sábado, 10 de abril de 2010

Quebrando mitos




Apesar de não ser exatamente a tradução, quando vejo esse título, só lembro da música do Peter Frampton que diz: "...and we're breaking all the rules...". E por coincidência, procurei no no Youtube para ouvi-la e vi este vídeo que achei relacionado com o post.
Antes, durante e depois de cruzar a linha do Equador, vivemos em contato com outros imigrantes, atuais ou futuros. E com isso, acabamos absorvendo muita informação valiosa, mas também nos prendendo a mitos. Tem uma frase que eu acho muito boa para abrir a mente: "Não sabia que era impossível, foi lá e fez. Logo, o impossível só existe na nossa mente". Não sei se é mania minha de fugir do convencional, mas muita coisa saiu dos padrões nessa imigração. Nisso, acabei quebrando alguns mitos. Vejamos:
1. Quem faz o processo federal não pode ir para o Québec / Muitas coisas no Québec só são feitas com o C.S.Q.
Essa me deu muito trabalho desde quando seguiamos o processo, pois esses casos são raros e não tinhamos muita informação. As próprias pessoas que trabalham na imigração me disseram que eu não poderia (vejam esse post).
No final da estória, a única diferença é que quem não tem o C.S.Q. paga os cursos pós-secundários como alguém de outra província durante o primeiro ano de moradia, mas não como extrangeiro.

2. Rapaz! Você é doido! Como é que você vai morar em uma cidade fria como aquela! Passei uns dias lá e te digo: você não vai detestar. / Como é que você sai de uma terra quentinha como o Brasil para vir morar aqui? Aqui só tem neve e gelo! Não foi uma boa escolha.

Que é bem frio no inverno, é mesmo. Tem muita gente que vai até se arrepender de ter vindo. Realmente, acho que quem puder deveria vir primeiro para sentir -34 graus de sensação térmica, porque ela deixa os pés, mãos e rosto dormentes e doloridos.
Mas...tirei de letra. Passava era horas andando sem rumo definido conhecendo a cidade. Até me perdi e tive que andar 2 quilômetros no dia mais frio do inverno, mas não deixei de sair de casa para fazer uma aventura. E brincar com a neve e patinar no gelo é muito divertido. A Lara que o diga!
A foto abaixo foi tirada com zero graus e ainda passamos 5 minutos do lado de fora.
Aviso: Não tentem fazer isso em casa. Os integrantes dessa foto são profissionais treinados para isso. Ninguém foi ferido durante a execução desse espetáculo.


3. Quem não tem o histórico de crédito não pode alugar um apartamento / ... só pode alugar com um fiador canadense / ... tem que deixar cheques de garantia para X meses / ... tem que lutar muito para achar alguém que se disponha a correr o risco de alugar.
No primeiro apartamento que tentei alugar, a mulher da imobiliária disse que todas as imobiliárias exigiriam um fiador canadense. Depois amenizou dizendo que poderiam existir algumas imobiliárias pequenas que trabalham com umas áreas mais pobres da cidade que aceitassem. Revejam neste post.
Porém, simpatizei muito como apartamento onde moramos, que foi a segunda tentativa, e não colocaram nenhuma dificuldade. E olhe que fica somente a uns 500 metros do primeiro, na mesma área nobre da cidade.

4. Sem histórico de crédito, não podemos comprar um carro financiado.
A primeira concessionária que eu contactei por telefone me disse que ninguém faria financiamento sem histórico, somente com fiador. Devia ter copiado e colado esse trecho do texto do aluguel do apartamento!
Na segunda concessionária também da Kia, eu paguei só 3.000$ e financiei 11.000$ em dois anos e com juros de 0%. E aqui vendem carros com juros de 0% durante até 5 anos!
Talvez o fato de eu ter um emprego tenha mudado a situação. E eles dividiram o valor do aluguel do apartamento por dois adultos (eu e a Mônica), para avaliarem o comprometimento do orçamento em relação ao salário e isso pesou positivamente também para o nosso caso. Detalhes neste post.

 5. Sem a carteira de motorista do Québec, não podemos comprar um carro / ... não podemos fazer o seguro que é obrigatório para licenciar o carro / ... faz com que o preço do seguro do carro fique proibitivo.
Meias verdades. Pelo que entendi, o Desjardins faz o seguro do mesmo preço para quem tem só a carteira de motorista brasileira, mas não tenho certeza. E, pelo visto, realmente o carro só pode ser licenciado se tiver um número de carteira de motorista do Québec. Acho que é assim porque a placa é associada ao dono e não ao carro. Quando trocamos de carro, a placa é mudada para o carro novo.
Por outro lado, ainda não fiz o exame prático, não tenho a carteira "de verdade" e já tenho carro em situação totalmente legalizada. O lance é que fiz o exame teórico e este já nos dá na hora uma carteira de aprendiz, provisória e de papel, mas que tem o número que é o importante. A receita está neste post.

6. Os empregadores canadenses exigem uma experiência canadense / não se consegue emprego no Canadá estando ainda no Brasil.
Posso estar enganado e não dá para generalizar, mas fica parecendo que essa estória de você não tem experiência canadense é uma forma de dizer que o candidado é equivalente aos outros, só que os outros são canadenses, se comunicam bem e já sabem como tudo funciona. Porque então quebrar a cabeça com alguém que acabou de chegar?
Depois que vi o caso de um cara que recebeu cinco convites de entrevista, escolheu os melhores e no dia seguinte já estava contratado, percebi que existem casos e casos. Ele me mandou o currículo para eu ver como era a forma, mas o conteúdo é que era o valioso. Só um doido não o contrataria! Isso me fez tirar duas certificações Java para melhorar minha empregabilidade. Antes de tirar a terceira, o "acaso" bateu na porta e quando percebi, estava mandando o contrato assinado via Fedex para a empresa. Contei o caso neste post.

Pegando o gancho dessa última quebra de mito, quero deixar bem claro que muito do que contei aqui é exceção e não quero alimentar a esperança de vocês em cima de coisas que possivelmente não vão acontecer. Às vezes me sinto fazendo propaganda enganosa, por isso o aviso. Tenham os pés no chão porque são eles que nos fazem andar e chegar onde queremos. Por outro lado, o que quero provar é que nem todo caminho improvável é impossível.
Muita gente me pergunta como é que eu fiz para conseguir isso ou aquilo, principalmente o emprego. Bem... a explicação que tenho é que não sou eu. Deus é que faz esses milagres. Por exemplo: quase não procurei apartamentos; consegui uma vaga de desistência para antecipar o exame teórico para o dia seguinte e que seria só meio mês depois; a primeira concessionária me deu um não e a outra da mesma marca aceitou e fiz as duas entrevistas que totalizaram mais de uma hora falando um francês terrível, podendo ter me expressado bem melhor em inglês. Ou seja, teve muito "acaso" e, por vezes, só o que fiz foi atrapalhar.
"Acaso é um dos pseudônimos que Deus usa para assinar suas obras". Foi o que um amigo meu me disse assim do nada, por "acaso".

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