabia um pouco?
    Pelos seus post parece que você tá se virando super bem com o idioma... Qq dia faz um post sobre isso, contando como está sendo sua adaptação ao francês quebecois =)
    Ahh, ótimo o jeito que você coloca alguns vocabulários em francês/português. Estou aprendendo muitas palavras novas.
    Abraços,
    Patrícia

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  2. É isso aí amigo, não há um paraíso...
    Força para encarar todas estas dificuldades, também temos um bebe e estamos muito preocupados com esta questão das creches, o que poderemos fazer desde já é se inscrever?
    Obrigada
    Milene (milene_fm@yahoo.com.br)

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  3. Como eu costumo dizer o problema do Brasil não é a corrupção, a criminalidade, etc. E sim a impunidade. E nesse ponto se não é perfeito, pelo menos melhor que o Brasil o Canadá é.

    E a vida segue...

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  4. Esse é o tipo de consciência que todo imigrante deve ter. De início só se observa as vantagens, e à medida que se vai vivenciando as situações incômodas, as chateações é que se pode de fato pesar se vale a pena ou não. Eu acredito que vale a pena sim, pois com todas essas dificuldades que você possa encontrar nesse novo estilo de vida, mesmo assim o salto na qualidade de vida que você obteve é quase imensurável. É como você disse, se fosse perfeito, seria o paraíso celestial!
    Boa sorte, não vejo a hora de conhecer as outras estações do ano em Québec.

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  5. Pat: Vou escrever um post sobre isso.
    Milene: Sim. O lance é se inscrever cedo: www.bila.ca.
    César: Tens razão.
    Alessandra: Só contei os pontos negativos para ficar de bem com a consciência. Já tem umas flores colorindo os jardins. E já começaram a plantar pra valer. Vamos cobrir todas as estações.

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  6. Oi Alexei, encontrei a Mônica no orkut da Priscila Portugal e fiquei muito feliz por essa nova etapa em suas vidas. Esse foi o 1º post que eu li, ri muito. 'Homi' num vá procurar o Decom por essas besteirinhas, não. kkk
    Beijos prá Mônica e crianças

    Um abraço
    Maria Erli

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